A aceleração dos preços dos alimentos na segunda prévia de janeiro do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) chamou a atenção, mas reflete apenas uma volta à normalidade na dinâmica sazonal desses produtos, afirmou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) André Braz.
Mais cedo, a FGV informou que o IGP-M teve alta de 0,82% na segunda prévia de janeiro, após o avanço de 0,88% na segunda prévia de dezembro.
A dinâmica sazonal dos preços dos alimentos, normalmente, inclui encarecimento no verão, período de chuvas na maior parte do País, e barateamento no inverno, especialmente no caso da comida in natura. "2018 está dentro da normalidade", afirmou Braz. Por isso, a tendência é que os alimentos devolvam, no meio do ano, as altas observadas agora.
O pesquisador cita uma série de dados da segunda prévia do IGP-M de janeiro para sustentar que se trata de um comportamento típico. Em primeiro lugar, a inflação ficou concentrada nas hortaliças e frutas, culturas de ciclo curto de produção, cujos preços são mais voláteis e suscetíveis às variações climáticas. No atacado, o subgrupo "alimentos in natura" acelerou de -1,85% para 3,82%, enquanto o subgrupo "alimentos processados" desacelerou de uma alta de 1,05% na segunda prévia de dezembro para um avanço de 0,48% na segunda prévia de janeiro.
Mesmo nos alimentos in natura, chamam a atenção poucos itens com altas muito expressivas, como é o caso da batata inglesa e do tomate, únicos com variação positiva na casa de dois dígitos, segundo Braz. "Daqui a pouco, esses preços devolvem as altas", afirmou Braz.
Além disso, alguns itens alimentícios estão entre as principais contribuições negativas do IPA-M, subíndice que mede os preços no atacado. Os ovos passaram de 0,28% na segunda prévia de dezembro para -3,24% na segunda prévia de janeiro, enquanto o leite in natura desacelerou de -0,46% para -1,37% e a carne de aves passou de -1,37% para -2,25%, sempre na mesma comparação. Braz destacou ainda o açúcar cristal (de 5,35% para 1,31%), a carne suína (de 0,99% para -0,19%) e o óleo de soja (de 2,37% para -1,53%).
Gás de cozinha
Segundo Braz, a revisão da política de preços do gás de cozinha, o GLP de uso residencial, pela Petrobras, não deverá criar grandes problemas para a inflação, mas poderá ter efeitos na percepção das famílias de mais baixa renda sobre os preços.
Mais cedo, a Petrobras anunciou a revisão da política de preços do GLP de uso residencial e a redução, a partir de sexta-eira, 19, de 5% nas refinarias. A nova política mudou a frequência nos reajustes, que passou de mensal para trimestral.
Segundo Braz, a menor flutuação dos preços protege o consumidor. Em termos de percepção, preços mais estáveis por períodos maiores ajudam. "O consumidor consegue fazer um melhor juízo sobre o valor do bem e sobre suas tendências", afirmou o pesquisador.
Do ponto de vista prático, porém, a demora de três meses para repassar as variações de custo, incluindo cotações internacionais do petróleo, não deverá resultar em represamento de preços. "Não acho que vá criar grandes problemas para a inflação", disse Braz.
De acordo com o pesquisador, o gás de botijão pesa cerca de 1% na composição do IPCA, diante de em torno de 3,4% no caso da conta de luz. O preço é mais sensível para as famílias de baixa renda, que em geral não possuem acesso ao gás encanado e que dedicam maior parcela do orçamento a esse gasto essencial.
Fonte: DCI São Paulo