Em 2016, a Bolsa acumula valorização de quase 20%, boa parte dela por causa do cenário político brasileiro. As reformas econômicas propostas pelo novo governo Temer agradam ao mercado financeiro e isso se refletiu no preço dos ativos nacionais nos últimos meses. O efeito também é visto na cotação do dólar, que caiu 11% desde janeiro. Mas agora que o afastamento da presidente Dilma Rousseff se concretizou, ainda há espaço para uma alta adicional da Bolsa ou um novo movimento de queda do dólar?
A resposta, dizem os estrategistas, dependerá do desempenho da nova administração. No cenário mais otimista, o analista da XP Investimentos Ricardo Kim prevê que o Ibovespa poderá superar os 70 mil pontos em um período de dois anos. “Se tivermos um governo de transição satisfatório, veremos uma melhora gritante nas expectativas. Mas tem muita variável no meio do caminho, como a capacidade de articulação política, a qualidade das reformas propostas e os desdobramentos da Lava Jato”, detalha Kim.
Ronaldo Patah, do UBS Wealth Management, também vê o desempenho da Bolsa atrelado ao sucesso das reformas econômicas, sobretudo as fiscais. “Estamos falando de reformas enormes (para conseguir estabilizar a relação entre dívida e PIB), de R$ 300 bilhões. Isso não vai ser feito nos primeiros meses”, alerta. Para Patah, se as medidas passarem no Congresso, a Bolsa pode buscar os 60 mil pontos, mas não muito mais do que isso. Ele alerta também para a volatilidade: “O (indicador) preço sobre lucro das empresas está alto e quando isso acontece a Bolsa fica mais suscetível a realizações.”
Para o pequeno poupador, o mercado acionário pode ser visto como uma forma de diversificação, mas a maior parte da carteira deve continuar alocada na renda fixa. “Tem muito risco, então o pequeno investidor não deve entrar”, afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec. Para ele, 60 mil pontos também seria o teto da valorização.
Já no mercado de câmbio, as projeções estão mais alinhadas. O atual patamar, ao redor de R$ 3,50, deve ser mantido sem grandes oscilações. Se por um lado a melhora das expectativas pode atrair dólares para o País, o que forçaria uma queda na cotação, o Banco Central deve continuar atuando na ponta contrária. “O câmbio até poderia ir para R$ 3,30, mas o BC deve intervir”, afirma Patah, estrategista do UBS.
“O dólar é uma das coisas mais difíceis de se fazer previsão. Só recomendamos esse tipo de exposição para clientes que têm compromissos na moeda americana”, alerta Cláudio Sanches, diretor de produtos de investimento e previdência do banco Itaú.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo