A aprovação na Câmara dos Deputados para o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) mantém a política no centro dos debates no país e adia decisões para a retomada da economia. Em retração desde o final de 2014, a economia deve continuar devagar por mais alguns meses, avaliam analistas. Mas a perspectiva de mudança no comando no Planalto pode criar no mercado uma euforia momentânea. Apesar de não garantir nenhuma melhora real, a expectativa da entrada de um novo governo pode dar ânimo para empresários e consumidores.
O economista-chefe da Gradual Investimentos e mestre pela PUC-SP, André Perfeito, afirma que durante a última semana o mercado já antecipou efeitos de um impeachment.
— Com o impeachment, não necessariamente haverá uma melhora significativa no mercado. Depende de algumas variáveis. Por exemplo, a capacidade do Temer em fazer uma mudança substancial na economia é limitada. Ele entrará com uma desaprovação muito alta. Se fizer um ajuste fiscal com aumento de impostos, por exemplo, é pedir para aumentar a recessão — disse o economista.
Perfeito ainda sugere cautela com Temer. Ele considera que será difícil haver aumento de impostos e corte de gastos em ano eleitoral.
Dificuldade de prever cenário no longo prazo
A perspectiva de mudança a curto prazo é sinalizada pelo professor da UFSCe PhD pela Universidade de Vanderbilt (EUA) João Rogério Sanson. O especialista ressalta que a longo prazo é difícil prever o que ocorrerá, mas logo após a confirmação do impeachment, que ainda depende de aprovação no Senado, o cenário poderá ter uma reversão nas expectativas.
— O mercado já está sentindo, veja o que está acontecendo com o dólar. O que se imagina, em modo geral é que uma vez que fique claro que o novo governo consiga aprovar reformas importantes, você cria otimismo. E se espera que depois do impeachment se crie uma coalizão de partidos que ajude a aprovar as medidas necessárias para o país — analisa o professor.
Em caso da derrubada do processo de impedimento, ele afirma que o cenário ¿vai continuar andando devagar¿.
– O atual ministro da Fazenda está tentando fazer mudanças, mas ninguém quer discutir nada. Se for derrubado o impeachment, o governo vai continuar com dificuldades.
Lideranças empresarias veem ambiente favorável
Entidades de representação da indústria e do comércio avaliam que a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados cria um ambiente favorável para a retomada da economia. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, o ¿atual governo perdeu as condições para liderar o encaminhamento das mudanças estruturais para recolocar o Brasil no caminho do crescimento e da geração de empregos¿.
— Depois de uma queda de quase 4% em 2015, a retração do PIB em 2016 já está dada e, sem troca de governo, caminharíamos para 2017 com perspectivas de mais um ano de recessão — afirma.
Caso a situação seja diferente e o impeachment não avance no Senado, o presidente da Fiesc afirma que a indústria ¿vê grande com grande preocupação o cenário, pois o setor produtivo não acredita que o atual governo tenha condições políticas para encaminhar as mudanças estruturais necessárias para recolocar o Brasil no caminho do crescimento e da geração de empregos¿.
No mesmo caminho segue a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina (FCDL). A entidade avalia que há uma visão de consenso dos empresários de que o governo Dilma Rousseff não conseguirá mais resolver os problemas da economia brasileira.
— O governo acabou mergulhando a todos nesta crise e não tem apoio político para superá-la. Uma troca de comando trará mais confiança ao setor privado, o que fará a economia reaquecer — afirmou Ivan Tauffner, presidente da FCDL, via assessoria de imprensa.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) esteve em Brasília acompanhando a votação na Câmara dos Deputados. A assessoria de imprensa informou que a entidade deve aguardar o desenrolar do processo, que ainda passará pelo Senado e por eventuais processos judiciais, para se manifestar sobre o futuro da economia brasileira.
Voz das ruas e das redes sociais foram decisivas para derrota
Para o presidente da Fecomércio-SC, Bruno Breithaupt, se houver vitória do governo no processo do impeachment há tendência de se prolongar a crise político-institucional. Ele alerta que desde 1º de março a moeda americana desvalorizou 13% e a Bovespa no ano acumula alta de 21%.
— Isso sinaliza que, além das manifestações das ruas, as manifestações dos agentes econômicos apontam para a necessária mudança do cenário político e econômico, em que o governo atual se esgotou e o modelo se desidratou. Por outro lado, o mercado vem dando sinais claros de que reage positivamente na medida em que o processo de impeachment avança. O governo atual se esgotou e o modelo se desidratou – avalia.
Veículo: Jornal Diário Catarinense - SC