A Argentina não vai suspender as medidas restritivas em relação a produtos brasileiros, prática que ganhou força a partir de janeiro. O recado foi dado pelo ministro de Relações Exteriores argentino, Jorge Taiana, ao final de reunião realizada em Brasília. "Não consideramos que tenhamos tomado medidas restritivas", disse Taiana. Para os argentinos, estão sendo cumpridas as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), as quais concedem até 60 dias para a liberação das licenças prévias, e não há motivos para mudar a decisão. A solução para o impasse foi postergada para, pelo menos, o dia 20 de março, quando os presidentes Lula e Cristina Kirchner encontram-se em São Paulo.
As barreiras já atingem cerca de 2,4 mil produtos brasileiros neste país. A Argentina espera obter crédito brasileiro para reativar a sua economia, para só depois derrubar barreiras a produtos brasileiros. Essa ajuda é esperada por meio de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou pelo "swap" de moedas a ser feito pelo Banco Central brasileiro para os países vizinhos. Taiana reclamou também do déficit comercial com o Brasil, que atingiu US$ 4,3 bilhões no ano passado.
Em linguagem diplomática, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse que foram discutidas formas para o fortalecimento do comércio bilateral. "Se necessário por meio de incentivos financeiros criativos", afirmou o chanceler brasileiro. Amorim citou claramente a importância do sistema de compensação das transações comerciais em moedas locais - em vigor desde o ano passado - e destacou que o Banco Central, o Ministério da Fazenda e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) estarão presentes no grupo de trabalho que vai preparar propostas para as reuniões presidenciais.
Hora da verdade
O chanceler brasileiro defendeu a apresentação de posição conjunta dos dois países no âmbito do G20. Taiana disse que nas relações comerciais entre Brasil e Argentina há problemas estruturais, que exigirão mais tempo para serem resolvidos, problemas conjunturais, que pedem ações imediatas, e questões em relações a outros mercados.
Frente a tal desafio, Amorim respondeu que agora "esses mecanismos de integração estão vivendo a hora da verdade", referindo-se à solidez das relações entre Brasil e Argentina no âmbito do Mercosul. Ele afirmou ainda que a atual crise internacional colocou o bloco sob tensão, e que depois de superados os atuais desafios haverá um novo rumo no andamento do bloco. "Já é tempo do Mercosul ter mecanismos de defesa comerciais comuns", disse Amorim.
Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, participaram da reunião. Miguel Jorge falou com a imprensa antes da reunião, quando condenou medidas protecionistas e chegou a dizer que "todos os países que defendem o livre comércio devem estar prontos para reclamar (na OMC)". Ainda assim, disse que a Argentina é "adversária só no futebol", admitindo que as restrições impostas pelo país vizinho estão dentro das regras do comércio internacional.
Veículo: Gazeta Mercantil