Uma análise mais detalhada da balança comercial no mês de janeiro revela dois indicadores preocupantes para a indústria brasileira: forte queda das exportações do setor e das compras de insumos no exterior. A quantidade exportada de manufaturados sofreu um tombo de 38,4% em janeiro em relação a janeiro de 2008. Na mesma comparação, o volume importado de bens intermediários caiu 28,5%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A queda nas exportações de manufaturados foi a mais significativa entre as classes de produtos e ajudou a provocar a baixa de 24,2% no volume total exportado pelo país em janeiro. Nos básicos, o recuo foi de 5,7% e, nos semimanufaturados, de 17,9%.
"É uma consequência inevitável da recessão nos parceiros", disse Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan. O banco estima queda de 2% para a economia dos Estados Unidos em 2009 e de 0,8% para a América Latina, regiões que respondem por mais de 70% das exportações brasileiras de bens industriais.
Para Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, os dados de janeiro estão superdimensionados. Ele avalia que as vendas externas de manufaturados devem cair este ano, mas não tanto. "Com tamanha incerteza, as empresas não conseguiam fechar os contratos. Além disso, a desvalorização do câmbio motivou discussões entre exportadores e importadores", disse.
Os economistas do departamento econômico do Bradesco recordam que os resultados foram ruim em todo o mundo porque o comércio internacional praticamente parou. Eles ressaltam a queda nas exportações dos países asiáticos e o fraco movimento do frete marítimo.
No acumulado em 12 meses, o volume exportado pelo Brasil também registra queda: 4,3%. De novo, o recuo é mais significativo nos manufaturados: 8,2%. Nos semimanufaturados, a baixa é de 2,4%. Apenas os produtos básicos ainda conseguem se manter em terreno positivo, com alta de 0,3% na mesma comparação.
Os economistas enxergam três motivos para a forte queda no volume importado de insumos e matérias-primas para a indústria: a crise prejudicou a produção, as empresas estão consumindo seus estoques de bens intermediários, e há alguma substituição de bens importados por nacionais.
"É uma conjunção desses fatores", disse Callegari. Ele explica que os fabricantes brasileiros de bens intermediários, como aço ou celulose, estão oferecendo descontos para vender o produto localmente, pois o mercado exterior está ainda mais fraco. Somando a isso a desvalorização do câmbio, o insumo brasileiro pode se tornar mais competitivo e suplantar o importado.
Para os economistas do Bradesco, a produção industrial brasileira se ajustou a um novo patamar por conta do efeito da crise e a queda na importação de bens intermediários é compatível com essa realidade. "A produção voltou para o nível do último trimestre de 2007. É como se perdêssemos um ano de crescimento", disse uma fonte do banco.
"Em meio a uma desaceleração tão forte quanto essa, é difícil para as empresas determinarem o nível certo de estoques", disse Pessoa. Ele avalia que a importação de bens intermediários pode se recuperar um pouco nos próximos meses e até terminar o ano com uma leve alta.
O economista também alerta que um dos efeitos da queda da exportação de manufaturados é a redução da importação de intermediários, pois produtos importantes, como aviões e celulares, utilizam um percentual significativo de peças importadas.
Os dados de janeiro apontam outro indicador preocupante para a balança comercial. Os preços das exportações brasileiras caíram 3,1% em relação a janeiro de 2008, primeira queda nessa comparação desde dezembro de 2002. Em relação ao pico de setembro de 2008, os preços das exportações, puxados pelas commodities, recuaram 23,3% e atingiram o mesmo patamar do fim de 2007. É um sinal de que os preços deixaram de sustentar o resultado das exportações brasileiras. "A queda dos preços de exportação do Brasil está só começando", avalia Fábio Silveira, da RC Consultores. Ele recorda que, nos próximos meses, a balança sentirá o impacto da redução do preço do minério de ferro e das vendas de uma nova safra de soja, com cotações mais baixas.
Veículo: Valor Econômico