Richard Hartzell, atual presidente da Mastercard para América Latina e Caribe, desembarcou no País pela primeira vez em 1988, para atuar na subsidiária local do Chase Manhattan Bank, e se intimidou com o que viu: "Saí da Alemanha, que em dois anos registrou uma inflação por volta de 2%, e encontrei a mesma taxa em apenas um dia aqui", lembra. Vinte anos se passaram, e agora os números com os quais o executivo tem de lidar toda vez que vem ao País são bem mais receptivos.
O bom desempenho da economia brasileira e o ambiente de inflação sob controle contribuíram para o crescimento de 16,1% no volume em moeda local de compras e saques com cartões Mastercard na América Latina no ano passado, destaca Hartzell, em entrevista exclusiva à Gazeta Mercantil. No total, foram realizadas 2,35 bilhões de transações com a bandeira em 2008, entre compras e saques, que movimentaram o equivalente a US$ 184 bilhões. A empresa não divulga números específicos para o País.
Os dados do quarto trimestre, embora ainda positivos, já trazem reflexos da crise financeira internacional. O ritmo de expansão no volume de transações passou para 11,4% em moeda local e registrou queda de 6% em dólar, por conta da desvalorização das moedas da região, entre elas o real, diante do quadro de aversão ao risco generalizada que tomou conta dos mercados nos últimos três meses do ano passado. "Comparado com outras regiões, trata-se de um desempenho muito bom", analisa. Em todo o mundo, a Mastercard apresentou expansão de 3,4% no volume de operações e fechou 2008 com lucro líquido de US$ 1,2 bilhão antes de efeitos extraordinários e prejuízo contábil de US$ 254 milhões.
Com o desafio de manter o ritmo de expansão na América Latina na casa de dois dígitos, Hartzell preserva um "otimismo cauteloso" para este ano, apesar da perspectiva de desaceleração. Ele explica que os resultados da empresa se desenham a partir de três variáveis: a situação macroeconômica, a demanda do consumidor e o comportamento da cadeia de fornecedores, como bancos e estabelecimentos comerciais.
Ele reconhece que a economia, de fato, exerce uma pressão negativa, embora veja impactos diferentes para cada país. "No México, por exemplo, onde há uma dependência maior dos Estados Unidos, os efeitos têm sido mais intensos do que no Brasil", afirma. Com relação à demanda, porém, nada mudou, garante. "Ainda existe um espaço muito grande para a substituição de meios de pagamento, e essa tendência deve se manter, já que a penetração da indústria de cartões na região ainda é baixa em relação a mercados mais maduros."
Segundo Hartzell, a principal incógnita fica com relação ao terceiro ponto, ou seja, em como gerenciar essa demanda, que dependerá da forma como os bancos pretendem trabalhar no atual cenário. "Em alguns mercados, as opções das instituições financeiras devem se restringir a ampliar a base de clientes ou procurar fidelizar os já existentes", explica. No Brasil, porém, ele acredita que ainda há espaço para a criação e busca por novos produtos e serviços, o que favorece a Mastercard.
O País, aliás, é vitrine mundial do grupo em diversas iniciativas. A bem-sucedida estratégia de ampliação da base de cartões Black - destinados ao segmento de altíssima renda - foi "exportada" para outros países, diz Gilberto Caldart, presidente da Mastercard no Brasil. "A equipe responsável pelo projeto foi levada para a Rússia a fim de compartilhar a experiência", afirma.
O responsável pelas operações da empresa na América Latina, que faz pelo menos uma visita a cada dois meses ao Brasil, elogia o trabalho realizado e espera que os números continuem positivos ao longo deste ano, apesar da crise e sem os sustos dos complicados tempos de hiperinflação.
Veículo: Gazeta Mercantil