Apesar da polêmica em relação à manutenção da taxa básica de juros (Selic) na última semana, os analistas consultados pelo Banco Central (BC) mantiveram a expectativa de desinflação para 2016 e 2017 devido ao agravamento da retração econômica brasileira.
A pesquisa Focus divulgada ontem mostrou que o mercado financeiro ficou mais pessimista com a economia brasileira, revisando as projeções para indicadores negativos. "Há poucas perspectivas de melhoria, aliás, não há nenhuma sinalização positiva de que a economia irá melhorar. O Banco Central praticamente abandonou a política de metas de inflação", avaliou o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Eduardo Coutinho.
Mas diante dos 10,74% registrados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015, os analistas mantiveram a perspectiva de desinflação (inflação menor quando comparada aos anos anteriores) para 2016 (7,23%) e para 2017 (5,65%).
"Em relação a 2015, essa inflação vai cair, teremos desinflação. No curto prazo, a sociedade irá conviver com uma inflação mais alta, mas seguramente a inflação [de dois dígitos] está em trajetória de queda [um dígito]", afirmou o economia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luiz da Costa Oreiro.
Pelos dados do Focus, a retração da atividade econômica será de 3% em 2016, ainda abaixo da previsão pessimista do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 3,5% que motivou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a indicar a manutenção da Selic na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira passada.
Oreiro explicou que o agravamento da recessão brasileira está contratado. "A taxa de desemprego vai bater em dois dígitos, isso inibe o consumo da população e, consecutivamente, a inflação", argumentou.
Na variação semanal das projeções, no entanto, as expectativas se deterioraram. Há uma semana, os analistas previam uma inflação de 7% em 2016 e, agora, esperam um IPCA de 7,23% (deterioração de 23 pontos). Para o próximo ano, que antes se esperava uma inflação de 5,40%, agora o mercado prevê 5,65%, uma deterioração de 25 pontos.
Coutinho ressaltou que o Banco Central não deverá cumprir sua política de metas de inflação. "Nem em 2016, nem no próximo ano". O teto da meta é de 6,5%, se o indicador ficar acima de 7% nesse ano como espera o mercado, o Banco Central terá descumprido sua política monetária.
No caso de 2017, o Banco Central havia se comprometido a convergir a inflação para o centro da meta (4,50% ao ano), mas o mercado financeiro também já estima o IPCA acima desse patamar.
"No longo prazo, é preciso uma série de reformas. A desindexação dos preços administrados; a revisão da política do salário mínimo que acaba perpetuando a inflação; uma reforma fiscal estrutural que promova a desvinculação dos gastos da União, que permita cortar despesas em momentos de estresse; e claro, reforma da previdência é fundamental", sugeriu o professor da UFRJ.
Dólar e PIB em 2017
Se considerado pelo mercado que o curto prazo está muito ruim, as expectativas dos analistas consultados pela Pesquisa Focus para 2017 são menos pessimistas. A taxa de câmbio esperada para o final de 2017 é de R$ 4,20 enquanto o dólar comercial calculado pelo Banco Central fechou ontem em R$ 4,10. "Quando houver a sinalização de que a crise política foi resolvida, o patamar atual [de juros e do dólar] é razoável para gerar uma atração do capital estrangeiro ao Brasil", argumentou Oreiro ao falar da possibilidade de apreciação da moeda local.
E depois de dois anos seguidos de forte recessão (2015 e 2016), os analistas consultados pelo Banco Central projetam um crescimento de 0,80% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2017. "Não é recuperação", avaliou Coutinho.
Veículo: Jornal DCI