A aposta do mercado na queda da inflação está mais forte. Pela segunda semana consecutiva, os analistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus apostam em um alívio no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado nas metas de inflação. A expectativa é de que ele chegue no fim do ano em 7,14%. Há uma semana, a previsão era de 7,28% e há um mês, de 7,46%. Dessa forma, as previsões do mercado começam a se alinhar com as da equipe econômica. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, prevê que o indicador termine 2016 abaixo dos 7%. A meta de inflação para este ano é de 4,5%, com tolerância de até dois pontos percentuais, ou seja, podendo chegar a 6,5%.
Para o ano que vem, a projeção do mercado para a inflação também está em queda. A expectativa caiu de 6% na semana passada para 5,95% — ou seja, dentro da meta para 2017, que é de 4,5%, mas com tolerância até 6%. Com isso, as previsões para a taxa Selic também cederam e o mercado já aposta que os juros vão chegar em 12,25% ao ano em 2017. Hoje, a Selic está em 14,25% e não sobe desde meados de 2015. Os analistas preveem que a taxa chegue ao fim de 2016 em 13,75%, mesmo patamar previsto na semana passada.
Além da recessão, que diminui a demanda dos consumidores e ajuda a controlar os preços, o IPCA terá este ano impacto menor de itens que pressionaram a inflação no ano passado, como a energia, cuja tarifa caiu com o fim da crise hídrica. A queda do dólar nas últimas semanas também melhora as previsões para os preços. A perspectiva do Focus para o dólar no fim deste ano é de R$ 4 e no ano que vem, de R$ 4,10.
— A queda dos preços foi consequência da reversão daquilo que levou a inflação a explodir para mais de 10% no ano passado: a seca e o dólar. — afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura Corretora.
As previsões para o desempenho da economia, no entanto, continuam se deteriorando. O mercado espera que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha um recuo de 3,77% este ano. Na semana passada, a projeção era negativa em 3,73%. Há um mês, a retração prevista era de 3,54%. Para o ano que vem, ainda há aposta de desempenho positivo, de 0,30%. O economista e sócio da TAG investimentos, André Leite, pondera que a retração pode ser explicada por uma crise nas expectativas, sobretudo em um período em que há fortes conturbações no cenário político.
— Muito do que a gente está vendo de retração da economia é resultado das expectativas. Quem espera um futuro pior não investe, não compra nada novo, não se compromete com financiamentos, não contrata — diz André Leite.
Veículo: Jornal O Globo - RJ