Queda dos preços de produtos básicos e crise econômica no Brasil afetaram trocas em 2016, mas o continente segue entre as principais apostas para o comércio internacional nos próximos anos
São Paulo - À frente do Ministério de Relações Exteriores, José Serra colocou a África entre as prioridades de sua gestão e defendeu o aumento das trocas com os países do continente. Neste momento, as exportações para a região rendem menos para os brasileiros.
Foram recebidos US$ 3,597 bilhões com vendas para países africanos entre janeiro e junho deste ano, queda de 7% na comparação com igual período do ano passado, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
A diminuição na receita foi verificada tanto nos embarques de produtos básicos (-10%) quanto nas exportações de manufaturados (-15%). O rendimento das vendas de commodities caiu para US$ 1,166 bilhão no primeiro semestre. Já os ganhos com as mercadorias de maior valor agregado recuaram para US$ 1,369 bilhão.
Ainda assim, especialistas apontam que o continente é uma das principais apostas para o comércio internacional. "Temos que prestar mais atenção nos países africanos", cravou Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). "A queda neste ano foi causada pelo recuo das commodities e pela crise no Brasil, fatores que serão superados", indicou ele.
O entrevistado destacou os crescimentos econômico e populacional da África. "Entre 2000 e 2010, sete entre os 10 países com maior alta do PIB eram de lá. Nos próximos anos, vários países africanos devem entrar na lista dos mais populosos no mundo. E são populações jovens", disse ele.
De acordo com o professor, os produtores brasileiros de manufaturados podem se beneficiar neste cenário, mas terão que enfrentar a concorrência de europeus e americanos.
"A África oferece uma grande oportunidade para a venda de mercadorias com maior valor agregado, porque eles já são produtores de commodities. Cabe ao governo brasileiro melhorar a infraestrutura e a organização tributária para que os empresários tenham condições de competir, por exemplo, com os europeus, que já saem na frente pela vantagem geográfica", afirmou.
Já Ivan Fernandes, professor de políticas públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), indicou uma mudança da relação entre Brasil e África, que deve ter maior enfoque econômico e menor viés político nos próximos anos.
"Na última década, tivemos uma grande aproximação com os países africanos, que se deu em esfera mais diplomática e política, com abertura de várias embaixadas", disse. Segundo Fernandes, esse movimento tinha como objetivo aumentar "a influência brasileira no cenário global".
O governo interino, entretanto, apresentou "maior voluntarismo" com a política comercial, comparou o especialista. Para ele, o foco será em ganhos econômicos no curto prazo. "E não mais em uma expansão política no longo prazo", acrescentou.
Principais produtos
No primeiro semestre deste ano, a lista de mercadorias brasileiras mais compradas pelos africanos tem açúcar (US$ 893 milhões) e carne bovina (US$ 354 milhões) nas primeiras colocações.
Os gastos com manufaturados aparecem divididos entre vários produtos, como veículos (US$ 43 milhões) e tratores (US$ 40 milhões).
A tabela com as mercadorias mais compradas pelos brasileiros é dominada por produtos básicos, com petróleo (US$ 1 bilhão) na primeira posição.
Veículo: DCI