Governo quer retirar o leite do Mercosul

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A seca prolongada, que reduziu a produção do agronegócio brasileiro, não é o único problema enfrentado pelos produtores de leite do País. A concorrência excessiva do leite importado da Argentina e do Uruguai é outro fator que vem derrubando a rentabilidade desse negócio. Em Pernambuco, por exemplo, a produção diária da bebida diminuiu em um milhão de litros por conta da junção desses fatores. Por isso, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, passou a defender a retirada do leite da lista de produtos beneficiados pelo livre comércio do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

 

Na 51ª Convenção da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Maggi explicou que esta seria uma maneira de reduzir as importações do produto e, assim, elevar o preço do leite nacional. “O Brasil tem acordos comerciais com o Mercosul que permitem a entrada do leite argentino e uruguaio. Só que essas importações derrubam a expectativa de melhora de preço no País. Então, defendo, como uma possibilidade, a exclusão o leite da cesta do Mercosul, como acontece com o açúcar, que não é aceito pela Argentina”, esclareceu Maggi, contando que esta ideia já foi apresentada ao presidente Michel Temer. Ele reconheceu, por sua vez, que obter essa exclusão é difícil. “É uma possibilidade, mas também é uma briga e um desgaste no Mercosul”, comentou.

 

Apesar disso, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite-PE) já se mostrou favorável à ideia. “Na hora em que diminuir a oferta de leite do Mercosul, que é um leite barato e em pó, o produtor nacional poderá subir o seu preço. As fábricas voltarão a usar o leite fluido do produtor regional. E isso é fundamental para o setor, porque muitos produtores já estão trabalhando no vermelho, quase sem condições de continuar com o negócio”, afirmou o presidente do Sindileite-PE, Albérico Bezerra, dizendo que os problemas da seca, que já dura seis anos, só foram agravados com a entrada do produto no Mercosul. “O problema começou quando o Governo liberou a importação sem tarifas, no ano passado. Antes disso, as coisas estavam equilibradas”, revelou.

 

Bezerra explicou que os produtores locais, que já vinham com uma produção baixa por conta dos efeitos da estiagem, tiveram que baixar seus preços para poder concorrer com o produto importado. Hoje, por exemplo, muitos vendem o litro do leite por R$ 1,10, apesar de gastarem cerca de R$ 1,30 para oferecer o produto. Isso porque o leite que vem de fora, normalmente em pó, costuma ser vendido por R$ 15 o quilo, que rende cerca de nove litros de leite UHT hidratado.

 

Segundo o Sindileite, Pernambuco tem 50 mil produtores de leite e pelo menos metade deles passa por problemas financeiros. Afinal, além de não ter mais preços rentáveis, a produção leiteira estadual caiu de 2,5 milhões de litros/dia para o intervalo entre 1,5 e 1 milhão de litros/dia. Mesmo assim, Bezerra garante que a produção nacional é suficiente para abastecer o mercado interno. “A importação não é necessária, mesmo com a produção reprimida, como hoje. Boa parte do leite de Pernambuco, por exemplo, vai para estados vizinhos como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará”, garantiu.

 

 

Fonte: Folha de Pernambuco 


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