Brasileiros são exemplo para o varejo no mundo

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Na principal feira, realizada pela 99ª vez em Nova York, práticas de empresas nacionais são citadas como tendência a ser seguida

 

Luiza Trajano, presidente da rede varejista Magazine Luiza, há oito anos faz as malas no começo de janeiro e preparase para deixar o calor de Franca, no interior de São Paulo, e enfrentar a fria Nova York. Seu destino: a maior feira de varejo do mundo, o Retail’s Big Show, organizada há 99 anos pela Federação Nacional de Varejo dos Estados Unidos (NRF, na sigla em inglês), que aconteceu na semana passada.

 

Luiza é do grupo de participantes caxias, que visita cada estande, assiste o máximo de palestras e anota as principais tendências para colocá-las em prática no Brasil. Compras? Praticamente não dá tempo, apesar de ela jurar que sempre leva algo para os netos. No evento deste ano, porém, as coisas estão um pouco diferentes. As anotações de Luiza rarearam. O motivo: pela primeira vez, são exemplos brasileiros que lideram as tendências que, espera-se, vão nortear o comportamento do varejo mundial
nos próximos anos.

 

O Magazine Luiza, assim como a Livraria Saraiva e a Cacau Show, estava entre as atracões principais do evento. Os destaques: modelo de atendimento, expansão agressiva e investimentos em multicanais de venda. Parece exagero? De fato. Mas uma nova realidade foi desenhada no mercado varejista. “Entre os palestrantes internacionais, ficava até mal quem não falasse do Brasil como oportunidade de negócio, soava desinformação”, contou Marcos Gouvea de Souza, presidente da consultoria GS&MD, que levou um grupo de 180 executivos para a feira.

 

Além da GS&MD, delegações de executivos da Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop), Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e Grupo Cherto fizeram com que o Brasil tivesse o maior número de participantes, juntamente com o Canada, com 27% do total de estrangeiros. Neste ano, cerca de 600 brasileiros, seguiram os passos de Luiza Trajano rumo a Nova York.

 

Frente a este publico, nenhum palestrante quis passar vergonha. Solução para aumentar a rentabilidade das empresas americanas? Expandir para os mercados emergentes, como o caso doWalmart no Brasil, afirmou o presidente da J.C Penney, Allen Questrom. Exemplo de empresas que estão tendo sucesso no varejo on-line? Em meio aos tradicionais, como Amazon, o modelo de negócio do Submarino, disse Sucharita Mulpuru, da consultoria Forrester. Novos players do varejo que estão saindo de países emergentes? O Boticário, rede de franquias brasileira, é um dos que tem maior potencial para internacionalização, segundo Ira Kalish, diretor global da Deloitte Research.

 


Luiza ficou surpresa com a exposição das empresas nacionais. “Até então a gente estava fora do mapa.”. As dificuldades em acreditar no potencial brasileiro mostram que as empresas têm um novo desafio. “O americano está preparado para se posicionar com o sucesso, mas em momentos de dificuldades eles não sabem o que fazer. O caso do Brasil é diferente, não estamos acostumados com o sucesso, mas vamos ter de lidar com isso”, afirmou Acacio Rosa Queiroz Filho, presidente da Chubb do Brasil, que participou do evento.

 


Lidar com o sucesso, por outro lado, não significa jogar para baixo do tapete as questões que ainda prejudicam o crescimento. Se as empresas brasileiras se destacaram como modelos de adaptação, resultado de um penoso e por vezes rentável aprendizado nos períodos de hiperinflação, ainda têm dificuldade em alguns quesitos, entre eles a tão falada sustentabilidade. “O varejo brasileiro ainda está longe de realmente abraçar a sustentabilidade. Todos estão na fase de testes”, diz Luiza Trajano. “Tenho até vergonha de falar que estou investindo em sustentabilidade se não consegui reduzir nem o consumo da minha casa.” A estratégia do Magazine Luiza é educar os funcionários e para isto vale até incentivo para os colaboradores que mantém as plantas do escritório vivas, conta a empresária. “Ainda temos a questão logística, que tem um grande impacto, além das embalagens, que não começaram a se adequar para a nova realidade”, diz.

 

Mas não é só neste quesito que ainda é possível aprender muito com as empresas americanas. A empresária afirma que em relação à organização de processos e objetividade, design de lojas e inovação, as redes americanas ainda se destacam. “Mas nós somos melhores em colocá-los em prática”, diz Luiza, que não esconde o sorriso de contentamento. Marcos Gouvea concorda: “O que passamos nos últimos 10 anos no varejo brasileiro equivale ao crescimento de 50 anos. Hoje não é possível só pensar na evolução dos negócios lá na frente. Podemos pensar grande.”

 

PONTOS ESTRATÉGICOS

 

Redes americanas continuam a se destacar mais do que as brasileiras em organização, objetividade, design e inovação.

 

As empresas nacionais ainda engatinham quando se trata de temas como a sustentabilidade, diz Luiza Trajano, do Magazine Luiza.

 

País deve atrair concorrentes

 

Companhias internacionais podem se interessar por farmácias, vestuário e conveniências

 

Os setores de materiais de construção, varejo de vestuário, farmácias e conveniências são as apostas de Marcos Gouveia de Souza, presidente da consultoria GS&MD, como principais vetores de atração de empresas internacionais. E se engana quem imagina que os Estados UNidos serão o grande emissor de empresas. Este movimento já começou com a América Latina à frente, com a entrada da chilena Cencosud e da mexicana Elektra no Brasil. E, mais recentemente, com a expectativa da abertura da primeira loja da rede de departamentos mexicana Coppel. “Novas redes de supermercados e eletros só devem entrar no país se acontecer uma fusão global, pois nestes segmentos o varejo brasileiro já está muito maduro”, explica.

 

Este movimento não parece preocupar empresas do setor. Luiza Trajano, presidente da rede Magazine Luiza, afirma que a entrada de empresas não a preocupa, uma vez que concorrência acirra a competição, mas também traz novas práticas para o mercado. “As empresas brasileiras já entenderam o jogo domercado, porque foram expostas à concorrência muito antes de outros países como China, Rússia e Índia E não têm com o que se preocupar”, concorda Gouvea

 

Nestes mercados, as empresas nacionais dominam a produção, mas não têm tradição de marcas e distribuição de produtos internos. “No Brasil, já temos a valorização do produto interno, que é tão competitivo quanto o de outros países.”

 

O consultor afirma que o pais já tem muito o que ensinar para o mercado externo. As empresas estão apostando emalta tecnologia para melhorar a experiencia de compra, como painéis touch screen nas lojas, mas esquecem de incorporar o relacionamento humano no modelo de negócio. “E isso as empresas brasileiras tem muito o que ensinar”, afirma.

 

Veículo: Brasil Econômico


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