Trigo: De olho na Argentina, companhia quer investir cerca de R$ 80 milhões em armazenamento no Brasil
Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, o maior da América Latina, fala com orgulho do que considera as vantagens competitivas de seu negócio. O moinho de trigo fica localizado em Santos, com ponto de atracação no porto, trabalha com grandes escalas - tem capacidade de processamento de 2,5 mil toneladas diárias de trigo, além de deter uma expertise nada desprezível, fruto de mais de 50 anos no mercado. Todos esses diferenciais, afirma, levam a um custo de 8% a 10% menor do que o de seus concorrentes.
Mas a eficiência ainda está longe do limite que pode alcançar, admite. Por isso, depois de engavetado por um ano, o projeto do Pacífico de crescer em armazenagem começa a sair do papel. Pih resolveu no fim do ano dar o pontapé num investimento de R$ 80 milhões - 70% bancados com capital próprio - para otimizar seu custo de aquisição de matéria-prima.
Com maior capacidade de estocagem - que será ampliada de 105 mil toneladas para 200 mil - , a empresa poderá adquirir o trigo na melhor época do ano, ou seja, na safra, quando o cereal de boa qualidade é encontrado em abundância e a preços mais atrativos. "Assim, minimizamos os riscos da irregularidade na oferta, sobretudo da vinda da Argentina, nosso principal fornecedor", explica.
Apesar de não ser brasileiro nato, Pih - que é chinês - tem lá suas diferenças com o país vizinho, e não é por rivalidade no futebol. É na Argentina que está o principal fator de risco para os negócios do empresário. A instabilidade na oferta de trigo da Argentina é o principal estímulo para o investimento em armazenagem. E a decisão se planos futuros sairão ou não do papel também depende do humor dos vizinhos, diz Pih.
Ele se refere ao projeto também engavetado de ampliar o parque industrial das atuais 2,5 mil toneladas diárias de capacidade de moagem para 3,7 mil toneladas. Esse projeto está diretamente ligado ao terceiro plano da empresa, o da verticalização, com a instalação de uma indústria produtora de massas, biscoitos e, em seguida, pães. "Os dois juntos iriam me custar US$ 400 milhões. O terreno da fábrica já está até comprado, fica na via Dutra, com logística integrada com o nosso moinho, em Santos. Mas, daqui a um ano, vamos avaliar o mercado".
E quando se refere ao "mercado", Pih quer dizer um especificamente: o argentino. "Se fôssemos falar em riscos, diria que o maior é o de a Argentina, em uma próxima etapa, também subsidiar a exportação de suas massas e biscoitos. E isso é difícil de prever e, se acontecer, será difícil de competir", lamenta.
No Brasil, já há um número suficiente de empresas de massas, biscoitos e pães, diz Pih. Mas isso não parece problema. "Temos os custos mais baixos, até mesmo pelas condições de logística e escala do nosso negócio", garante.
E esses diferenciais atraem muitos interessados em comprar o Moinho Pacífico, afirma Pih. "Por isso, toda hora há um rumor. Somos um ativo muito interessante para quem quer entrar no Sudeste", diz, desconversando sobre quem seria o próximo pretendente. Ele dissipa rumores de que queira se aposentar ou de que esteja em dificuldades financeiras. "Não divulgamos balanço justamente para não dar subsídios aos concorrentes. Mas nossas finanças vão muito bem", diz.
O negócio do Grupo Pacífico é genuinamente familiar e, além do moinho, também se estende aos setores imobiliários e de mercado de capitais. O grupo tem terrenos em São Paulo que somam 2 milhões de metros quadrados, localizados em um raio de 40 quilômetros "da Praça da Sé", como se refere o próprio Pih. "Nossa família passou a investir em imóveis como um hedge inflacionário, ainda na época em que a inflação no Brasil era de 2% ao dia", relembra.
Em 2008, o negócio saiu da compra e venda de terrenos e literalmente se verticalizou. A empresa fez parceria com uma construtora em um projeto de oito torres residenciais em São Bernardo do Campo. "Estamos estudando outras parcerias", avisa o empresário.
Veículo: Valor Econômico