Walmart fará investimento recorde no Brasil

Leia em 7min

Núñez diz que relevância do País fica cada dia mais forte dentro da rede. A cifra será anunciada na próxima semana

 

Quem é:
Héctor Núñez
Cubano, criado nos EUA, Núñez é presidente do Walmart Brasil desde fevereiro de 2008
Foi vice-presidente de operações da Coca-Cola para a América Central e Caribe e diretor de novos negócios da empresa no Brasil

 

Na próxima semana, o presidente do Walmart, Héctor Núñez, deve anunciar o maior investimento da rede no País. A cifra é mantida em segredo. O Brasil, ao lado da Índia e da China, está entre as subsidiárias que mais recebem dinheiro da matriz. A compra do controle das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar só tornou ainda mais evidente a necessidade de apostar alto no mercado. "A relevância do Brasil no Walmart cresce a cada dia. Tem um país que verdadeiramente está virando um país de classe média", diz Núñez. O executivo também está entusiasmado com o sucesso da operação da internet. Novato na rede, Núñez diz que o Walmart já vende hoje o planejado para meados de 2011. A seguir, os principais trechos da entrevista:

 


Com a compra do controle das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, a distância entre vocês ficou abissal. Como o Walmart pretende contra-atacar?

Não vou comentar ações da concorrência. O que posso dizer é que os nossos investimentos serão bastante agressivos, recordes na história do Walmart no Brasil. Se sua pergunta é: "Estão interessados em fazer aquisições?", sempre estamos abertos para ouvir e ver oportunidades para crescer no Brasil. Hoje, não temos nada sendo avaliado.

 


Nos últimos meses muito se falou de uma eventual aquisição da filial brasileira do Carrefour pelo Walmart. Houve alguma conversa?

Não posso comentar absolutamente nada. O Carrefour tem de cuidar do Carrefour e o Walmart tem de cuidar do Walmart.

 


Como o Brasil está sendo visto pela matriz, sobretudo agora, com perspectiva de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos?

O Brasil sempre foi importante no portfólio geral da empresa. Isso ficou evidente com as aquisições que fizemos em 2004 e 2005. E mais evidente ainda neste ano, um ano de crise, que investimos R$ 1,6 bilhão para abrir 90 lojas. Acho que a relevância do Brasil no Walmart cresce a cada dia. E vai ser evidente quando anunciarmos, neste mês, os investimentos de 2010.

 


O Brasil já está entre os países que mais recebem investimentos do Walmart?

Eu diria que sim. Hoje, China, Índia e Brasil são bem importantes. Argentina começa a deslanchar e crescer mais rapidamente. Chile é uma aquisição nova, onde há uma oportunidade de crescer bastante.

 


Qual é a previsão de crescimento para este ano?

Ainda não tenho os números fechados, mas acho que vamos ter um crescimento acima do ano passado, que foi de dois dígitos baixos (10% a12%). Estou ligado ao Brasil há 16 anos, morando aqui ou não. Este provavelmente é um dos países mais resilientes que eu conheço. E eu já morei em muitos lugares. Eu também acho que o Brasil já passou por tantas crises que essa não vai ser a última nem a primeira. O brasileiro sabe como administrar sua vida com uma crise.

 


O que mais te surpreendeu?

Quando você vê um mundo em crise, as primeiras coisas que começam a sair do radar são itens de maior valor agregado. Mas nós nunca vendemos tantos eletrodomésticos, TVs de plasma e computadores como este ano. Não é bem o que está acontecendo em outras partes do mundo. Mas olhe o Brasil, esqueça até o Walmart. Na maior crise da história, possivelmente dos últimos 80 anos, nunca se vendeu tanto carro neste País.

 


É uma demanda reprimida, não?

Mais do que isso. Você tem uma classe social que realmente evoluiu desde o Plano Real. Tem um País que verdadeiramente está virando um país de classe média. O acesso a crédito há quinze anos era restrito. Hoje, com a crise e apesar de ser ainda muito pequeno, você consegue financiar uma casa em 30 anos entre 8,5% e 10% ao ano de juros. Quem diria? Eu não sou brasileiro, mas conheço bem este País. Eu não tinha pensado nisso. O mundo mudou e o Brasil também.

 


Nos Estados Unidos, o Walmart está travando uma guerra de preços com Amazon. Estão fazendo o mesmo com Americanas e Submarino no Brasil?

Quando entramos no e-commerce, a nossa promessa era ser o primeiro site de preço baixo. E estamos cumprindo nossa promessa. Fazemos pesquisa com mais de 3 mil itens diariamente e mudamos preço o tempo inteiro para assegurar que, de fato, temos o menor preço.

 


Os concorrentes estão indo atrás?

Estão se mexendo. Eu faço questão de visitar lojas o tempo inteiro. Faço a mesma coisa na internet, só que é muito mais fácil, porque faço de casa, no fim de semana. Faço um Buscapé para saber se temos o melhor preço em 20 itens. Se não temos, eu ligo e aviso que temos oportunidade de vender mais barato.

 

Quantas vezes por dia?

Eu faço isso duas, três vezes por dia. E tem de ser rápido. Esse é outro aprendizado importante do comércio eletrônico. As pessoas tomam decisões muito rápido. Um bom atendimento, um bom preço e um bom produto espalham muito rapidamente. E o contrário também. Então, o cuidado com o cliente, com a tecnologia, com o serviço, com o preço, com a mercadoria, é algo constante.

 

Já é uma operação significante?

É significante, está crescendo mês a mês, superando qualquer expectativa que tínhamos. O que estamos vendendo hoje estava previsto para acontecer daqui a um ano e meio.

 

Vão vender alimentos?

Por enquanto, não. Temos uma operação de alimentos no Sul do País - com Nacional e Mercadorama - e que estamos aprimorando para ver se pode avançar para outras regiões.

 

Qual é o perfil desse cliente?

É mais classe AB, mas a classe C começa a entrar de uma maneira importante, porque tem mais acesso a computador, banda larga e crédito.

 

O Walmart sempre foi muito fiscalizado, principalmente por questões trabalhistas. O investimento alto em programas de sustentabilidade é também uma tentativa de melhorar a imagem da rede, que socialmente é vista como vilã?

O que nós fazemos não é por imagem, mas porque acreditamos mesmo, faz parte do nosso modelo de negócios, está dentro de nossas margens de lucro. E fazemos porque acreditamos que, de fato, podemos influenciar de uma maneira muito positiva uma cadeia de valor gigantesca. No Brasil, fizemos pactos sociais com a carne, soja, madeira. Nós não vamos comprar de fornecedores que desmatem a Amazônia. Não quero saber o tamanho do frigorífico, o tamanho da empresa de soja.

 

O Walmart faz buscas no mundo inteiro pelo melhor preço e muitas vezes o sujeito que desmata e burla as leis tem o melhor preço. Como essas coisas convivem?

Vamos buscar o melhor custo sempre, mas dentro da ética, da conformidade, da sustentabilidade, da responsabilidade social, para assegurar que as pessoas que estão trabalhando sejam tratadas com respeito. Nunca vamos comprometer esse lado por custo.

 

Ser econômico também é ser sustentável?

Sem dúvida. As pessoas precisam comprar o que precisam. Ser sustentável é ter o consumo consciente, o funcionário consciente. Hoje, mais de 82% dos nossos funcionários no Brasil têm um projeto pessoal de sustentabilidade registrado na companhia. E nós medimos cada um deles.

 

Qual é o seu?

A redução do consumo de água. Eu, por exemplo, adoro tomar banho. E ele hoje dura cinco minutos, dez. O interessante é que esse plano vai desde consumo de água, de energia, de emagrecer 15 quilos, de parar de fumar, de comprar. Se todas as pessoas aderem, você começa a influenciar pai, esposa, filhos.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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