Somente o ajuste fiscal não será capaz de reverter crise

Leia em 3min 30s

                                      Para economistas, há mais fatores que devem ser avaliados de forma imediata
 


O ajuste fiscal, bandeira do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para reequilibrar as contas do Estado brasileiro é um grande passo, mas não é o único caminho para se reverter o cenário econômico turbulento. Para os especialistas da área, há outros fatores que devem ser discutidos de forma imediata para amenizar os impactos negativos que refletem na população.

Para o professor de Indústria, Crescimento Econômico e Finanças Públicas da Universidade Federal de Minas Geras (UFMG), William Ricardo de Sá, o ajuste fiscal e o combate bem-sucedido à inflação são apenas condições necessárias para uma eventual retomada do crescimento econômico sustentável da economia. Porém, não são condições suficientes.

Na avaliação do professor, a melhor solução para a realização de prioridades defensivas da política econômica de Levy seria a obtenção de resultados em curto prazo e com o menor custo em termos da recessão e do desemprego associados a sua implementação. Para tanto, são necessários fatores que, segundo Sá, o atual governo não dispõe no momento. Um deles é apoio político, que é decidido por uma maioria parlamentar ao programa de ajuste.

Outros pontos apontados pelo professor são a credibilidade, que depende da percepção das agências de classificação de risco, analistas econômicos, agentes econômicos e eleitores de que o "programa é para valer e vai ser implementado custe o que custar", além do ajuste das contas públicas que deveria ocorrer mais pela contenção das despesas correntes do governo do que pelo aumento de impostos e corte dos investimentos.

Modelos - Para Sá, novos modelos de gestão pública e uma reforma profunda do setor são importantes, haja vista que pouco ou quase nada funciona a contento no setor público. Lamenta também que a agenda de reformas institucionais, que incluía o setor público e que vinha do governo Fernando Henrique Cardoso, tenha sido descartada com a saída do ministro Antônio Palocci, no fim do primeiro governo Lula.

"Nosso Estado se consolidou nessa mistura indigesta de burocracia excessiva e muitas vezes inútil, corporativismo tosco, rigidez funcional, excesso de regulação geradora de altos custos de transação, em especial para quem quer investir produtivamente, e altíssimo nível de ineficiência e corrupção".

O professor enfatiza que o crescimento da economia depende da produtividade, que por sua vez depende da dotação de capital físico, diretamente produtivo ou investido em infraestrutura, da quantidade e qualidade do capital humano, que é medido pelos anos de escolaridade e pela qualidade da educação da mão de obra e, ainda, da eficiência com que se combinam os recursos produtivos.

A opinião de Sá de que somente o ajuste fiscal não é suficiente para mudar o cenário econômico é endossada pelo coordenador do curso de Ciências Econômicas da Newton Paiva, Leonardo Bastos. Outros fatores precisam ser combatidos de imediato, como a inflação. "Se ela continuar subindo, teremos cada vez mais uma perda do poder de compra dos assalariados. Isso significa que estarão ganhando em valores reais um salário menor corroendo seu poder de consumo".

O coordenador acrescenta que com o ajuste fiscal e o aumento da inflação, vários setores da economia que estavam "combalidos", há dois anos, entraram em crise, como o de automóveis, siderurgia e indústria de manufatura. Com isso, o desemprego tem aumentado mês a mês e as vendas do comércio caindo.

Diante da situação, Bastos diz que são necessárias medidas governamentais, como investimentos em infraestrutura, como portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. "Se o governo não possui essa capacidade deveria repassar para a iniciativa privada, com a respectiva desoneração de impostos. Se as rodovias, por exemplo, estão privatizadas, por que o IPVA?". Ele acrescenta que é preciso um novo modelo de gestão pública no Brasil, pois o atual é "falido e fracassado", pois faltam incentivos à indústria em todas as pontas, além do excesso de tributos para as empresas e consumidores.

O coordenador diz que economistas, como ele, sempre dizem que o Brasil vem dando "voos de galinha", cresce por um período e depois vem a estagnação. O professor enfatiza que é excessiva a participação do governo na economia em setores chaves. "Isso nos predispõe à corrupção, ineficiência de gestão, falta de investimento, excessiva carga tributária sem contrapartida."




Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG


Veja também

Confiança da indústria sobe 0,6% em julho ante junho, aponta prévia da FGV

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) apurado na prévia da sondagem de julho subiu 0,6% n...

Veja mais
Juro alto causa desconfiança e está travando os investimentos no País

São Paulo - Para especialistas, a alta taxa básica de juros (Selic) está sendo um impasse para a re...

Veja mais
Preço de alimentos deve cair na próxima década

Os preços de todos os produtos agrícolas devem declinar na próxima década, segundo estudo da...

Veja mais
Nanicos do Mercosul querem ampliar comércio no bloco

                    ...

Veja mais
Brasil mal na foto

                    ...

Veja mais
Medida provisória é primeiro passo para uma efetiva reforma do ICMS

                    ...

Veja mais
Queda nominal na receita de serviços prestados às famílias é inédita

A receita dos serviços prestados às famílias caiu 1,4% em termos nominais em maio ante maio de 2014...

Veja mais
Governo já prevê até 2% de queda do PIB

                    ...

Veja mais
Comércio brasileiro só começará a se recuperar de forma lenta em 2017

                    ...

Veja mais