O setor de comércio se saiu bem diante das dificuldades da crise, mostram os dados de junho do IBGE.
O segmento de hiper e supermercados foi o principal responsável pelos resultados do comércio. Ele foi beneficiado pelo aumento real do salário.As vendas do comércio varejista brasileiro tiveram alta de 5,6% em junho em relação a igual período do ano passado, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o mês de maio, as vendas também aceleraram, com expansão de 1,7% e no primeiro semestre, a alta foi de 4,4% na comparação com igual período do ano passado. Apesar do crescimento, foi o pior desempenho para o período desde 2004.
O sócio sênior da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza, Luiz Goes, lembra que embora os resultados estejam abaixo dos patamares de crescimento dos últimos dois anos, que vinham a taxas de expansão entre 8% e 10%, deve-se lembrar que o País – e o mundo – atravessa um período muito conturbado e nesse cenário, o Brasil se saiu muito bem. "Em economias desenvolvidas, o varejo desacelerou fortemente no primeiro semestre. Nos Estados Unidos, por exemplo, a retração chegou a 9,2% no período e na zona do euro, a 1,3%", comparou o consultor.
Em comparação com junho do ano passado (série sem ajuste sazonal), cinco das dez atividades pesquisadas apresentaram variações positivas no volume de vendas (veja tabela). O segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apresentou variação de 8,2% e foi o principal responsável pelo crescimento das vendas do setor, já que tem o maior peso na pesquisa. No semestre, essa área acumula expansão de 6,8%.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumo Honda, apesar da crise, o setor foi beneficiado indiretamente no primeiro semestre pelo aumento real do salário mínimo, pela recomposição de renda dos programas sociais e pela estabilidade dos preços. "A própria crise ajudou indiretamente o setor, pois as pessoas permaneceram mais tempo em casa, aumentando o o consumo dentro do lar. E, agora, com o aumento de casos de gripe A, esse hábito deverá se manter", disse Honda. Pelos números da associação de supermercados, o setor teve crescimento de 5,27% no primeiro semestre de 2009, em relação a igual período do ano passado.
Crédito – O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emilio Alfieri, lembra que os setores que dependem menos do crédito são os que têm apresentado os melhores resultados de venda. "Analisando os números do IBGE, parece que o País realmente só viveu uma marolinha. Mas quando os segmentos são vistos separadamente, percebe-se que aqueles ligados ao crédito ainda patinam", afirmou. Alfieri diz que, com exceção do segmento de automóveis, beneficiado pela expectativa do fim da isenção do IPI – que foi prorrogada – setores como móveis, eletrodomésticos e materiais de construção apresentaram resultado negativo em junho, tanto na comparação com maio quanto no acumulado do ano. "A crise é de crédito, como comprova a queda na vendas de itens de maior valor. A impressão que fica é que o consumidor brasileiro decidiu comer bem e deixar o resto para depois", disse o economista da ACSP.
Veículo: Diário do Comércio - SP