Reações ao impeachment prejudicam imagem, mas não devem frear vendas

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Especialistas falaram sobre a retirada de embaixadores por vizinhos sul-americanos, as críticas feitas em editoriais de jornais estrangeiros e a oposição por congressistas americanos e europeus


São Paulo - As críticas internacionais ao processo de impeachment, como a retirada de embaixadores por Bolívia, Equador e Venezuela, não devem prejudicar as relações comerciais do Brasil. Entretanto, há prejuízo para a imagem do País, afirmaram especialistas.

"O governo de [Michel] Temer vai ter que fazer uma campanha para melhorar a impressão dos estrangeiros, não só da América do Sul, mas também de países desenvolvidos que têm noção confusa sobre o Brasil", disse Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.

O entrevistado mencionou os editoriais de importantes jornais americanos e europeus, que criticaram o impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff. Ele também citou a oposição ao processo de afastamento por congressistas americanos e europeus.

Segundo Barral, esse movimento gera uma imagem ruim para investidores, mas não chega a comprometer as exportações brasileiras. "Até agora, nenhum desses países nos ameaçou com qualquer tipo de retaliação comercial ou suspensão de acordos."

Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), seguiu a mesma linha. "Não acredito que esses posicionamentos tenham potencial para afetar os negócios vigentes do Brasil."

Por outro lado, ele mostrou incerteza quanto ao avanço de acordos que envolvam o Mercosul, os Estados Unidos e a União Europeia.

"As negociações que não são urgentes devem ser adiadas até 2019 [após eleições presidenciais], para momento de maior estabilidade política", diz. Assim, estariam prejudicados principalmente os acertos com o bloco sul-americano.

"Há uma disparidade muito grande dentro do Mercosul que vai ser difícil de resolver. Além do Uruguai e da Venezuela, que têm posicionamento oposto ao do Brasil, a Argentina também não deve nos apoiar com muita ênfase."

Para o professor, o presidente argentino Maurício Macri deve evitar a aprovação do processo de impeachment por enfrentar forte oposição em seu país. "Ele não vai querer que essa ideia ganhe força por lá também", justificou.

No sentido contrário, Santos apontou que as relações com China e Rússia não devem sofrer nenhum impacto. "São países com menor apreço democrático que os europeus, por exemplo. Acredito que os chineses e os russos não darão muita atenção à forma como se deu o impeachment."

Diplomacia

Sobre a retirada dos embaixadores por Bolívia, Equador e Venezuela, Barral disse que se trata de um "sinal diplomático grave", mas que não necessariamente implica em mudanças econômicas.

Já Santos destacou que os vizinhos sul-americanos têm grande dependência comercial do Brasil e, por isso, não devem propor sanções ou restrições comerciais ao País.

"Eles não têm muita margem de manobra para enfrentar o Brasil e provavelmente sairiam perdendo", disse. "A Bolívia, por exemplo, recebe grande quantia com a venda de gás natural", completou.

Entre janeiro e julho, os brasileiros gastaram US$ 788 milhões com a mercadoria exportada pelos bolivianos. Em igual período, todas as vendas do Brasil para o vizinho sul-americano totalizaram US$ 822 milhões. As informações são do Ministério Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Trocas comerciais


Em 2016, houve queda nas receitas dos embarques brasileiros para os três países que retiraram seus embaixadores após o processo de impeachment.

Na comparação com igual período de 2015, as vendas para a Bolívia caíram 2,4%. Já as exportações para o Equador recuaram 12,3% (para US$ 345 milhões) e os embarques para a Venezuela despencaram 62% (para US$ 657 milhões).

Também caíram as compras brasileiras dos países. Recuaram as importações da Bolívia (-49%, para US$ 817 milhões), do Equador (-12%, para US$ 345 milhões) e da Venezuela (-40%, para US$ 280 milhões).

Fonte: DCI


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