Alta renda tende a migrar para cartões de loja

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A restrição bancária tem impulsionado consumidores para o crédito mais fácil e aumentado a busca dos varejistas pelo plástico próprio como forma de aumentar vendas e fidelizar clientes

 


São Paulo - Com a maior restrição de recurso bancário, clientes de alta renda migram para cartões de crédito focados em classes mais baixas, e plásticos oferecidos por varejistas ganham força no mercado. A inadimplência no segmento, no entanto, preocupa especialistas.

Levantamentos realizados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram que quatro entre dez consumidores possuem cartão de loja e que, do total de compras realizadas nesses plásticos, 73,1% dos usuários acabam com o nome no cadastro de devedores.

De acordo com a economista-chefe do birô de crédito, Marcela Kawauti, com os financiamentos tradicionais mais seletivos ante a alta inadimplência, os cartões oferecidos por lojas ganham força entre os consumidores.

"É a forma que as pessoas encontram para conseguir recursos. Mas é preciso cuidado, porque sempre que o crédito é fácil, o juro é alto e a dívida, cara", identifica a economista.

Os últimos dados do Banco Central (BC) apontam para uma queda de 7,7% nas concessões de agosto em relação a igual mês do ano passado.

Para José Renato Simão Borges, presidente da Credz, no entanto, as compras não são feitas apenas por consumidores das classes C e D, para os quais esses cartões são voltados, mas pessoas de renda mais alta também estão migrando suas compras.

"É um aperto generalizado, com crédito difícil para todo mundo. Isso, sem dúvida, acaba aumentando a propensão desse público de procurar outros produtos, o que favorece esse tipo de demanda", explica Borges, presidente da Credz.

Segundo Juan Agudo, sócio-diretor da DMCard, houve uma mudança no perfil de consumo e do consumidor.

"De um lado, o gasto nominal das classes C, D e E caiu 9% em agosto na relação com igual mês do ano passado. Por outro lado, o número de perfis que nunca ficaram inadimplentes aumentou sua procura por esse tipo de cartão", identifica o executivo.

Agudo ainda ressalta que outro fator que tem impulsionado o segmento também é a busca de varejistas por um cartão próprio, com o objetivo de aumentar suas vendas e fidelizar seus clientes.

A DMCard, administradora de cartões focada no varejo, registrou, em agosto, um aumento de 32% no número de novos clientes em comparação com o mesmo mês do ano passado.

"A gente vê que os bancos não têm mais interesse no público que nós atendemos. Esse é o motivo de estarmos crescendo tanto", diz Agudo.

Controle financeiro

Apesar de o surgimento recente de cartões sem cobrança de anuidade (como o Nubank) não preocupar os executivos do setor, a economista do SPC afirma que a organização do orçamento oferecido por essas plataformas é positiva.

"Entre os produtos que estão absorvendo os clientes, os novos cartões possibilitam um controle financeiro muito eficiente, o que melhora o quesito inadimplência e a forma de se usar o plástico", conclui.

Dados do birô apontam que o número de inadimplentes estava em 58,9 milhões em julho, número 0,3% menor do que junho, mas ainda equivalente a 39,6% da população adulta brasileira.

Fonte: DCI


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