O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve ter os desembolsos limitados até o final de 2018, reflexo dos indicadores de investimento do País e queda nas aprovações.
A depender da aprovação das reformas no Congresso, aposta dos especialistas é de melhora gradativa nas liberações e revisão na autorização de novos projetos.
Dados divulgados ontem pelo banco de fomento apontam que os desembolsos somaram R$ 33,483 bilhões no primeiro semestre, queda de 17% ante igual período de 2016 (R$ 40,120 bilhões).
Em junho, os empréstimos foram de R$ 5,765 bilhões e em 12 meses, foram R$ 81,614 bilhões, (-24% ante intervalo anterior).
Segundo o superintendente do planejamento e pesquisa do BNDES, Fabio Giambiagi, "não há como dissociar o desembolso do banco da trajetória do investimento".
"Continuamos com indicadores de investimento que deixam a desejar e a dinâmica continuará a ser afetada pela retração das aprovações", diz Giambiagi, e destaca que as aprovações baixas no passado também influenciarão esses números negativamente "por um tempo".
De janeiro a junho deste ano, as aprovações caíram 26,7% contra igual período de 2016, de R$ 43,910 bilhões para R$ 32,170 bilhões. No acumulado de 12 meses até o mês passado, a soma foi de R$ 67,89 bilhões, recuo de 38,2% ante período anterior (R$ 109,99 bilhões).
No primeiro semestre, a principal queda das aprovações (61%), ficou com a indústria, que fechou com R$ 6,582 bilhões (contra R$ 16,789 bilhões em 2016).
"Os fantasmas do passado ainda assombrarão o BNDES por tempos, principalmente porque tem muito a ver com a má gestão dos recursos do governo", avalia o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP), Fabio Pina.
Ele reforça que, assim, a trajetória depende da administração atual das contas públicas e das sinalizações das reformas previdenciária e trabalhista.
"O capital do BNDES também depende de aportes do governo. Para isso acontecer, porém, é preciso melhorar as contas públicas, com uma gestão fiscal diferente", explica Pina e exemplifica que caso o governo seja bem sucedido no ajuste fiscal e na reforma da Previdência, "haverá liberação de recursos para o banco e, consequentemente para outros lados também".
Em relação à recuperação dos números observados em desembolsos, porém, o professor de economia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, afirma que ainda há critérios macroeconômicos a serem abordados.
"Há a redução das taxas de juros e a confiança econômica, além dos níveis de inadimplência. Sem contar que estamos completamente sujeitos à falta de perspectiva política. Com isso, tudo ainda ficará em compasso de espera", analisa o professor da Fipecafi.
"O problema que nós temos é na qualidade e não na quantidade. Os desembolsos caíram por problemas fiscais, mas se os empréstimos forem bem direcionados, mesmo sendo menores, já veremos alguma diferença", complementa Pina.
"Lição de casa"
Na mesma linha, os especialistas ponderam a importância de gestão da nova presidência do BNDES, assumida em junho deste ano por Paulo Rabello de Castro.
"De qualquer forma, a lição de casa já está sendo feita e, com tudo no lugar, o objetivo será fazer uma melhor avaliação dos projetos", diz Pina.
Além disso, o papel social do banco de fomento também precisa ser revisto e "melhor definido". De acordo com o informado pelo BNDES, 40% do total de empréstimos feitos (R$ 13,4 bilhões) foram destinados para micro, pequenas e médias empresas - com faturamento anual de até R$ 300 milhões.
"O BNDES precisa ser um grande indutor no aumento de produtividade e benefícios sociais trazidos, principalmente, pelas pequenas e médias empresas. Os desembolsos para essas companhias tende a aumentar", diz Silvio Paixão.
Agro em alta
Quanto aos setores, a indústria teve R$ 6,921 bilhões em desembolsos, uma queda de 42% na comparação com igual intervalo do ano passado (R$ 11,847 bilhões). Em seguida, infraestrutura ficou com R$ 12,110 bilhões, recuo de 6% na mesma relação (R$ 11,942 bilhões) e o setor de comércio e serviços ficou em R$ 7,57 bilhões, 13% menor na mesma relação (R$ 8,681 bilhões).
A agropecuária foi o único segmento que demonstrou alta nos desembolsos no primeiro semestre deste ano (3%), com R$ 6,87 bilhões.
"A expectativa é que agropecuária siga puxando a atividade econômica e os desembolsos do banco e, a partir da estabilização do País, infraestrutura também terá forte papel nos empréstimos pelos próximos dez anos", conclui Silvio, da Fipecafi.
Fonte: DCI São Paulo