Data tradicionalmente associada à alegria, o Dia das Crianças pode representar, neste ano, um sopro de ânimo também ao comércio. Ao contrário de 2015, quando o varejo registrou queda nas vendas de presentes para os jovens, desta vez a expectativa é por uma alta no faturamento das lojas. As projeções variam de 5% a 7% de crescimento. O resultado, como sempre, deve beneficiar principalmente as lojas de brinquedos, que já sentem os efeitos positivos desde o início do mês. A pequena Carmela é um exemplo. Ela foi ao shopping com a mãe, Juliana Veiga Lima, ver as opções de presentes.
"Até o fim de setembro, o mercado vinha mal, com movimento muito baixo durante todo o ano, e de lá para cá começou uma reação", comenta a supervisora da Del Turista, Beatriz Dias. O grande aumento no fluxo é uma esperança para a rede de sete lojas de brinquedos, que vê os consumidores com maior confiança do que em 2015. Além disso, mesmo a crise econômica em si é vista por um lado bom pelo setor, pois há a leitura de que os brinquedos possam ser usados como compensação pelos pais a mudanças de comportamento, como menos viagens nas férias, por exemplo.
O movimento nas lojas teria sido surpreendente nos primeiros dias de outubro, inclusive no domingo de eleição. "Tínhamos até escalado menos vendedores esperando pouco fluxo e nos arrependemos", brinca Beatriz, que projeta um crescimento de até 5% nas vendas da rede em relação ao último Dia das Crianças. "O aumento vai ser pequeno, mas até se empatar já está bom", argumenta a supervisora. O tíquete médio, acredita, deve ficar em torno de R$ 120,00. Na Ri Happy, rede paulista com três lojas na Capital, a expectativa é por um crescimento de 6%, segundo a diretora de marketing, Flávia Drummond.
As projeções das redes seguem em linha com as feitas pelas entidades. Pesquisa feita em conjunto entre o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-Poa) prevê um crescimento real de 6,28% nas vendas para a data, totalizando R$ 62,12 milhões em faturamento. O tíquete médio também deve crescer, de R$ 78,03, em 2015, para R$ 82,93. O presidente do Sindilojas, Paulo Kruse, analisa a pesquisa como um "otimismo moderado".
O dirigente argumenta que alguns fatores, como a greve dos bancários, acabaram afetando as vendas nos primeiros dias do mês, mas aposta nas promoções das redes como forma de atrair os consumidores. "Com o crescimento da confiança, as pessoas passaram a presentear mais, o que aumenta a expectativa das crianças. Vamos recuperar um pouco de terreno, mas talvez não de maneira tão significativa", argumenta. Mesmo que a projeção da pesquisa se confirme, o valor não é maior do que o movimentado em 2014, por exemplo, quando as entidades apontaram volume total de R$ 62,24 milhões em vendas - no ano passado, a data gerou apenas R$ 59,13 milhões na Capital.
Já no Estado, a expectativa é incrementar o varejo em relação ao mês de setembro. A data deve subsidiar um faturamento até 7% maior do que no mês passado, segundo levantamento realizado pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL). A entidade projeta um tíquete médio em torno dos R$ 90,00.
Indústria se beneficiou com dólar mais caro e espera acréscimo de 12% no faturamento com a data
Além do comércio, a indústria de brinquedos também tem motivos para comemorar. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos, o incremento no faturamento neste ano em relação ao Dia das Crianças de 2015 pode chegar a 12%. O principal motivo é o movimento de alta do dólar no início de 2016, que fez migrar boa parte do consumo de brinquedos dos importados para os de produção nacional. De janeiro a agosto, a entidade calcula em 29% a redução na importação de brinquedos no País.
Os preços também estariam estagnados, apostando na maior escala. De 2010 para cá, o consumo por criança brasileira aumentou de cinco para sete brinquedos por ano, com 60% da oferta dos produtos abaixo de R$ 50,00. As lojas corroboram o cenário, expondo muito mais produtos nacionais em suas gôndolas do que nos últimos anos. "Temos ênfase nos fornecedores nacionais, que nos permitem maior segurança nas negociações", comenta a supervisora da Del Turista, Beatriz Dias, que saúda também a melhoria na qualidade dos brinquedos brasileiros.
Principal indústria gaúcha, a Xalingo, de Santa Cruz do Sul, acusa crescimento de 5% nas vendas para a data em relação ao ano passado. "É uma expansão considerável, visto que o mercado ainda está muito incerto", analisa a gerente de marketing da empresa, Tamára Campos. Ao contrário de outros anos, as lojas estão trabalhando com estoques menores, o que gera expectativa na gerente de que haja recompras na sequência do Dia das Crianças, inclusive já para o Natal.
Embora demonstre otimismo também para dezembro, quando espera que os produtos de maior valor agregado tenham maior giro com o incremento do 13º salário na economia, Tamára vê o Dia das Crianças como fundamental à empresa. "As lojas se permitem comprar em maior volume agora, porque ainda tem o Natal pela frente. Já em dezembro, se não vender, é mais problemático", argumenta a gerente.
Veículo: Jornal do Comércio - RS