São Paulo - O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve voltar a cair no segundo trimestre devolvendo parte do avanço de 1% verificado nos três primeiros meses deste ano, ante o quarto trimestre de 2016, conforme divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este avanço interrompeu oito quedas seguidas do indicador nesta base de comparação. Até o momento, a expectativa de consultorias ouvidas pelo DCI é de que o PIB tenha um recuo entre 0,2% e 0,3% nos meses de abril, maio e junho, em relação ao trimestre imediatamente anterior (na margem).
O economista da 4E Consultoria Thiago Curado - prevê queda de 0,2% na atividade do segundo trimestre - e avalia que os recentes números do IBGE precisam ser avaliados com "cautela em termos de otimismo", pontuando que a maior parte do crescimento de 1% do PIB (0,8 ponto percentual) veio do choque de oferta positivo da produção agrícola, algo que não deve se repetir ao longo do ano. Na margem, a agropecuária teve expansão de 13,4% até março.
"Para o segundo trimestre, já temos indicativos de que a produção industrial está patinando, em particular a automobilística. Isso pode reverter o crescimento que a indústria teve no primeiro trimestre [de 0,9%] ", afirma Curado. "Além disso, durante a primeira metade do segundo trimestre, tivemos um ambiente político muito instável, algo que, na nossa leitura, deve minar a confiança e impedir uma recuperação dos investimentos e do consumo na segunda parte do segundo trimestre", diz.
Do lado da oferta, os serviços (que são 73,3% do PIB), ficaram estáveis na margem durante o primeiro trimestre. Pelo viés da demanda, o consumo (64% do PIB) registrou a sua nona queda nesta base de comparação (-0,1%), ao passo que a formação bruta de capital fixo (FBCF, investimentos) diminuiu em 1,6%.
Riscos imediatos
A economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro avalia que a crise política tende a impactar negativamente a confiança e os investimentos sobretudo da construção civil e da indústria de máquinas e equipamentos. Para ela, o risco de retrocesso da confiança vem na esteira das incertezas com relação à aprovação das reformas, principalmente a da Previdência Social.
Ontem o diretor para a América Latina da Moody's Analytics, Alfredo Coutiño, chegou a afirmar também que a retomada do PIB pode ser interrompida por conta da crise política.
Na projeção da Tendências, o PIB do segundo trimestre deve registrar queda de 0,3% na margem. Alessandra pondera que há uma possibilidade de que os serviços e o consumo registrem um ligeiro avanço no período, influenciado pela alta da renda média real de 2,7% da população ocupada, no trimestre encerrado em abril; pelos reajustes nominais de salários, que estão em cerca de 6%, e pela liberação das contas inativas do FGTS. Alessandra informa que espera para os dois últimos trimestres de 2017 uma média de crescimento de 0,35%, levando a um avanço anual de 0,3%.
Já nas projeções da 4E, o PIB deve ter mais uma queda de 0,05% no terceiro trimestre, voltando a expandir 0,10% no quarto trimestre. Curado projeta ainda queda anual de 0,1% para o PIB de 2017 e uma expansão de 1,2% para 2018.
Já para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Istvan Kasznar o avanço da taxa de desemprego deve "jogar um balde de água fria" na perspectiva de recuperação do PIB no segundo semestre. "Com a taxa de desocupação chegando a 13,6% da população, a massa total de renda disponível na economia ficará menor. Diante desta notícia, não se festeja crescimento de 1%, principalmente quando este está relacionado a uma produção cuja metade foi para exportação", diz Kasznar.
Os dados do IBGE mostraram ainda que, quando comparado a igual período de 2016, o PIB caiu 0,4% no primeiro trimestre de 2017, o décimo segundo resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. Por setor, a agropecuária cresceu 15,2%, enquanto a indústria recuou 1,1%. Já os serviços caíram 1,7%. O consumo das famílias, por sua vez, diminuiu 1,9%, enquanto os investimentos retraíram 3,7%. As exportações avançaram 1,9% e as importações expandiram 9,8%.
Fonte: DCI São Paulo