Enquanto as cidades brasileiras organizam suas quarentenas e enfrentam isolamentos, os indicadores econômicos mostram o longo caminho a ser percorrido rumo a recuperação.
O ano de 2020 ficou marcado pela intensa saída de capital estrangeiro da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que atraiu muitos investidores em 2019 devido à queda na rentabilidade de aplicações conservadoras.
O fluxo cambial total do ano até 31 de julho foi negativo em US$ 15,8 bilhões, de acordo com o Banco Central. Na opinião de Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as incertezas no mercado em função da pandemia do novo coronavírus e o aumento da desconfiança em relação ao governo estão entre as principais razões deste movimento.
Somado a isso, Solimeo cita também o tombo recorde de 12,3% da indústria, a elevada desigualdade social no país, a queda do Produto Interno Bruto (PIB), o desemprego, a alta no fechamento de empresas e a perda acumulada de R$ 279 bilhões no varejo desde o início da pandemia para justificar a ideia de que “o comércio seguirá tendo dificuldades no pós-pandemia”.
Dados do Ministério da Economia mostram que mais de 351 mil empresas no país foram fechadas no primeiro quadrimestre de 2020.
O economista também destaca setores que apresentam quedas importantes nas vendas, como é o caso dos eletrodomésticos, produtos de beleza, roupas, calçados e acessórios.
Por outro lado, a safra recorde de grãos e o aumento nas exportações fez do agronegócio brasileiro o setor essencial para segurar a atividade econômica, enquanto o restante da economia sofria nos últimos meses.
Com números de vendas que superaram datas importantes, como Natal e Black Friday, o e-commerce passou a representar 12% das vendas do varejo.
Traçando possíveis cenários futuros, Solimeo diz que entretenimento (cinema, teatro e eventos), alimentação fora do lar e turismo (hotéis e viagens) são os segmentos que mais sofrem no momento e também os que devem ter a recuperação mais lenta.
A aposto do economista é que o comércio eletrônico ainda manterá índices elevados com maior volume de empresas investindo neste canal. Do ponto de vista econômico, Solimeo acredita numa retomada lenta, um consumidor mais endividado com a confiança ainda em patamares mais baixos, embora venha crescendo gradualmente.
“O varejo desempregou muito e não vai reempregar na mesma proporção. E muitos empregos serão substituídos pela economia digital”, diz.
Cada vez mais intermediado por tecnologias, o consumo não decolará rapidamente. Mesmo com o afrouxamento das restrições, as pessoas têm medo de retornar à rua ou simplesmente não têm dinheiro para isso.
Nas palavras do economista, o emprego qualificado terá ganhos, mas quem depende da criação de vagas com pouca qualificação sairá prejudicado, já que muitos avanços tecnológicos são poupadores de mão de obra intermediária nesta nova economia pós-pandemia.
O home office, outra tendência intensificada pela pandemia, que exerce forte influência sobre o consumo, deve ser estendida até o fim do isolamento social, mas não acabará com o trabalho presencial. Na opinião do economista, mesmo as empresas que migrarem para o formato a distância terão escalonamentos presenciais, à medida que a crise sanitária melhore retomando uma rotina similar ao padrão anterior.
No sistema bancário, Solimeo diz que a pandemia acelerou a procura pelos serviços digitais, beneficiando as fintechs, empresas simples de crédito e instituições financeiras antenadas com a transformação digital. Neste sentido, projetos como PIX, sistema de pagamentos instantâneos, ganham relevância.
“Vamos gastar dois anos para recuperar nossa economia. Estamos na transição entre um futuro que não chegou e um passado que não acabou”.
Fonte: Diário do Comércio