Indústria espera retomada da alimentação fora do lar no País

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Redução do endividamento das famílias e o consequente aumento da renda disponível poderão sustentar um crescimento das vendas de alimentos para restaurantes e lanchonetes


São Paulo - A indústria brasileira de alimentos está apostando na retomada do crescimento das vendas de produtos para alimentação fora do lar na segunda metade do ano. Depois da forte expansão, nos últimos anos, o segmento acabou perdendo ritmo junto com a queda na renda dos brasileiros. "No fim do segundo semestre, as vendas para food service podem ter uma recuperação, porque a expectativa é que as pessoas voltem a comer fora de casa", comentou ontem o economista da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro.


As vendas de food service compiladas pela Abia, que consideram apenas produtos destinados a estabelecimentos de alimentação, avançaram 7,1% para R$ 154,2 bilhões em 2016, sem descontar a inflação. O crescimento foi menor do que o ano anterior e, descontada a inflação de 6,29% no último ano é quase zero, destaca ele.


Na visão do economista-chefe da Modalmais, Álvaro Bandeira, a perspectiva de aumento nos gastos com lazer, incluindo refeições, também melhora conforme a renda disponível volta a crescer. "Temos uma expectativa de que a economia vai começar a se recuperar, com a população reduzindo o nível de endividamento e com isso diminui o comprometimento da renda. Mais renda disponível pode se traduzir na compra de mais alimentos", explicou.


O presidente da Abia, Edmundo Klotz, acrescentou que o setor está "moderadamente otimista" com este ano. "Mesmo sabendo que não vamos atingir uma maravilha de resultado, mas tivemos um 2016 razoável, com aumento das vendas em termos nominais", disse. As vendas reais (descontadas a inflação) da indústria caíram 0,63% em 2016. Segundo a Abia, o recuo foi menor do que o visto no ano anterior, de 2,73%. Em 2017, a estimativa da entidade é de uma alta entre 0,7% e 1,5% nas vendas reais de alimentos. Já a produção do setor deve ficar entre 0,6% e 1,2%, depois da retração de 0,96% em 2016.

 

Retomada
"Devemos ter uma recuperação tímida da atividade industrial, com o primeiro semestre ainda com sinais de que será ruim", acrescentou Bandeira. Com a expansão tímida das vendas e da produção prevista para o ano, os investimentos do setor de alimentos continuarão em patamares baixos. De acordo com a Abia, os aportes na indústria no ano passado somaram R$ 9,0 bilhões, queda de 14,3% na comparação com o investido em 2015.


"Saímos de uma situação de pleno emprego, com grandes investimentos nas regiões Norte e Nordeste do País, para uma crise na qual as empresas não vão pensar em investir novamente enquanto a situação não se normalizar minimamente", avaliou o dirigente da Abia. Para ele, embora o Norte e o Nordeste tenham recebido aportes relevantes nos últimos anos, a melhora na atividade da indústria de alimentos deve começar em regiões mais ricas do País, como Sudeste e Sul.


Klotz lembrou também que, apesar do baixo nível de aportes no setor, o preço dos ativos tem atraído investidores para aquisições. "Isso mostra a confiança do mercado no setor." As fusões e aquisições no setor cresceram 26,0% no último ano, totalizando R$ 11,6 bilhões. Para Klotz, o número crescente de operações é explicado pela busca por alternativas à construção de novas fábricas, com investidores adquirindo plantas prontas.


Mas essas unidades não devem se traduzir em entrada de novos produtos no mercado ou expansão de linhas de maior valor agregado. "Os alimentos mais baratos continuarão apresentando melhor desempenho neste ano, porque o desemprego continua alto", afirmou Kotz. Já a analista de pesquisa da Euromonitor International, Renata Martins, vê espaço para a oferta de alimentos de maior valor agregado pela indústria.


"Embora um impacto adicional do ambiente econômico negativo seja a tendência dos consumidores serem mais conscientes sobre o preço, também é verdade que a saúde, a conveniência e a indulgência conduzirão os segmentos de valor agregado, atraindo os consumidores", disse a analista.


A oferta de alimentos com diferenciais pode ter forte peso em um mercado cada vez mais competitivo, ponderou ela. "Por esse motivo, as marcas de nicho se tornarão mais populares, pois são capazes de desenvolver relações mais estreitas com seus públicos-alvo e responder mais rapidamente às necessidades com inovação, tornando os consumidores mais leais aos produtos", acredita Renata.


Segundo ela, os segmentos de refeições prontas (+4,08%), molhos e condimentos (+3,34%), cereais (+2,85%) e frutas e vegetais processados (+2,83%) terão as maiores altas nas vendas este ano. Já sorvetes e sobremesas congeladas (-3,05%), confeitaria (-2,78%) e assados (-0,15%) vão recuar.

 

Campo
O bom desempenho da safra brasileira de grãos este ano está entre as principais apostas da indústria de alimentos para obter ganhos. "Isso deve ajudar em termos de crescimento [de volume], porque devemos ter uma boa safra de soja, milho e açúcar", observou Edmundo Kotz. Ele destacou que 58% dos alimentos que saem dos campos brasileiros passam por algum processo industrial no País.


"Teremos uma safra de grãos muito melhor do que foi no ano passado e isso influencia [o custo] das rações animais, que por sua vez influencia o preço das carnes. Por isso, acho que os preços dos produtos in natura continuarão baixos, sem muitos aumentos nos custos", disse Bandeira, da Modalmais. Com custos menores, as exportações de alimentos tendem a manter trajetória crescente. Neste ano, a estimativa da Abia é que as exportações do setor fiquem entre US$ 37 bilhões e US$ 40 bilhões.


No ano passado, o embarque de alimentos para outros países somou US$ 36,4 bilhões, alta nominal de 3,4% frente ao registrado em 2015, informou a Abia. Já as importações caíram 0,4% na passagem de 2015 para 2016, chegando a US$ 5,0 bilhões.


Jéssica Kruckenfellner


Fonte: DCI - São Paulo

 


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