Dívidas limitam retomada de aportes na lavoura em momento de preço alto

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As altas temperaturas e a falta de chuva afetaram a florada no ano passado e comprometeram grande parte da produção de laranja em 2016. Para 2017 a perspectiva do produtor rural é positiva

 

 

São Paulo - A atual combinação entre quebra de safra e estoques baixos resultou em um salto nos preços pagos pela laranja. Porém, endividados, os produtores não têm revertido a remuneração em investimentos nos pomares e perdem o fechamento de contratos melhores. Do interior de São Paulo, o citricultor e presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, conta que colheu 60 mil caixas de 40,8 quilos da fruta nesta temporada, quando, normalmente, produzia 150 mil caixas. "O que aconteceu aqui segue o padrão do resto do estado. Temos preços de até R$ 26 por caixa, considerados muito altos, mas poucos estão conseguindo se beneficiar", afirma. Segundo ele, os agricultores que não fecharam contratos antecipados com a indústria - e têm produto - saíram favorecidos, entretanto, a grande maioria tem utilizado o valor apenas para quitar dívidas.

 

A florada do ano passado, que aconteceu entre os meses de outubro e novembro, foi amplamente afetada por estiagem e escassez hídrica em algumas regiões. Em consequência, a oferta de 2016 ficou comprometida. Dados do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), divulgados na semana passado, revisaram para baixo a estimativa de safra 2016/2017, para 244,20 milhões de caixas, 1,9% menor que a projeção dada em setembro deste ano pela entidade.

 

"Em várias regiões do cinturão, foram registradas temperaturas muito altas (acima de 35 graus), que permaneceram por dias consecutivos. De novembro de 2015 a março de 2016, ocorreram chuvas acima da média histórica, que foram desfavoráveis ao surgimento de novas floradas significativas", explica o coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, Vinícius Trombin.

 

Neste contexto, os indicadores da fruta dispararam. Em novembro, a média de preço para a laranja posta na indústria avançou 84,8%, de R$ 13,9 por caixa para R$ 25,69, na variação anual, conforme levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O sócio da consultoria Markestrat, José Carlos de Lima Junior, avalia que o cenário também é fruto de pelo menos cinco anos de remuneração depreciada, marcados por estoques altos ou problemas sanitários, como o greening, que ocasionaram a erradicação de pomares, endividamento e falta de investimentos no campo.

 

"O produtor foi colocado em uma situação que posicionava em cheque até a própria viabilidade da atividade. Hoje, as receitas são interessantes, mas só vai ter essa rentabilidade o citricultor com condições adequadas na lavoura, se a cultura dele for bem cuidada", ressalta o especialista. O presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, lembra que o Estado de São Paulo já contou com cerca de 30 mil citricultutores e, atualmente, restaram em torno de 7 mil. O abandono da atividade exemplifica o nível de endividamento do setor, visto que o montante exato de dívidas é difícil de ser mensurado.

 

Daqui para frente, a conjuntura é mais favorável para a cadeia produtiva. "Também tivemos temperaturas elevadas nas floradas de 2016, mas com certeza a produção do ano que vem será melhor", projeta Sanches, presidente do sindicato de Ibitinga (SP). Em termos de preço, o sócio da Markestrat acredita que é provável uma extensão no horizonte positivo ao produtor, visto que a oferta global da laranja é baixa.

 

 

Mercado externo

 

Em contrapartida, o valor pago pela oferta ainda não se reverteu nos preços do produto final, o suco. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que houve queda de 6,7% na remuneração média pela bebida, para US$ 851 por tonelada, em novembro quando comparada ao mesmo período de 2015. De janeiro a novembro, a retração acumulada chega a 12,6%. Considerado o ano-safra de 2016/2017, entre julho e novembro, o País registrou recuo de 5% no volume de exportações de suco de laranja e 1% em faturamento, contra o mesmo período do ciclo passado. Na União Europeia, maior consumidor de suco no mundo, a queda foi de 18%.

 

"Ainda é cedo para avaliar porque falta metade safra. Até o momento, pode haver alguma interferência do volume de suco para as exportações ou a retração [nas vendas externas] pode ser alguma resposta do consumo sobre a valorização do produto", argumenta o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto. Nos Estados Unidos, por exemplo, forte produtor e consumidor global da cadeia, o consumo diminuiu 8%, enquanto nos na gôndola cresceram 3%. "Cada ponto percentual de alta no valor da gôndola corresponde a, pelo menos, dois pontos a menos na demanda", comenta Netto.

 

 

Nayara Figueiredo

 

 

 

Fonte: DCI - São Paulo

 

 

 

 

 


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