São Paulo - Como o governo atravessa um período de déficits anuais seguidos (2014-2018), ou seja, sem recursos para incentivar a infraestrutura, o crescimento do País depende do capital privado local e estrangeiro, mas estes estão limitados.
A continuidade da queda da taxa de juros (Selic) irá contribuir nessa decisão de destravar os aportes. Porém, na avaliação de especialistas consultados pelo DCI, um fluxo maior de investimentos com capital privado só deverá ocorrer a partir de 2019, a depender da definição política pelas eleições de 2018.
O atraso no programa de concessões do setor elétrico, saneamento, e de ferrovias, estradas, portos e aeroportos também empurra os novos investimentos para frente, e tende a ser financiado pela predominância do capital privado, face menor volume de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"O empresário local está muito cético sobre os rumos do País para investir. O volume de entrada de recursos estrangeiros está ajudando, mas é insuficiente para alavancar nosso crescimento", disse o professor e coordenador de administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que desde o final do segundo trimestre de 2014, os investimentos produtivos representados pela formação bruta de capital fixo (FBCF) estão em queda e permaneceram no negativo até os primeiros meses de 2017. E ontem, o Ministério do Planejamento anunciou um corte de 45% do Orçamento anual do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"O segundo semestre de 2017 será melhor que o primeiro. É uma retomada cíclica para quem se contenta com muito pouco. Uma volta mais significativa pode ficar para 2019", pondera Balistiero condicionado essa retomada ao resultados das urnas.
Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, os empresários locais só voltaram a investir se tiverem perspectiva de retorno financeiro e estiverem "confortáveis" com o ambiente econômico. Ao passo que o investidor estrangeiro tem reservado apenas uma parte para aportes no Brasil, dada a necessidade de correr mais riscos nos países emergentes enquanto as taxas de juros ainda estão baixas nas economias desenvolvidas.
"Hoje há incerteza sobre o faturamento e a lucratividade no médio prazo. O empresário só está investindo quando precisa de um equipamento que aumente a produtividade, ou para substituir a mão de obra por gente nova qualificada e a preço menor", argumentou.
Paixão lembrou que no atual ambiente de desemprego, com 14 milhões de pessoas procurando trabalho, há também a entrada de 1 milhão de jovens no mercado, boa parte recém-formada na universidade.
Em outras palavras, a retomada esperada para próximo ano não produzirá aumento dos empregos ou incremento na renda dos trabalhadores. "É um crescimento que não gera empregos", afirma Paíxão.
Na visão do professor da Saint Paul Escola de Negócios, Mauricio Godoi, a economia brasileira irá crescer em torno de 2% em 2018. "A baixa da Selic para um dígito é um sinal para investimentos, e ainda temos um mundo um pouco melhor para exportações", diz.
Ele observou que desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a curva negativa da formação bruta de capital fixo, que esteve em -15% em junho de 2016, começou a diminuir e atingiu -6,7% em março de 2017 . "Está negativa, mas a expectativa é mais positiva, de recuperação lenta e gradativa", compara.
Mesmo mais confiante, Godoi aponta a necessidade das reformas estruturantes. "O teto dos gastos e a reforma da Previdência são o núcleo da política fiscal. Se o governo não consegue reduzir seus gastos, aumentam as incertezas dos empresários sobre a elevação de impostos sobre energia e preços administrados pelo governo. Ninguém contava que a gasolina iria subir R$ 0,41 por litro", considerou o professor.
Desafios imediatos
Balistiero sugere que os empresários devem entender que o tamanho do Estado será menor. "É preciso desacostumar da presença do Estado. Não há dinheiro", avisa. Como sugestão o professor identifica a necessidade de gestão dos serviços públicos. "O governo tem sido ineficiente", afirma.
Já Silvio Paixão, da Fipecafi, diz que a alta da tributação não é solução. "O País é o celeiro do mundo, mas precisa incentivar seu setor de serviços em áreas como pesquisa em nossas condições climáticas, e no turismo, o brasileiro é simpático ao estrangeiro", sugere.
Fonte: DCI São Paulo