A valorização do real frente ao dólar norte-americano derrubou as exportações brasileiras na comparação entre o terceiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado. De acordo com as informações da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) por meio do índice Coeficientes de Exportação e Importação (CEI), as exportações passaram de 22,9% para 21,3%, enquanto as importações, na mesma análise, registraram uma forte elevação ao marcar 18,1% no relatório anterior e apontar 19% na leitura atual.
Para Roberto Giannetti da Fonseca, diretor titular de Comércio Exterior e Relações Internacionais (Derex), os dados refletem o aquecimento do consumo doméstico e a valorização cambial, que amplia a competitividade dos produtos vindos de fora. Além disso, ele alertou que a indústria de manufaturados vem gradativamente perdendo espaço no mercado externo para as exportações de produtos básicos.
Segundo Giannetti, a tendência é de que a presença dos importados continue crescendo.
"Em 2011, se mantivermos esse ritmo, poderemos ter déficit comercial", afirma. "Não seria o fim do mundo, mas certamente o País perderia oportunidade de crescimento ao reduzir seu superávit comercial", disse Giannetti.
"O setor exportador de manufaturados está perdendo clientes em função da competitividade menor do Brasil, e nem tanto pelos efeitos da crise. Se nada for feito para reduzir os tributos e custos das exportações e investir na modernização das indústrias o Brasil poderá perder emprego e renda num futuro próximo. É possível dizer que, a cada US$ 1 bilhão exportado, o País gera entre 50 mil e 60 mil empregos."
Para evitar esse quadro, a Fiesp defende junto ao governo o aumento para 7% da alíquota do IOF sobre capital externo; a criação de linhas de financiamento ao exportador, com funding interno e o pré-pagamento do total da dívida externa brasileira, que hoje está em US$ 53 bilhões.
De acordo com a pesquisa, 21 dos 26 setores analisados, registraram queda na participação exportadora no terceiro trimestre, enquanto a participação das importações em relação ao consumo no País, apresentou elevação em 18 dos 26 setores.
A Fiesp aponta que o recuo mais significativo na participação junto ao comércio exterior deu-se na indústria extrativa, onde as vendas caíram de 60,7%, entre abril e junho, para 47,8% entre julho e setembro.
Na avaliação das importações, o setor que ganhou mais espaço foi o de coque, petróleo refinado e álcool ao passar de 6,4% na comparação dos segundos trimestres de 2008 e 2009 para 12,3% na análise dos terceiros trimestres de 2008 e 2009.
O volume de dólares de exportadores que está no exterior, aguardando o momento para o fechamento dos contratos de câmbio, é estimado entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, segundo Giannetti.
Segundo ele, os exportadores têm postergado o fechamento de câmbio, valendo-se do fim da exigência de cobertura cambial, na expectativa de que o dólar tenha alguma valorização e, assim, possam internalizar os recursos num momento mais favorável a eles. "Isso mostra que não são as exportações que estão pressionando o câmbio, mas as operações financeiras", afirmou.
Veículo: DCI