Consumidores devem sair de casa com uma lista de compras, fazer pesquisa e optar por marcas diferentes
A forte alta dos preços dos alimentos está tirando o sono dos consumidores. Com o desemprego em disparada e a renda em queda, acomodar os reajustes no orçamento apertado se tornou um problema de difícil solução. Para não retirar ainda mais produtos dos carrinhos dos supermercados, o jeito está sendo recorrer a promoções, substituir produtos e gastar muita sola de sapato em pesquisas. Mas, apesar de todas as estratégias, nem sempre é possível driblar a carestia. O prato predileto dos brasileiros, o arroz e o feijão, está cada vez mais caro. Somente o preço do feijão carioquinha subiu 33,5% neste ano.
Como não há perspectivas de a inflação dos alimentos dar trégua — as projeções apontam para alta média de 11% neste ano —, os consumidores terão que mudar os hábitos. Professor de finanças da Fundação Dom Cabral, Haroldo Mota é enfático. Para ele, os brasileiros não devem se prender às compras mensais, realizadas assim que recebem o salário. Desse jeito, acabam não se beneficiando de promoções e não comparam preços. “O ideal é adequar as compras às necessidades semanais, e sempre aproveitar as melhores oportunidades para economizar”, indica. Ele aconselha que os consumidores visitem mais de um supermercado, comparem o valor dos mesmos produtos e ainda aproveitem os dias de oferta.
Mas é preciso cuidado. Mesmo as promoções podem oferecer armadilhas. “É sempre importante ficar de olho nas ofertas ou liquidações, sobretudo de alimentos. Veja a data de validade, principalmente dos laticínios. Ao redobrar a atenção, pode-se prevenir futuros transtornos”, destaca Mota. Outra dica importante: confira o valor dos produtos quando estiver no caixa. São comuns os casos em que há divergência no preço que está na prateleira e o que é registrado na nota. “Não se enganem com cartazes de ofertas nas gôndolas, porque elas podem ter acabado. Por isso, é importante acompanhar o registro de todos os produtos no caixa”, aconselha.
Sair de casa com uma lista contendo itens essenciais também pode resultar em boa economia ao fim das compras, pois se evita cair na tentação dos supérfluos. Esse controle fica mais fácil se os consumidores tiverem em mãos uma calculadora e não se prender a marcas tradicionais. Na crise, vale mais a criatividade do que o tradicionalismo. Foi o que fez a cabeleireira Maria José da Silva, 48 anos. “O feijão está valendo ouro. Reduzi a quantidade que queria comprar. Também não está dando para levar leite para casa. Vou esperar uma promoção”, diz.
Com isso, nos últimos meses, os hábitos alimentares mudaram na casa de Maria José. “Só estamos comendo o que está sendo vendido com descontos nos supermercados. Carne, nem pensar”, assinala. Na tentativa de aliviar o bolso, ela acompanha todas as ofertas dos supermercados e fica atenta aos panfletos para não perder nenhuma boa oportunidade. “Jamais deixo de comparar os preços. Saio de casa sabendo aonde vou e o que preciso comprar”, afirma. Ela ressalta que as frutas, os legumes e as verduras são comprados semanalmente. “A batata está muito cara, então, tenho optado pela mandioca e pela abóbora, que estão mais em conta”, receita.
Para se ter uma ideia da carestia, em maio, o custo da cesta básica aumentou em 17 capitais brasileiras segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A razão, explica o economista José Luiz Amaral Machado, é que a oferta de vários produtos diminuiu devido às condições climáticas, que atrapalham a produção. “Estamos com problemas de estiagem em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, especialmente na que produzem feijão. Isso acaba batendo no bolso dos consumidores”, explica.
A cabeleireira Cida Fonseca, 54, não entende muito bem esses problemas climáticos, mas reconhece que os alimentos estão dando uma sova no orçamento das famílias. Semanalmente, ela lista os produtos que precisa comprar para evitar gastos desnecessários e desperdício. “É melhor diminuir na quantidade, pois não adianta comprar e esbanjar em casa e acabar indo tudo para lixeira. Não há dinheiro para isso. Pode falar para outras coisas importantes”, argumenta. Ela diz que, nos últimos meses, reduziu a quantidade de produtos no carrinho, pois o salário já não é suficiente para pagar todas as contas.
Apesar de deixar de comprar alguns produtos ou trocar de marcas, Cida se vê obrigada a arcar com o aumento de alguns itens que, para ela, são insubstituíveis. Um deles é a batata-inglesa, que já teve alta de 50,91% no ano e a cebola, que disparou 31,29%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Sinto no bolso essa variação de preços. Mas a gente não abre mão da salada, e às vezes, tem que pagar mais caro para manter uma alimentação saudável”, frisa.
Veículo: Correio Braziliense