Os dados da balança comercial divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) mostram que as exportações para a Argentina apresentaram queda de 19,42% no primeiro trimestre de 2009 e queda de 21,60% nas importações, em relação ao mesmo período de 2008. E é por este motivo que o presidente da União Industrial Argentina (UIA), Héctor Mendez, veio ao Brasil para uma reunião com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
No que tange aos produtos manufaturados, a diferença é mais gritante. Nos três primeiros meses do ano, houve uma redução de 43,9% nas exportações brasileiras para a Argentina e de 22,2% no sentido contrário.
Apesar da queda na quantidade exportada e também no valor agregado dos produtos, os dados mostram que houve um aumento no superávit na comparação entre os primeiros trimestres deste ano e do ano anterior, ao passar de US$ 2,760 bilhões para US$ 3,010 bilhões.
Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), as medidas protecionistas impostas pela Argentina e os acordos aprovados por ambos os governos, beneficiam somente o comércio argentino. "O Itamaraty deveria ter um pulso mais firme com relação ao país vizinho e enfrentá-lo com medidas bruscas", argumentou.
Na mesma linha de pensamento está o professor de economia da ESPM, José Eduardo Balian, que não concorda com a imposição de barreiras aos produtos argentinos como resposta "O nosso governo tem uma certa fraqueza em negociar com a Argentina, temos que ser mais duros nas negociações. Não devemos colocar barreiras em produtos argentinos, mas temos que impor algumas condições de troca."
Encontro
Durante encontro entre os presidentes da Fiesp e da UIA, na sede da federação, foram discutidas medidas para melhorar o comércio bilateral entre os países. Nesta, as duas entidades chegaram a um acordo sobre dois pontos básicos, o primeiro que o Brasil deverá reconhecer que nos setores em que a produção argentina for autossuficiente para abastecer seu mercado interno, o país dará preferência aos seus próprios produtos, e o segundo que nas importações, a Argentina deve priorizar o Brasil, respeitando o Mercosul e evitando desvio de comércio.
Méndez concorda que o primeiro ponto básico deve ser perseguido. "É legítimo que cada nação se defenda, mas queremos, sim, encontrar soluções coletivas e acordos como sócios", afirmou.
Os dois representantes utilizaram um estudo que informava quais áreas são deficitárias nas relações comerciais entre os países, e foram encontrados dez setores contenciosos dentro da pauta de importações da Argentina como: móveis, têxteis, calçados, autopeças, máquinas agrícolas, linha branca, leite, aerossol e trigo, nos quais a Argentina não é autossuficiente, ou seja, poderia abrir espaço para a compra do Brasil."Nós não podemos aceitar uma queda das exportações brasileiras para a Argentina e um aumento das importações argentinas provenientes de terceiros países, seja da China ou de outra nação", concluiu Skaf.
Ao ter esses dados, Héctor Méndez afirmou que irá começar uma pesquisa com informações estatísticas dos produtos que a Argentina necessita importar e que as indústrias argentinas "devem passar a privilegiar nas compras dos países do Mercosul, principalmente o Brasil". Ele enfatizou que foi com este objetivo que foi elaborado o acordo de mercado comum.
O presidente da Fiesp também pediu atenção especial e esforços ao governo argentino para a liberação das licenças de importação que castigam diversos produtos e setores brasileiros e Méndez, se comprometeu a iniciar um diálogo com o governo argentino para priorizar o Brasil na pauta de importações do seu país."Nós queremos criar um marco geral para conter os problemas comerciais e a situação de conflito nas negociações [entre os dois países]", disse Méndez.
Segundo Roberto Segatto, a origem do problema é a crise financeira global, "onde pudemos perceber a queda dos negócios e a retração forte que tem havido nas importações mundiais".De acordo com Balian, o fato dos argentinos comprarem produtos chineses ao invés de comprarem produtos brasileiros mostra uma fraqueza no Mercosul e uma fragilidade no comércio entre os países. "Esse ponto em questão deve ser analisado com cuidado, principalmente pelos argentinos, uma vez que o comércio bilateral é muito importante para as duas balanças. E a inexistência ou um abalo comercial seria muito prejudicial."
Méndez assumiu a presidência da entidade no mês passado e, segundo uma fonte a par do assunto, teria um posicionamento menos radical com a questão do protecionismo do que seu antecessor, Carlos Lascurain, o que poderia favorecer as relações com o Brasil.
Outra expectativa é com o resultado das eleições parlamentares de junho, que poderá mudar o curso do comércio entre Argentina e Brasil. O governo de Cristina Kirchner vem sendo duramente criticado no mercado internacional pela adoção de uma série de medidas contra a entrada de produtos estrangeiros, principalmente os brasileiros.
Para finalizar, o professor afirmou que uma das poucas medidas possíveis para aumentar o comércio bilateral seria a redução de tarifas dos produtos. "Mas os argentinos não estão dispostos a fazer essa concessão", conclui.
Veículo: DCI