Mesmo com sinais de que a produção voltou a crescer entre dezembro e janeiro, a indústria ainda está distante da recuperação do nível de atividade e de emprego. Após forte recuo na produção em dezembro, o parque industrial paulista, o maior do País, promoveu mais 32,5 mil cortes de vagas no início do ano. Nos últimos 12 meses, o setor já acumula 54,5 mil postos fechados.
O Índice de Nível de Emprego na indústria do estado de São Paulo caiu 1,34% em janeiro, face a dezembro, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Se considerar a sazonalidade do período, a retração foi de 1,86% - a maior para o mês de janeiro desde 2006, quando a taxa ficou negativa em 0,41% (com ajuste sazonal). Em relação a janeiro de 2008, o índice caiu 2,22%.
Segundo Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp, embora a variação negativa do índice tenha diminuído na comparação com dezembro, passando de -4,92% para -1,34%, o desemprego continua apresentando um nível ruim. Em 12 meses, o nível de emprego acumula perda de 2,8%. "A curva do acumulado sinaliza para uma piora do emprego na indústria", disse.
Para Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ainda há muito ajuste a ser feito pela indústria, que começou o ano estocada, em relação ao emprego. "Esse ajuste continua no primeiro trimestre. Houve uma forte queda da produção no final do ano passado, e o emprego é uma variável que se ajusta mais devagar."
Na avaliação do economista, a projeção de um crescimento de 5,7% da produção paulista de dezembro para janeiro, conforme indica pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) baseada no consumo de energia, não pode ser interpretada como uma "recuperação" da indústria. Segundo Souza, a forte queda no último trimestre de 2008 levou a produção a patamares registrados em abril de 2004. Caso a previsão da FGV se confirme, o nível de atividade se aproximaria apenas da média do segundo semestre de 2005. "Perdeu-se um grande terreno, anos de produção", afirmou o economista, para quem o setor produtivo deve ensaiar, de fato, uma recuperação apenas no final do segundo trimestre.
Essa perspectiva se reflete no humor do industrial paulista, que continua pessimista em relação à conjuntura futura. O dado mais preocupante, no entanto, se refere aos estoques, segundo a Pesquisa Sensor realizada na primeira quinzena de fevereiro pela Fiesp. O indicador saiu de 38,7 pontos para 41,4; entretanto, as perspectivas para o mercado subiram de 41,9 para 49,8. Para vendas, caíram de 42,6 para 35,5; o indicador de emprego saltou de 36,8 para 42,6 e o de investimentos avançou de 38,9 para 47 pontos.
Francini explica que os níveis ainda estão muito abaixo da neutralidade (50 pontos), mas que o pior indicador foi o de estoque, que aumentou de 30,9 para 32 pontos. "A indústria ainda está muito estocada, o que é bem ruim", afirmou.
Automotivo lidera cortes
Em janeiro, 19 setores da indústria paulista tiveram queda no nível de emprego, dois apresentaram alta e um ficou estável. No mês anterior, os 22 setores pesquisados informaram demissões.
Os setores que mais demitiram em janeiro foram veículos automotores, reboques e carrocerias (-7.804 vagas), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4.309 empregos) e produtos de borracha e de material plástico (-3.699 postos). "Vale destacar que o setor de vestuário normalmente perde empregos no começo do ano. Já os setores automotivo e de borracha e material plástico foram mais influenciado pelo segmento de autopeças", explica Francini. Do outro lado, a pesquisa apurou aumento de vagas nas fábricas de produtos diversos (+248) e farmoquímicos e farmacêuticos (+593).
Para Souza, do Iedi, um fator agravante é que os setores com mão-de-obra intensiva, como têxtil e artefatos de couro, continuam com desempenho ruim, a despeito da desvalorização cambial. "Agora, eles poderiam se favorecer com a alta do dólar, mas isso não tende a acontecer", disse.
A Fiesp apurou queda no nível de emprego em 31 regiões do Estado em janeiro. Outras quatro registraram aumento de vagas e uma manteve os postos. Segundo Francini, merecem destaque positivo as cidades de Araraquara (+5,19%), Sertãozinho (+2,5%) e Rio Claro (+0,88%). Em sentido contrário aparecem Jaú (-5,07%), Araçatuba (-4,78%) e Matão (-4,58%). Com esses resultados, é possível verificar que o nível de emprego caiu 1,19% na Grande São Paulo e 1,38% no interior paulista, resultando numa perda de 1,34% no índice geral.
Francini conta que, a partir deste mês, a metodologia para a pesquisa do emprego vai contar com a unificação das áreas sondadas. "Teremos o resultado de 36 diretorias regionais", explica. Com isso, a pesquisa vai receber dados de 3.039 empresas ou cerca de 1.124 milhão de vagas. As séries históricas foram reprocessadas a partir de junho de 2005 para o Estado e todas as regionais.
Veículo: Gazeta Mercantil