A inflação dos índices e do bolso do consumidor

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Consumidor sente peso maior do custo de vida quando vai ao supermercado, em função da expectativa que faz custos subirem




Chegamos ao quarto mês do ano e a inflação oficial do país atinge o patamar de 8,13% (IPCA), no acumulado dos últimos 12 meses. Para os especialistas, a taxa é alta. Para o consumidor é muito maior do que se apresenta. A sensação das pessoas é que o custo de vida está aumentando todos os dias nos supermercados. Afinal, a hiperinflação está no imaginário do brasileiro. Nos anos 1990, antes do Plano Real, a inflação atingiu o patamar de 916,46%. No cenário atual, os preços sobem puxados pela alta da energia elétrica e dos combustíveis, insumos que são repassados aos produtos e serviços. Mas há uma palavrinha mágica: expectativa. Funciona como uma bomba-relógio. Dispara a cada movimentação política e econômica que gera incerteza.
O resultado é a antecipação de aumento de preços.

A professora Josinete Marinho Costa, 62, vai ao supermercado a cada 15 dias. “Eles tentam disfarçar, mas a gente vê os aumentos. De três meses para cá, percebo que os preços estão subindo”, reclama. Item que mais pesa no orçamento, a despesa mensal com alimentação passou de R$ 380 para R$ 500 na casa de Josinete. A receita para economizar é trocar os itens mais caros pelos mais baratos. “Acho que a gente vai passar por uma recessão grande e chegar a uma inflação muito alta. A diferença agora é que os preços sobem aos poucos, para o consumidor não perceber a olho nu.”

Aposentado, Cremildo Barbosa, 62, conta que os preços começaram a subir a partir do final de janeiro e dispararam em fevereiro. “Há produtos, como material de limpeza, que sobem o preço toda a semana. Essa alta é por causa da falta de administração e de fiscalização do governo. A energia elétrica e o combustível também pesam.” Na casa de Cremildo, a carne foi substituída por frango ou peixe. “Acho que a inflação é muito maior do que dizem.”

A sensação de Cremildo é explicada pelo professor Yoni Sampaio, do departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco: “A inflação é medida em cima de uma cesta de bens. O custo de vida é calculado para uma cesta específica de produtos e varia de família para família.” Segundo ele, a classe média brasileira tem um custo de vida maior do que é medido pelo governo, porque a cesta média calculada para medir a inflação oficial não espelha a realidade de cada família.

“Dá margem para as pessoas terem a sensação de perda maior do poder de compra”, assinala. Sampaio destaca que a percepção às vezes pode ser equivocada. “Por exemplo: o tomate pode dobrar de preço, mas se o da batata caiu, a alta na cesta será menor. O consumidor não leva em conta o preço constante.”

 
Renda é corroída pela alta de preços


A inflação chega aos pouquinhos, instala-se e vai corroendo o poder de compra das famílias. Independentemente da renda, o “dragão” lança suas labaredas em cima de todos. Com uma diferença: quem ganha menos tem menor margem para enfrentar o aumento contínuo e generalizado de preços. “Ao longo da história, o Brasil sofreu muito com isso.

Quando a inflação estoura, impacta em nós como consumidores. Perdemos o poder de compra e de unidade monetária”, destaca o economista Gustavo Leandro, coordenador geral da Escola de Negócios da Faculdade dos Guararapes (FG).

De acordo com o economista, além da alta dos combustíveis e da energia elétrica, a subida do dólar (acima de US$ 3), contribuiu para o aumento de preços. Ele explica que muitos produtos comercializados no país têm insumos importados em dólar. Um exemplo é o pãozinho, cuja farinha de trigo é importada. “A inflação atual é muito alta. É uma nuvem negra que afeta qualquer país do mundo. As pessoas têm medo de voltar a época de estocar comida e gás de cozinha.”

Pior do que o medo é a expectativa. Segundo Leandro, quando as pessoas ouvem alguma declaração de alguém que está no poder, ou a informação de subida do dólar e queda do real, criam a expectativa da subida de preços. Ele explica: os consumidores ficam apreensivos e vão para o ponto de compra, enquanto o ofertante aproveita a situação para aumentar os preços. “Há uma movimentação do mercado a partir de uma expectativa. O resultado é o repasse de preços para o consumidor”.

O final do filme não é difícil de imaginar. Quando os preços ficam mais caros as pessoas se movimentam de duas maneiras: trocam os produtos e reduzem o consumo. A consequência a médio prazo é a diminuição da atividade econômica. “Se a população tem o poder de compra diminuído, compra menos, o comércio não vende, a indústria não produz e gera desemprego porque não existe consumo”, conclui o economista.



Veículo: Diário de Pernambuco


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