Para conter inflação, BC pode até subir juros

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Caso as condições econômicas, como piora de expectativas de inflação e mudança de patamar de câmbio, pressionem os preços para cima, nada impedirá que o Banco Central volte a subir os juros. De acordo com uma fonte da equipe econômica, continua “firme e forte” a estratégia de levar a inflação a convergir à meta de 4,5% no fim de 2016.

“Estamos reafirmando nosso compromisso. Reconhecendo que os fatos mudaram, mas que temos capacidade operacional de alterar as táticas dentro da mesma estratégia. E, se for necessário, aumentar as taxas de juros de novo”, comentou a autoridade.

A fonte reconhece e admite haver motivos para as recentes mudanças nas estimativas para inflação. Pela pesquisa Focus, as projeções para o IPCA em 2016 subiram de 5,44% para 5,64% em quatro semanas, abortando a trajetória de ancoragem de expectativas que o BC parecia conquistar lá atrás.

Foram a proposta de Orçamento para 2016, que previa déficit de R$ 30,5 bilhões, mais a crise política que causaram muita volatilidade, depreciaram ainda mais o câmbio e aumentaram as taxas do DI em 3 pontos porcentuais, para a casa de 15%, em pouco mais de dois meses. “O câmbio mudou de patamar de fato. Vai de R$ 3,25 para R$ 3,80”, destacou a fonte. E essa alteração afeta as expectativas para a inflação para 2016, pois o cenário de incerteza na área fiscal elevou prêmios de risco, com efeitos negativos sobre ativos financeiros.

A autoridade ressalta que as expectativas entram nas projeções do governo sobre a inflação de maneira exógena. “Se elevarem as expectativas, isso terá de ser levado em conta na decisão (de política monetária)”, apontou. Esse interlocutor não entende porque estão subindo estas previsões relativas à inflação sem um aumento de estimativas para a Selic. “Se as pessoas realmente acreditam que a inflação vai subir, a gente vai aumentar os juros”, pondera.

A questão fiscal é crucial para a reversão das expectativas e, consequentemente, para a administração da política monetária. A fonte avalia que o Brasil não tem condições de registrar resultado primário negativo e precisa viabilizar a meta de 0,7% do PIB para 2016. “Isso é muito relevante para construir uma trajetória fiscal que leve no futuro o superávit primário a 2% do PIB, a fim de estabilizar a dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto”, diz.

“Precisamos do primário. Como vai ser feito, está na mão deles”, acrescenta, referindo-se às ações do governo e especialmente do Congresso para concretizar o pacote fiscal anunciado pelo Executivo na segunda-feira. “Vai ser feito? Não sei. Espero que seja.

Isso será condição necessária para diminuir o nível de incerteza, o que vai impactar positivamente nos prêmios de risco e de preços de ativos”, apontou a fonte. E esse impacto positivo vai facilitar o processo de política monetária para levar a inflação à meta no final de 2016.

Mercado. As declarações feitas pela fonte da equipe econômica mexeram ontem com o mercado. Os juros futuros tiveram um pregão com alguma volatilidade, mas se firmaram em alta do meio da tarde em diante, após a publicação das informações pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A taxa do DI para janeiro de 2017 foi para 15,00%, de 14,99% no ajuste anterior, e o juro para janeiro de 2021 subiu para 15,01%, de 14,96% na véspera.

Ao longo da sessão, o alívio do dólar ante o real, em um movimento alinhado ao exterior, garantiu a baixa dos juros em alguns momentos, assim como comentários sobre uma possível saída do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Mas ainda que a divisa americana tenha encerrado o dia a R$ 3,8330 (-0,60%), o noticiário político, além das indicações de que a Selic pode voltar a subir, também acabou contaminando os juros.




Veículo: Jornal O Estado de S.Paulo


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