A economia brasileira não deve entrar em recessão a exemplo do que ocorre nos países mais desenvolvidos. Essa é a constatação do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) "Crise Internacional: reação na América Latina e canais de transmissão no Brasil", divulgado ontem. A avaliação do Ipea contraria a de algumas entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) que trabalham com a possibilidade de recessão técnica no Brasil. A entidade prevê resultados negativos para o Produto Interno Bruto (PIB) tanto no último trimestre de 2008 como no primeiro deste ano. A indústria é um dos setores mais afetados e aparece no estudo do Ipea como um dos mais pessimistas em relação à crise.
O diretor de Estudos Setoriais do Ipea, Marcio Wohlers, estima que a economia doméstica deve cair no último trimestre de 2008 na comparação com o trimestre anterior. Porém, tal cenário não deve se repetir no primeiro trimestre deste ano. Segundo Wohlers, esta tendência foi confirmada em janeiro, período em que alguns indicadores considerados termômetros da economia apresentaram alta em relação a dezembro. Exemplo disso foi o consumo de energia que cresceu 1% e as vendas e produção de veículos que aumentaram 3,16%. O estudo revela, entretanto, que ainda é cedo para afirmar que haverá uma recuperação da indústria no primeiro trimestre, já que ambos números ficaram negativos na comparação com janeiro de 2008. No caso da energia a queda foi de 2,7% e nos veículos de 7,6%.
A avaliação do Ipea é que o pior da crise da indústria já passou. "É provável que haja retração do PIB no último trimestre de 2008 sobre o terceiro trimestre, porém é cedo para extrapolar o desempenho (negativo) do último trimestre de 2008 para o primeiro deste ano."
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não revelou os dados da economia do ano passado, quando a indústria brasileira vinha crescendo em ritmo acelerado, ciclo considerado pelo Ipea como o de maior crescimento dos últimos anos. Foram oito anos consecutivos de expansão, sendo que, em 2008, até setembro, as taxas se mantiveram próximas a 6%.
Os efeitos da crise mundial, como restrições ao crédito e redução das exportações, além do aperto monetário, iniciado em abril do ano passado, pelo Banco Central, fizeram com que a indústria acumulasse volumes elevados de estoques. Para o Ipea, esse cenário não se repetirá nos próximos meses.
"O péssimo desempenho em dezembro passado ocorreu devido a uma conjugação de fatores que dificilmente se repetirá nos próximos meses", diz. O estudo mostra que todos setores estão preocupados com os prováveis impactos da crise no mercado interno, sendo que a agricultura é um dos "mais apreensivos", sobretudo em razão das incertezas quanto aos preços das commodities e à falta de uma política de comercialização da safra.
Veículo: Gazeta Mercantil