Retração econômica chega à Páscoa dos gaúchos

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Consumidores continuam com interesse na data, mas estão mais cautelosos e seletivos na compra de presentes



O Coelhinho da Páscoa está um pouco mais contido este ano. A tradição de se reunir em volta de uma mesa farta, principalmente com receitas baseadas em frutos do mar, e de presentear os familiares mais próximos com chocolates começa a sentir os reflexos da recessão econômica encarada pelo País.

Na quarta-feira, o movimento nas lojas especializadas em chocolate e nos grandes comércios varejistas da Capital comprovavam que os consumidores continuam investindo na data, mas estão mais cautelosos e seletivos do que em outros tempos. Preocupados com a crise econômica e falando muito em inflação, os gaúchos estão avaliando o preço de cada produto colocado na cesta de compras e optam por bombons e barras de chocolate no lugar dos ovos de Páscoa.

Proprietária da loja Cacau Show no Shopping Praia de Belas, Juliana Enderle da Fontoura nota que o poder de compra mudou de um ano para o outro. "Os clientes estão comprando menos, escolhendo itens mais baratos e focados naquelas pessoas especiais. Não é mais como antes, que o consumidor chegava na loja e 'baixava' os ovos sem olhar o preço", disse a empresária, projetando uma queda de 15% no faturamento da loja em comparação com o mesmo período do ano passado.

Nem a fila grande de compradores na porta do estabelecimento trazia otimismo para as projeções de Juliana. "Não pensem que isso é bom sinal para as vendas. Quanto maior a crise, mais as pessoas deixam para fazer as compras na última hora",destaca a empresária.
Em média, 75% das vendas de artigos pascais são efetuadas nos últimos cinco dias. Ciente disso, a loja realiza nesta quinta-feira uma promoção de ovos de 350 gramas a R$ 29,90.

Com movimento mais tímido, a loja de chocolates artesanais feitos em Gramado da marca Prawer, também no Praia de Belas, estima vendas 20% abaixo das do ano passado. "A população está mais apreensiva", admite a gerente do estabelecimento, Adriana Oliveira.

O panorama mostrado pelos lojistas é ainda mais pessimista do que o esperado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA). "Acreditamos que as vendas do varejo, no primeiro trimestre, deverão reduzir em 6%, em relação ao mesmo período de 2014", avaliou o presidente da entidade representativa do comércio, Gustavo Schifino. "Além disso, estamos apostando que as vendas de produtos úteis e com maior durabilidade, como roupas, acessórios e livros, irão superar a procura pelos ovos de chocolate, que anteriormente lideravam as vendas", adianta o dirigente.


Compradores optam por diminuir número de presenteados

A publicitária Daniela da Silva Fraga e o seu esposo João Fraga, médico, estão entre os que aproveitaram os dias anteriores ao feriado para garantir os presentes de Páscoa, porém, este ano, estão com uma estratégia diferente. O casal optou por não presentear uma parte da família, nesse caso, os adultos, e diminuiu consideravelmente os itens no carrinho. Vale tudo para economizar. "Estamos levando presente apenas para os afilhados, até porque eles são pequenos e ainda acreditam no Coelho da Páscoa. Os ovos são uma opção cara de presente", lamentou Daniela. Os ovos em geral estão 10,9% mais caros, segundo pesquisa da Agas.

Além das crianças, poucos devem receber chocolate em formato de ovo. Os bombons, modelos trufados e barras são a melhor opção para quem precisa controlar os gastos mas não quer abrir mão do doce tradicional da época. Zuleika Maria Marques, dona de casa, também diminuiu a quantidade de chocolate na sacola. Esta Páscoa será um ovo para cada presenteado (ano passado foram três) e apenas para o marido, os dois filhos e as duas noras. "Já estamos sentindo a tão falada inflação nas contas essenciais", adverte.

Pesquisa da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) no País mostra que 68% dos entrevistados pretendem gastar menos na Páscoa.


Na contramão, supermercados esperam um aumento nas vendas de chocolates

Ante um cenário de retração nas vendas, os supermercadistas parecem não ter do que reclamar. Mesmo com crescimento menor do que nos anteriores, o setor projeta um crescimento real médio de 2% na festividade este ano, na comparação com a Páscoa de 2014. Os grandes varejistas gaúchos apostam em ovos menores, barras de chocolate e bombons para alavancarem as vendas.

Levantamento da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) aponta que dois em cada três supermercadistas projetam vendas de ovos no mesmo patamar que em 2014. O crescimento maior deverá ser registrado na comercialização de barras (18%) e bombons (12%).

Ao todo, os supermercados irão comercializar 9 milhões de ovos de chocolate, que deverão alavancar um faturamento de ?R$ 104 milhões para o setor - 12% deles produzidos pela indústria gaúcha. Conforme a Agas, nove em cada 10 consumidores vão comprar seus chocolates em lojas do setor.

O diretor do supermercado Nacional da avenida Nilo Peçanha, da rede Walmart, Fábio Lucas dos Santos comemora o crescimento de 10% nas vendas de ovos de Páscoa e de 8% em colombas e trufas. "Mais uma vez a data reafirma seu posicionamento como a segunda data comemorativa mais importante para o nosso setor", refletiu Santos.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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