Os profissionais de mercado esperam a aprovação de medidas do ajuste fiscal no Congresso Nacional antes de sinalizarem a possível retomada de confiança na economia brasileira e uma oportunidade para investimentos em ativos.
Ontem, na abertura dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, os investidores reagiram de forma positiva (dólar em baixa e Bolsa em alta) aos nomes confirmados pelo ministro Henrique Meirelles para equipe econômica do Ministério da Fazenda, do Banco Central e do BNDES.
Mas ao longo do pregão de ontem, o entusiasmo foi ofuscado por dados sobre o aumento do núcleo da inflação nos Estados Unidos (2,1% em 12 meses), informação que poderá influenciar novas altas das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA).
A notícia sobre a inflação americana afetou bolsas de valores em todo o mundo, pois o aumento dos juros por lá afeta a intenção de investimentos em países emergentes (em desenvolvimento) como o Brasil. Aqui, ao final dos negócios, o Ibovespa fechou em baixa de 1,86% aos 50.839,44 pontos, e o dólar Ptax (média do BC) mostrou alta de 0,01%, a R$ 3,5037.
"Os nomes [divulgados] são todos muitos bons e foram recebidos de forma positiva. Mas tem o aspecto político, se pode ter esse time todo elaborando os melhores projetos, mas tem que combinar com o Congresso", alertou o economista-chefe da Modalmais, Álvaro Bandeira.
Na mesma linha, o sócio-diretor do Easynvest, Marcio Cardoso, disse que o mercado precisa de fatos concretos para atrair os investimentos. "Tem que ter um sinal de que as medidas encaminhadas terão apoio no Congresso", ponderou. Ele lembrou que ainda há riscos políticos sobre o impeachment no Senado e no Supremo Tribunal Federal (STF), e da cassação da chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Sobre a nova equipe econômica, Cardoso considerou que é importante que exista uma linha de pensamento mais interativa entre o executivo (governo Temer) e o legislativo (Câmara e Senado Federal). "Só uma retomada da atividade econômica dará alento ao mercado", afirmou o diretor.
Na visão do diretor de operações da FN Capital, Paulo Figueiredo, o momento para a renda variável ainda é de cautela. "Mas o investidor que está com um pouco mais intenção já pode começar a se posicionar em ações de primeira linha e bons fundamentos", disse.
Já o economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira, diz que a nomeação da equipe econômica correspondeu às expectativas, mas ainda existem muitas dúvidas a serem respondidas.
"Depois da euforia com afastamento da presidente Dilma Rousseff, o mercado está caindo na realidade. A avaliação é que a situação dos estados e municípios possa ser endereçada ao governo central. O mercado terá que fazer a digestão de mais esse problema", considerou o economista.
Equipe de ortodoxos
Ontem pela manhã, Meirelles confirmou a indicação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn para o Banco Central, e as nomeações dos economistas: Carlos Hamilton para a Secretaria de Política Econômica; de Mansueto de Almeida na Secretaria de Acompanhamento Econômico; e de Marcelo Caetano na Previdência Social.
O nome de Maria Silvia Bastos Marques (ex-CSN) já havia sido referendado para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), assim como as posições de Jorge Rachid na Receita Federal e de Otávio Ladeira no Tesouro Nacional; e do secretário executivo da Fazenda, Tarcísio Godoy, que tinha trabalhado com o ex-ministro Joaquim Levy em 2015. "Ainda faltam alguns nomes a serem confirmados no Banco do Brasil e na Petrobras", completou Álvaro Bandeira.
Ontem, as ações preferenciais (PN) da Petrobras fecharam em baixa de 2,56%, enquanto das ordinárias (ON) mostraram queda de 1,12% afetadas pela proposta de emissão de títulos de dívida de 5 e de 10 anos em dólar.
O papel ON do Banco do Brasil registrou recuo de 4,83% devido a especulações sobre aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), enquanto Bradesco PN caiu 3,24% e Itaú PN recuou 2,13%.
Veículo: Jornal DCI