O investimento na indústria brasileira no primeiro trimestre do ano - calculado pela produção de vens de capital no período - sofreu queda de 20,8% na comparação com o ano anterior, registrando o primeiro recuo após 22 altas trimestrais, apontou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A redução é, ainda, a mais significativa desde 1996, quando o setor, que inclui máquinas e equipamentos - termômetro dos aportes industriais - caiu 29,7%. Segundo projeção da Tendências Consultoria, o setor de máquinas e equipamentos deve fechar o ano com recuo de cerca de 15%.
"A queda na produção de bens de capital vem se acentuando, porque é um segmento que reflete diretamente a decisão de adiamento dos investimentos em função da crise econômica. No início desse período ruim, era o segmento que menos sentia, só que os efeitos estão chegando depois", afirmou o coordenador da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, Silvio Sales. A fabricante de máquinas para o setor moveleiro, Crippa, está trabalhando com cerca de 40% de sua capacidade. "Os bancos estão extremamente seletivos. Eu tenho muitos clientes querendo investir, mas não conseguem o crédito", afirmou o diretor da companhia, Francisco Crippa. Segundo o empresário, o faturamento da empresa já despencou 70% no trimestre.
A mesma retração está sendo sentida pela Yaskawa, fornecedora para os setores de mineração e siderurgia, que já sentiu queda de 50% de seu faturamento e hoje trabalha com 70% de ociosidade. "A queda está muito forte e olhando friamente esse é um ano perdido", afirmou o diretor da empresa, José Rubinato. De acordo com o executivo, apesar da empresa visualizar oportunidades para o segundo semestre, a queda apresentada será suficiente para o ano terminar com saldo negativo. "Dependemos do desempenho da mineração e siderurgia, então teremos que esperar a recuperação deles para conseguirmos nos recuperar", disse.
"A conjuntura está muito complicada para o setor. A ociosidade das empresas está alta e isso afasta investimentos", afirmou o analista da Tendências, Alexandre Gallotti. Além dos aportes nacionais, o analista aponta para a queda de 37% das exportações de máquinas e equipamentos no primeiro trimestre. Hoje, a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) divulga o resultado oficial referente ao trimestre passado.
A queda dos investimentos da indústria do País foi confirmada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que mostrou que o investimento das indústrias este ano vai somar R$ 81,1 bilhões, o que significa uma queda de 20,9% ante 2008.
"Essas previsões podem até ser consideradas otimistas", garante José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do departamento responsável pela pesquisa. "As estimativas dos empresários foram feitas com base em previsões do PIB feitas por analistas do mercado financeiro em março, quando se previa o crescimento do PIB de 1,2% para este ano. Agora, as estimativas são de retração da economia, o que significa que a retração do investimento industrial pode ser ainda maior."
O levantamento fez também uma divisão por porte de empresas e verificou que, proporcionalmente, as médias indústrias reduzirão seus aportes em maior nível - o segmento será um corte de 31,0%, baixando de R$ 14,1 bilhões em 2008 para R$ 10,4 bilhões. As grandes empresas preveem uma redução de 26,8% este ano, passando de R$ 80,8 bilhões no ano passado para R$ 63,4 bilhões este ano.
Roriz Coelho afirma que as indústrias estão refreando seus investimentos pelo peso da carga tributária e por problemas de falta de acesso ao crédito que, além disso, ainda está caro: "Esse é um dos motivos que inibem as médias empresas. Para elas não há programas específicos de financiamento, que existem para as pequenas. As médias também não têm elevado poder de mercado, como as grandes, e assim não conseguem crédito".
Roriz, que preside a Vitopel, maior empresa de embalagens flexíveis do País, considera que a queda nos investimentos industriais é irreversível este ano
O aporte da indústria nacional no primeiro trimestre do ano - calculado pela produção de bens de capital no período - teve queda de 20,8%, o primeiro recuo após 22 altas trimestrais, segundo o IBGE. Segundo a Tendências Consultoria, o setor de bens de capital deve fechar o ano com recuo de 15%. Pesquisa da Fiesp mostrou que o aporte total das indústrias este ano será de R$ 81,1 bilhões, queda de 20,9% ante 2008. "Essas previsões podem até ser consideradas otimistas", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor da Fiesp.
Enquanto isso, lojas especializadas em brinquedos têm queda de 4% a 6% nas vendas do primeiro quadrimestre. Bmart Brinquedos afirma que apesar das negociações com a indústria, a intenção é adiar as compras que deviam ser feitas entre abril e maio para junho.
Veículo: DCI