Já é consenso no mercado que os juros vão começar a cair a partir do segundo semestre, no que seria o primeiro corte depois de quase quatro anos. A Selic está congelada no patamar de 14,25% há seis encontros seguidos do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e não sofre redução desde agosto de 2012. A dúvida é quando e com qual velocidade a taxa será cortada, especialmente após as mudanças que devem ser feitas no comando do BC.
Estrategistas consultados pelo Estado preveem redução a partir de agosto ou outubro e sugerem ajustes nas aplicações em renda fixa, que continuam no topo da lista de investimentos recomendados. A avaliação é de que agora o BC pode ganhar um aliado no combate à inflação: um governo menos gastador. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defende um sistema de controle das despesas, mas já admitiu que o rombo nas contas públicas em 2016 será maior do que o previsto. O otimismo do mercado, portanto, é cauteloso.
Para Ronaldo Patah, estrategista do UBS Wealth Management, o corte da Selic pode chegar a quatro pontos porcentuais em um período de dois anos, caso as reformas fiscais sejam aprovadas. “Nesse cenário, vejo os títulos prefixados como boa alternativa para quem tem um horizonte de pelo menos um ano. Também gosto dos indexados à inflação, porque o prêmio de risco ainda está alto”, diz.
Os papéis do Tesouro Direto, portanto, seguem como a principal recomendação do mercado, sobretudo para o pequeno poupador. Isso porque o investimento inicial é baixo (a partir de R$ 30), há facilidade na compra (pode ser feita pelo site do Tesouro e basta ter conta em uma corretora) e é a aplicação de menor risco. “O grande movimento ainda está para acontecer na renda fixa, com os títulos prefixados ganhando destaque no médio prazo”, reforça Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec. Ele prevê redução da Selic a partir de agosto, com a taxa a 11,5% em 2017.
Além dos prefixados, os títulos indexados ao IPCA seguem no radar, já que ainda garantem um ganho real (acima da inflação) elevado: em torno de 6%. Mas, mesmo se tratando de renda fixa, é preciso cautela antes de investir. “O nome não ajuda muito, pois é um produto que tem, sim, volatilidade bastante grande”, alerta Cláudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do banco Itaú. Para evitar qualquer prejuízo, a orientação é carregar o papel até o vencimento.
Além da preocupação com a chamada marcação a mercado, que muda o valor do título ao longo da aplicação conforme o movimento dos juros, é necessário atenção ao Imposto de Renda (IR). Os produtos de renda fixa têm uma tabela regressiva de cobrança: quanto mais tempo o dinheiro fica aplicado, menor é a alíquota paga. O tributo começa em 22,5% e cai para 15% em investimentos acima de dois anos. “Não pode ficar pulando de galho em galho, senão vai perder dinheiro com imposto”, destaca o administrador de investimentos Fábio Colombo.
Opções. O poupador também pode optar pela comodidade de um fundo, em que o gestor realoca os recursos de acordo com as mudanças macroeconômicas. Essa administração profissional, porém, tem um custo. “Para fundos de renda fixa, a taxa deve ser de até 1% para valer a pena”, diz Espírito Santo, da Órama Investimentos. Esse tipo de fundo investe em diferentes títulos públicos e privados. Já os DI acompanham de perto a variação da taxa de juros e, portanto, não são os mais indicados no atual cenário.
Dentre os produtos bancários, o CDB aparece como uma boa opção. Nos bancos maiores, a rentabilidade fica abaixo de 100% do CDI (taxa que baliza aplicações conservadoras e fica muito próxima da Selic). Já as instituições financeiras menores oferecem retornos mais atrativos, uma vez que são mais arriscadas. A orientação é investir até R$ 250 mil, que é o limite de cobertura, por CPF, feita pelo Fundo Garantidor de Crédito no caso de falência do banco.
A Letra de Crédito Imobiliário (LCI), que tem isenção de IR e também conta com a garantia do FGC, é igualmente interessante, mas hoje há pouca oferta e muitos rumores sobre uma possível mudança na tributação. Já se o objetivo for diversificar, há as debêntures de infraestrutura, que também são isentas. Mas é preciso ter maior tolerância ao risco e abrir mão de liquidez. Isso porque o investidor se torna credor da companhia e o prazo de vencimento costuma ser maior que um ano.
A única aplicação que é desvantajosa em todos os cenários é a poupança. “Um título atrelado ao IPCA paga 6% mais inflação, contra cerca de 8% da caderneta. É praticamente o dobro, com risco quase igual”, destaca Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo