Com retirada de barreiras, venda de produtos básicos subiu 32% e embarques de manufaturados dispararam 269%; segundo especialista, trocas comerciais devem aumentar nos próximos meses
São Paulo - As exportações do Brasil para o Irã cresceram 44% e chegaram a US$ 1,470 bilhão no acumulado de janeiro e agosto deste ano. Com isso, o país asiático pula 12 posições na lista dos maiores compradores de produtos nacionais.
Os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram que houve aumentos nos embarques de soja, milho e açúcar, na comparação com igual período de 2015. Também foram iniciadas exportações domésticas de diversos produtos industrializados.
Essas mudanças possibilitaram uma expansão ainda maior - de 66% - do volume das mercadorias exportadas para o Irã, que chegou a 4,890 bilhões de quilos neste ano, frente a 2,951 bilhões de quilos em oito meses de 2015.
A principal razão do avanço é o fim das sanções econômicas aos iranianos. Após cumprir sua parte em um acordo sobre desenvolvimento nuclear, o país viu grande parte das barreiras comerciais e de investimentos caírem em 2016.
"Os bancos do Irã estão voltando às transações internacionais, o que agiliza a economia e encoraja empresários de outros países", apontou Jorge Mortean, sócio do Mercator Business Intelligentsia, consultoria especializada nas trocas entre Brasil e Oriente Médio.
Outro fator importante seria a liberação de US$ 100 bilhões em ativos para os iranianos. "São recursos que estavam congelados há décadas e, agora, aumentam o fluxo de caixa do país [Irã]", explicou o especialista.
Segundo ele, a tendência para os próximos meses é de uma evolução ainda maior nas negociações entre os países. Isso porque está sendo acertada a compra futura de produtos agrícolas, como grãos e açúcar.
Se o ano fosse encerrado hoje, o Irã já saltaria 12 posições na lista de maiores importadores de produtos brasileiros, chegando ao vigésimo primeiro lugar. Em 2015, o país ficou na trigésima terceira posição, com US$ 1,666 bilhão em compras durante os 12 meses.
Industrializados
Ainda que representem uma parcela menor da pauta de exportações para o Irã, os produtos manufaturados auxiliaram o aumento das transações.
Entre janeiro e agosto, foram recebidos US$ 188 milhões com essas mercadorias, um aumento de 269% na comparação com igual período do ano passado.
A expansão foi possível graças ao começo das vendas de vários produtos em 2016. Entre eles, chassis, carrocerias, papel, sucos, pasta química de madeira e motores geraram US$ 45 milhões em oito meses.
Mortean indicou que os iranianos estão renovando sua frota de transporte e devem ampliar as importações do Brasil de peças para veículos. Ele ainda mencionou a encomenda de 50 aviões da Embraer pelos asiáticos e um possível aumento nas compras de carros brasileiros.
Já a venda de produtos básicos registrou avanço de 32% neste ano, com ganhos de US$ 1,281 bilhão. Entre os principais itens exportados pelo ramo, a maior alta, de 105%, foi vista na exportação de soja, que atingiu US$ 433 milhões.
Para Mortean, os embarques de carne bovina devem estar entre os destaques positivos nos próximos meses. Em oito meses deste ano, entretanto, as vendas do item caíram 19%, para US$ 215 milhões.
Economia em alta
Além da retirada dos embargos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Irã também deve incentivar o aumento das compras desse país.
De acordo com as projeções do Banco Mundial, a atividade econômica local deve ter aumento de 4,4% neste ano e de 4,9% no ano que vem. A perspectiva mostra grande salto em relação ao resultado de 2015, quando o PIB teve aumento de 1,6%.
O avanço previsto para 2016 supera os esboços para outros países da região, como Arábia Saudita (1,9%), Tunísia (1,8%) e Marrocos (1,7%).
Mais um elemento favorável para o avanço das negociações seria o arranjo da população iraniana, a segunda maior da região, atrás apenas do Egito.
"São cerca de 30 milhões de habitantes e dois terços deles têm menos de 35 anos. Além disso, a renda per capta por paridade de compra chega a US$ 17.500, superando à média registrada na América Latina", disse Mortean.
Segundo o entrevistado, esse cenário cria oportunidades para brasileiros que queiram investir no setor de serviços. Ele afirmou que franquias nacionais, como a Yogoberry, já migraram para o Oriente Médio.
Fonte: DCI