A crise global faz da escassez de crédito o maior risco para as empresas no mundo todo neste ano, aponta a segunda edição do Relatório de Risco de Negócios da Ernst & Young. Na pesquisa anterior, divulgada em 2008, as preocupações com as dificuldades para obter empréstimos e financiamentos apareciam em segundo lugar.
"O que era um temor, uma coisa mais 'gasosa', se tornou uma realidade. A questão da escassez de crédito se materializou, mostrando que as empresas terão mais dificuldades para financiar os seus projetos de investimento", diz José Carlos Pinto, sócio da Ernst & Young responsável pela área de gestão de risco no país.
Com o ambiente econômico totalmente nublado, os temores quanto a uma recessão profunda ficaram em terceiro lugar entre os dez maiores riscos para as companhias em 2009. "Aumentou muito a preocupação das empresas em relação ao impacto que a desaceleração da atividade econômica terá sobre os seus negócios", diz Pinto, observando que, no relatório do ano passado, esse risco não aparecia.
Realizada em parceria com a consultoria Oxford Analytica, a pesquisa ouviu mais de cem especialistas de vários países, entre executivos de grandes empresas, acadêmicos e consultores, representando 11 setores da economia - administração de recursos de terceiros, automotivo, bancos, bens de consumo, seguros, biotecnologia, mídia e entretenimento, imobiliário, petróleo e gás, telecomunicações e serviços públicos. O relatório tem como objetivo apontar grandes riscos estratégicos para o setor privado.
Um dos resultados surpreendentes da pesquisa, segundo Pinto, foi o salto do risco representado por novos concorrentes, que pulou do 16º lugar em 2008 para o 5º neste ano. "Os mercados emergentes estão se tornando mais competitivos. Alguns setores estão vendo uma onda de novos competidores ávidos por uma fatia de mercado e desafiando indústrias sólidas", afirma ele. "Há uma nova ordem, que leva a uma nova organização da economia, o que afeta a vida das companhias."
A redução de custos subiu uma posição no ranking de riscos, aparecendo dessa vez em sexto lugar. "A severidade da crise está acentuando as iniciativas das empresas para implementar ações de diminuição de custos", afirma Pinto. Ele ressalta, porém, a necessidade de que essas medidas sejam feitas de modo inteligente e coordenado, para que não afetem a sustentabilidade da empresa no longo prazo.
Depois de liderar o ranking no ano passado, as preocupações com os riscos regulatórios e de "compliance" (a atuação em conformidade com as regras) aparecem em segundo lugar no relatório deste ano. Para Pinto, a crise ajuda a explicar por que esse fator se manteve perto do topo do ranking. A turbulência atual deverá levar a mudanças no marco regulatório do sistema financeiro, acredita ele, apostando que poderão ocorrer alterações nesse sentido também em outros segmentos da economia, ainda que não imediatamente.
Chama a atenção, no relatório, a ascensão do chamado "radicalismo verde" como um dos grandes riscos a serem enfrentados em 2009, entendido como a preocupação dos consumidores com empresas ambientalmente responsáveis. Mesmo com o agravamento da crise, o item subiu do 9º para o 4º lugar, evidenciando que a questão ambiental entrou de vez na agenda das companhias. "Essa preocupação continua a ser um desafio direto à reputação das empresas e marcas. As companhias que não respondem às mudanças climáticas de modo adequado podem sofrer um risco de reputação sério", diz Pinto.
Veículo: Valor Econômico