Instabilidade política e subida do IPCA abrem margem para elevação da Selic

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Pressão inflacionária causada pelo câmbio e necessidade de maior prêmio de risco podem levar a novos aumentos da Selic; na última reunião do Copom, dois diretores do BC defendiam a medida.

Com o aumento da instabilidade política e a inflação em alta, a elevação da taxa de juros volta ao radar dos brasileiros. A última ata do Copom mostrou que dois diretores do Banco Central (BC) já são a favor da Selic em patamar superior.

A abertura do processo de impeachment "pode ter impacto em contratos ou em produtos que são influenciados pelo câmbio", explica André Chagas, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Assim, nova pressão inflacionária pode acontecer "sobre itens que já estão pressionados, como o açúcar", completa.

Uma piora no cenário político também intensifica o risco Brasil e "pode aumentar a necessidade de melhora do prêmio de risco para investidores que queiram entrar no País", completa Virene Matesco, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). A especialista lembra que dois membros do Comitê de Política Monetária (Copom) "já queriam aumentar" a Selic antes do início do processo de impeachment.

Os diretores do BC, Tony Volpon (Assuntos Internacionais) e Sidnei Corrêa Marques (Organização do Sistema Financeiro), consideram "que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação". A posição foi tomada na última reunião do Copom, realizada na semana passada, cuja ata foi divulgada ontem.

Para Volpon e Marques, o ajuste das condições monetárias se daria com um novo aumento da taxa básica de juros, de 0,5 ponto percentual. Os outros seis integrantes do Copom defenderam a manutenção da Selic no patamar atual.

A possibilidade de um aumento da taxa de juros passou, também, a ser considerada pelo mercado. O Relatório Focus, que um mês atrás esperava a taxa Selic em 13% ao final de 2016, elevou a estimativa para 14,13% para o mesmo período.

Gasolina na fogueira

Matesco é assertiva ao criticar a possível mudança. "A elevação da taxa de juros aumenta ainda mais o endividamento do governo, piorando o problema fiscal. E as contas públicas já estão completamente descontroladas", afirma. "Seria como jogar gasolina no fogo."

Caso o aumento de 0,5 ponto percentual aconteça em 2016, a Selic chegará aos 14,75%, acumulando alta de três pontos percentuais em relação a dezembro de 2014.

Luiz Alberto Machado, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), comenta que o aumento da taxa de juros "não tem resolvido o problema da inflação". Segundo ele, "a alta dos preços pela demanda está sendo contida pela retração atual da economia".

O professor destaca que "o grande problema, atualmente, é a economia parada", assim como a "falta de estímulo para investimento em produção". Para ele, o cenário pode ficar ainda mais complicado "caso o dinheiro fique mais caro", mencionando a possibilidade de novo aumento da taxa Selic.

Matesco acrescenta que tem efeito hoje as inflações de custos e de expectativa, sobre as quais "o Banco Central não tem muito que fazer". Para a especialista, "o BC foi negligente com a inflação quando podia agir e agora faz uma espécie de mea culpa".

Rebaixamento

O aumento da instabilidade política pode, também, causar o rebaixamento da nota de risco de crédito (rating) do Brasil e a retirada do grau de investimento pelas agências que ainda o mantem.

"Caso isso aconteça, o risco para investidores entrarem no País aumentaria ainda mais e a necessidade de um prêmio mais elevado poderia estimular novos aumentos da Selic", projeta Matesco.

Entretanto, Machado diz não apostar em uma elevação da taxa no ano que vem. "Será desnecessário. O acumulado da inflação deve diminuir com o fim do efeito de preços que eram represados e com o congelamento da demanda."

 



Veículo: Jornal DCI


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