A economia brasileira encerrou o segundo trimestre com crescimento robusto, mas com sinais de acomodação da demanda doméstica, de acordo com projeções de economistas. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) indicam aumento de 5,1% a 5,6% até o segundo trimestre em relação ao mesmo intervalo de 2007 - abaixo dos 5,8% apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até março. Na comparação com o primeiro trimestre, houve uma aceleração do crescimento, com ganho avaliado entre 0,8 e 1,3 ponto percentual.
Em comum, economistas projetam crescimento menor da demanda doméstica. As estimativas para a contribuição da demanda doméstica para o PIB estão situadas entre 7,5 e 8 pontos percentuais no segundo trimestre, o que representaria desaceleração sobre o primeiro trimestre, quando a demanda doméstica representou 8,4 pontos percentuais do PIB. Ainda assim, ela permanece acima da faixa de 6,5% a 7% considerada pelo governo mais apropriada para manter o ritmo de expansão dos investimentos sem causar pressão inflacionária. Não há consenso sobre a evolução do consumo das famílias. As estimativas variam desde um incremento de 6% (inferior aos 6,8% apurados no primeiro trimestre e que representaria uma desaceleração no ritmo de crescimento) a 7,3%.
Para Fábio Silveira, da RC Consultores, a alta da inflação comprometeu a renda disponível das famílias. Esse fator, somado ao aumento do nível de endividamento e à elevação da taxa de juros real, corroeu o poder de consumo das famílias, levando a um crescimento de 6%, abaixo dos 6,6% do primeiro trimestre. "Esses fatores não comprometeram de forma brutal a renda, mas permitiram a acomodação do crescimento", diz.
Fernando Montero, da Convenção Corretora, calcula para o consumo das famílias e do governo um crescimento de 5,5%, ante 6,4% no primeiro trimestre, com uma contribuição de 4,3 pontos percentuais na alta do PIB. De acordo com o economista, além do maior comprometimento da renda pela alta da inflação, houve desaceleração do varejo (que cresceu 9,4% no segundo trimestre e 11,8% no primeiro, segundo dados do IBGE).
"No primeiro trimestre os gastos do governo tiveram crescimento muito forte, talvez por conta do calendário eleitoral, mas isso não deve se repetir agora. A perspectiva é de que haja uma desaceleração", acrescenta. Os gastos do governo aumentaram 5,8% no resultado do primeiro trimestre, ante 2,2% do quarto, resultado associado à antecipação das despesas pelas prefeituras, que a partir de julho ficam proibidas de fazer gastos com contratações e transferências devido à legislação eleitoral. A RC projeta para o segundo trimestre aumento de 4,7% para os gastos do governo; a Tendências Consultoria Integrada projeta 4,9%.
Marcela Prada, da Tendências, estima expansão de 6,8% no consumo das famílias, pouco acima do resultado do primeiro trimestre, resultado do crescimento da massa real de rendimentos e do número de trabalhadores empregados com carteira, fator que facilitou o acesso ao crédito. O Unibanco tem a projeção mais otimista para o consumo das famílias, com expansão de 7,3%. Além dos fatores citados acima, a economista Giovanna Rocca considera que houve uma recuperação de uma demanda que ficou um pouco mais contida no primeiro trimestre. Para a economista, o consumo das famílias e a demanda doméstica só devem arrefecer mesmo no último trimestre ou no início de 2009. Já Marcela Prada espera desaceleração no terceiro trimestre, com o PIB ficando mais próximo de 5%. Como fatores para a desaceleração ela cita a alta dos juros, que inibe em parte a tomada de crédito, e a desaceleração das exportações devido ao encolhimento da economia global.
Montero, da Convenção, observa que a redução no ritmo de expansão da economia já ocorre: em 2007, o PIB crescia em média 1,5% por trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Neste ano, o aumento médio está estimado em 1%. "O surpreendente é que mesmo com esse crescimento a economia conseguirá chegar a 5% no fim do ano, pelo efeito calendário", diz. O segundo semestre terá quatro dias úteis a mais que no ano passado. "Quatro dias a mais nos meses mais aquecidos do ano para uma indústria que opera com alto nível de utilização da capacidade é um bom redutor de pressão."
Para Montero, a demanda doméstica aumenta mais impulsionada pelos investimentos, que crescem 17%, ante 15,2% no primeiro trimestre. A Tendências faz a mesma projeção e o Santander estima expansão de 18% na formação bruta de capital fixo, que somada a um crescimento ainda forte do consumo das famílias (6,41%), gera preocupação. Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, calcula que a expansão do PIB teria que desacelerar 1,5 a 2 pontos percentuais por trimestre para que a economia brasileira cresça sem risco inflacionário. Ele estima para o segundo trimestre alta de 4,99% no PIB, com desaceleração no terceiro trimestre para 4,38%. Unibanco e RC têm projeções menos otimistas para o investimento, de 11,8% e 13,5%, respectivamente.
De acordo com os economistas, a contribuição do setor externo para o PIB, que no primeiro trimestre foi negativa em 1,9 ponto percentual, pode ter chegado a 2,5 pontos percentuais no segundo trimestre. Schwartsman diz que a alta das commodities favoreceu o resultado da balança, contribuindo para um menor "vazamento externo". Segundo ele, se as commodities tivessem mantido seus preços históricos, a balança teria seu resultado reduzido de US$ 30 bilhões ao ano para algo entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões. "Aí sim, seria necessário desacelerar rapidamente a economia doméstica."
Veículo: Valor Econômico