Economistas entrevistados pela reportagem do DCI acreditam que a aceleração de abril apresentada nos resultados dos índices de inflação seja um fenômeno pontual. Nos próximos meses, segundo as fontes, haverá uma desaceleração seguida de estagnação. "Essa tendência deve permanecer até o meio do ano, e a Selic deve chegar mesmo a um dígito, entre 8,5% e 9,5%, o que é animador para o setor industrial", explicou o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Antonio Colangelo.
Mauro Calil, educador financeiro do Centro de Estudos Calil &Calil, disse que esse não deve ser um movimento consistente nos próximos meses e que a inflação deverá ficar em 4,5%. "Esse aumento deve gerar cautela das autoridades monetárias, mas antes das próximas reuniões do Copom devemos esperar uma redução das taxas de inflação."
Os resultados do IPCA divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última semana mostram que a alta de 0,48% em abril não deve ter um impacto tão forte, disse Colangelo. De acordo com ele, o aumento já era esperado, mas não deve ser consistente, "uma vez que o Copom voltou a baixar a taxa Selic e, se fosse o contrário, o Copom iria manter a taxa."
O aumento de 0,28 ponto percentual acima da taxa de 0,20% registrada em março fez com que o índice fosse igualado ao resultado do primeiro mês deste ano. Segundo Eulina Nunes, coordenadora do instituto, o fato se deu pela concentração de reajustes pontuais. O acumulado no ano fechou em 1,72%, ficando abaixo da taxa de 2,08% relativa a igual período de 2008. Considerando-se os últimos doze meses, o resultado situou-se em 5,53%, também abaixo dos doze meses imediatamente anteriores (5,61%).
Para ela, o avanço dos preços de itens como cigarros (14,71%), serviços domésticos (1,83%) e remédios (2,89%) foi importante, pois apresenta grande peso no consumo das famílias brasileiras. "Os cigarros tiveram o maior avanço devido à elevação do IPI e do PIS/Cofins. Os remédios subiram devido ao reajuste sazonal", ressalta a coordenadora.
Segundo Calil, o aumento do salário das empregadas domésticas é um dos fatores que mais influenciaram o índice, "uma vez que nos centros comerciais como São Paulo e Rio de Janeiro, o salário mínimo é superior ao salário nacional". Contudo, o governo pode ainda diminuir o preço dos combustíveis, o que poderia alterar o valor do índice.
O Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), divulgado também na semana passada, registrou baixa de 0,15% em abril, menos marcada do que aquela apurada um mês antes, quando recuou 0,74%. No acumulado do ano, registra-se queda de 1,07% e pode ser verificado um crescimento de 5,38% em 12 meses.
Para Colangelo, o impacto no resultado e o decréscimo menos acentuado dos preços do atacado mostram que "devemos ter um aumento de vendas e que aparentemente estamos passando ao largo da crise. No entanto, teremos uma retração nos preços, o que relaciona o mercado sem risco de inflação, mas teremos insegurança na demanda".
Os demais índices que compõem o IGP-M, como o Índice de Preços por Atacado (IPA), caiu 0,44% em abril, seguindo decréscimo de 1,24% em março, em razão do produtos agropecuários, que subiram 0,84%, invertendo a direção tomada no terceiro mês deste ano, de avanço de 2,82%. Os produtos industriais baixaram 0,85% após redução de 0,72%.
Por sua vez, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP-M, foi de 0,43% para 0,58% de acréscimo entre os meses de março e abril. O grupo Alimentação contribuiu para esta aceleração do índice ao deixar um avanço de 0,60% para uma elevação de 1,13% na passagem de um mês para outro.
No ramo Alimentação, segundo a FGV, os destaques foram os itens carnes bovinas, que passaram de 3,52% para 0,90% negativos, hortaliças e legumes (3,68% para 5,46%), laticínios (0,41% para 2,01%) e frutas (3% para 4,49%).
Depois de diminuir 0,17% em março, o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), representativo de 10% do indicador geral, declinou agora apenas 0,01%. O indicador relativo a Materiais, equipamentos e serviços cedeu 0,33%, contra baixa de 0,39% no mês passado, e o índice Mão de Obra subiu 0,37%, seguindo ampliação de 0,10%.
Índices de Varejo
A inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) acelerou novamente na abertura de maio e ficou em 0,57%. A taxa acabou 0,10 ponto percentual acima daquela apurada no fim de março, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Cinco dos sete grupos do índice tiveram aceleração nesta semana. O produto que registrou a maior inflação foi batata-inglesa, que subiu 25,12% na semana encerrada em 7 de maio, ante 26,18% na semana anterior. O cigarro foi o segundo item com maior alta, de 10,97%, frente a 7,48% na última semana de abril.
De acordo com Calil, a grande pressão se deu pelo aumento das hortaliças e dos cigarros: "O governo aumentou a alíquota do IPI no mês de abril como uma forma de compensar os incentivos fiscais oferecidos a outros setores".
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para a camada da população com renda de um a seis salários mínimos (R$ 465 a R$ 2.790), cresceu 0,55% em abril, seguindo alta de 0,20% um mês antes. No quarto mês de 2008, o indicador subiu 0,64%, informou o IBGE.
No acumulado do ano, o INPC avançou 1,71%. Em mesmo intervalo do ano passado, teve ampliação de 2,34%.
Dentre os índices regionais, Porto Alegre apresentou o maior índice regional, de 1,05%. Em sentido contrário, a menor leitura regional ficou com Salvador, de deflação de 0,08%.
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), calculado pelo IBGE em convênio com a Caixa Econômica Federal, subiu 0,32% em abril, ante alta de 0,94% registrada no mês de março.
De acordo com Calil, a desaceleração pode ser "explicada pelo recuo das duas componentes do índice, material de construção e mão de obra, destacando-se esta última pelo ritmo menor de reajustes salariais nos estados". Até o mês passado, o Sinapi acumula alta de 1,98% em 2009 e de 11,62% nos últimos 12 meses.
O custo nacional da construção civil por metro quadrado passou de R$ 688 em março para R$ 690 em abril, sendo R$ 403 relativos aos gastos com material de construção e R$ 286 à mão de obra. A parcela do material variou 0,24% no mês passado, ante 0,71% no período anterior. Já o componente mão de obra "também apresentou forte desaceleração", passando de 1,28% em março para 0,43% em abril.
Para Colangelo, o ritmo de crescimento foi menor, pois há uma retração de demanda. "Pelos balanços das empresas de construção divulgados em abril, os lucros estão em queda e com isso o preço dos imóveis e dos aluguéis deve cair. Além de o governo ter de renovar a redução de IPI para material de construção, para estabilizar o ano", concluiu.
Veículo: DCI