Ao reduzir em 0,7 pontos percentuais a projeção de inflação para 2009, o Banco Central (BC) informou em seu "Relatório de Inflação" que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) está projetado em 4% para este ano, índice inferior ao estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em sua meta anual (4,5%). A avaliação foi feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre as perspectivas para a inflação e para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) até o primeiro trimestre de 2011 .
Para Mauro Calil, professor do Centro de Estudos e formação de Patrimônio Calil &Calil, a redução tem um fator preponderante. "A redução do IPI para produtos ligados à construção civil e também a prorrogação para os automóveis remetem à redução."
Esta projeção mais otimista em relação a inflação basearam as decisões do Copom para redução da taxa básica de juros nas reuniões realizadas neste ano, que chegou a 11,25% ao ano.
Calil argumenta que "estamos reduzindo a inflação e com isso, damos margem para a redução da taxa de juros [Selic]".
A taxa de câmbio permanecerá em R$ 2,35. Este ajuste da taxa básica de juros terá efeitos defasados e cumulativos sobre a atividade econômica e a inflação. Para os últimos trimestres de 2009 e de 2010, essas expectativas passaram de R$ 2,20 para R$ 2,30. Para o primeiro trimestre de 2011, as expectativas projetam uma taxa de câmbio de R$ 2,30. Já a projeção para a inflação em 2010 foi revisada, e passou de 4,2% para 4%. Para o primeiro trimestre de 2011, a estimativa é de 3,9%.
No cenário de mercado, a previsão para a inflação de 2009 (4,1%) é 0,1 p.p. superior à associada ao cenário de referência, e 0,4 p.p. inferior à constante do último relatório. Para o próximo ano, a estimativa passou de 4,3% para 4, 4%. Para o primeiro trimestre de 2011, a estimativa é de 4,3%. Ainda de acordo com esse cenário, o crescimento do PIB previsto para 2009 é de 1,2%, 2,0 p.p. abaixo do projetado no "Relatório de Inflação" de dezembro de 2008, com superávit primário de 3,3% do PIB em 2009 e 3,8% do PIB em 2010 e 2011.
Crédito
Segundo o BC, o cenário mais provável para uma recuperação da economia global acontecerá apenas em 2010. "A crise econômica global ainda não apresenta 'sinais convincentes' de arrefecimento, apesar de diversas medidas expansionistas adotadas pelo Federal Reserve e outros bancos centrais", informa o Relatório.
No que se refere ao cenário prospectivo, as expectativas de analistas de mercado e de representantes do setor bancário indicam que o crédito continuará a se expandir em 2009, embora deva haver desaceleração em relação a 2008, e em consequência, o cenário mais provável indica que a recuperação econômica global, que para muitos analistas viria no segundo semestre de 2009, só ocorrerá em 2010.
De acordo com o BC, a depreciação cambial, ocorrida desde setembro de 2008, junto com a queda do preço das matérias-primas (commodities), tem se mostrado até o momento mais benigna do que o antecipado.
Investimento externo
A tendência de redução do superávit comercial continuou nos dois primeiros meses de 2009. De fato, até fevereiro o saldo comercial atingiu US$ 1,2 bilhão, valor 29,9% inferior ao obtido em igual período de 2008. Os efeitos da crise global sobre o fluxo mundial de comércio - tanto pelo menor nível de atividade econômica global como pela queda de preços, em especial das commodities - permitem antecipar diminuição do volume exportado em 2009, fato que não ocorre desde 1999. As projeções consensuais são de retração da atividade nos EUA, Europa e Japão, que não seria totalmente compensada pelos bolsões de dinamismo econômico existentes entre as economias emergentes. Há evidências de debilidade mais pronunciada da atividade econômica na Europa e em partes da Ásia.
As perspectivas para a economia global se deterioraram adicionalmente desde a publicação do último relatório, assim como o balanço de riscos, com viés ainda mais negativo para a atividade. Em janeiro de 2009, a absorção de bens de capital se retraiu em 19,6% comparativamente ao mesmo mês de 2008, sendo fortemente afetada pelas quedas de 12,4% das importações de bens de capital e de 13,3% na produção desses bens. Na mesma base de comparação, a produção de insumos para a construção civil também recuou fortemente em janeiro (-9,7%).
O indicador de demanda global da Sondagem Conjuntural da Fundação Getulio Vargas junto à indústria mostra que, após a queda do patamar de 121 em setembro para 65 em janeiro, o indicador se elevou para 70 em fevereiro, igual à dezembro.
Veículo: DCI