Sharp investe US$ 11 bi em novo modelo de produção

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O novo complexo industrial da Sharp no oeste do Japão é gigantesco em qualquer medida: custou US$ 11 bilhões e ocupa 1,27 milhão de metros quadrados. Mas seu significado é tão gigante quanto seu tamanho. A nova fábrica também representa a prova de fogo para a companhia japonesa de alta tecnologia.

 

A fábrica, considerada a mais cara já construída no Japão, começou a produzir telas de cristal líquido (LCD), em outubro, e as novas TVs da Sharp, que usam uma tecnologia de LCD que economiza mais energia e que estarão à venda nos Estados Unidos em dezembro. A Sharp antecipou em seis meses a abertura da nova fábrica, argumentando que a ajudará a ser mais competitiva. "Quando você tenta imaginar os próximos 10 ou 20 anos, o modelo industrial atual não tem um futuro", diz o diretor da Sharp Toshihige Hamano, a cargo da fábrica em Sakai. "Tivemos de mudar o próprio conceito de como administrar uma fábrica."

 

Localizado na cidade de Sakai, na costa da Província de Osaka, o complexo representa a maior aposta da indústria japonesa até agora para manter a sua competitividade em telas de LCD em relação às concorrentes de caixa abarrotado na Coréia do Sul, fabricante taiwaneses com poucas despesas gerais e a presença constante na China como uma força no campo da fabricação de eletrônicos.

 

O tamanho impressionante da fábrica advém de dois fatores principais. Um é o tamanho do vidro usado para fazer as telas de LCD. A Sharp está usando a "10ª geração" da indústria, placas de vidro tão grandes que permitem à empresa produzir 18 telas de 40 polegadas com uma única placa de vidro - mais que o dobro das oito telas de 40 polegadas por placa que a concorrência ainda usa. Outro fator é que a Sharp decidiu cortar custos transferindo seus fornecedores para o próprio local. Inicialmente, a fábrica vai empregar 2 mil pessoas - cerca de metade da Sharp e o resto dos fornecedores. A equipe completa pode chegar a 5 mil quando a fábrica começar a produzir painéis solares.

 

Ainda não se sabe se faz sentido para a Sharp continuar buscando uma produção cada vez mais sofisticada no Japão, ou como tem feito os concorrentes, simplesmente usar as mesmas técnicas de produção a custos menores em lugares como a China. O analista Atul Goyal, da corretora CLSA, alertou num relatório no mês passado que a empresa está cometendo o erro de "correr atrás da tecnologia" com uma nova fábrica. No passado, esforços como esses de fabricantes japoneses de eletrônicos resultaram em despesas de capital altamente elevadas - e depois os fabricantes foram confrontados pelo apetite limitado por tecnologia de ponta, e acabaram sendo ultrapassados por alternativas mais baratas a seus produtos.

 

Até Hamano, da Sharp, reconhece que a empresa só deu a autorização para a fábrica durante o período de boom na demanda por telas de LCD - e que tomaria uma decisão diferente no mercado atual. A concorrente Samsung já informou que estuda construir uma nova fábrica de LCD com placas de vidro ainda maiores que as da Sharp, enquanto a LG afirmou que planeja construir uma nova fábrica na China com o atual padrão de placa de vidro da indústria.

 

A Sharp anunciou o projeto Sakai dois anos atrás quando a demanda por LCD estava crescendo. Quando o consumo caiu em fins de 2008, a Sharp não cortou custos nem limitou a produção em tempo. Sob enormes excessos de estoque, a Sharp divulgou seu primeiro prejuízo anual em quase 60 anos no ano fiscal encerrado em 31 de março de 2009.

 

A experiência ensinou à Sharp uma lição de que sua cadeia de suprimento precisava ser mais enxuta e sua produção, mais eficiente. Isso especialmente se a fábrica fosse no Japão, onde a alta do iene e a cara mão-de-obra punha a companhia em desvantagem em relação a seus concorrentes asiáticos.

 

A Sharp pretende enxugar a custosa produção de telas de LCD mudando 17 fornecedores e prestadores de serviços externos para dentro da fábrica, para trabalhar como "uma companhia virtual". No passado, a Sharp mantinha os fornecedores não muito longe da fábrica. Agora eles estão todos dentro das mesmas instalações. As remessas são enviadas em tróleis automatizados que se movimentam entre um galpão e outro.

 

Os fornecedores, entre eles a Asahi Glass e a Dai Nippon Printing, construíram suas próprias instalações com verba própria e alugam o terreno da Sharp. Apesar da localização deles dentro da fábrica, a Sharp afirma que seus fornecedores são autorizados a vender para outras companhias.

 

Em Sakai, a Sharp também conectou seus sistemas de computadores com os fornecedores a fim de que alertas de pedidos cheguem imediatamente a eles. No passado, a Sharp mandaria e-mail ou telefonaria aos fornecedores para fazer pedidos, criando um atraso maior.

 

A Sharp não diz quanto economizou, se é que economizou algo, com a fabricação de telas de LCD em Sakai, mas analistas estimam que esteja entre 5% e 10%.

 

A Corning, maior fabricante de placas de vidro para telas de LCD, construiu uma fábrica ao lado da unidade da Sharp em Sakai. A Corning afirma que isso reduziu o tempo total do ciclo de pedidos de uma média de uma a duas semanas para uma questão de horas. Também segundo a Corning, a proximidade reduziu o risco de danos no transporte de enormes folhas de vidro. A Corning temia que fazer a fábrica no local daria a entender que estava "anexando seu vagão" à Sharp. No final, decidiu ir adiante com base em sua confiança nos planos da Sharp em Sakai. "Não há nada como isso em lugar nenhum", diz James Clapping, diretor superintendente da Corning Display Technologies.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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