No interior de São Paulo, o segredo da Predilecta

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Sexta-feira, 12 de setembro, duas horas da tarde. Em São Lourenço do Turvo, a 330 quilômetros de São Paulo, o restaurante Recanto dos Amigos ainda serve o menu de saladas, lingüiça, carnes, arroz e feijão. Come-se à vontade por R$ 7,50, nas mesas cobertas por toalhas de plástico, que se apertam sobre o piso de cimento pintado de preto. Sob os ventiladores nas paredes, apenas os sócios da Predilecta - fabricante de atomatados, goiabadas e outros doces, que emprega metade da população de 2 mil habitantes de São Lourenço - almoçam àquela hora. Aproveitam o momento para estender a negociação com os diretores da Alcan, fornecedora de embalagens. O sócio e diretor industrial da Predilecta, Antônio Carlos Tadiotti, queixa-se da safra magra da sua principal matéria-prima.

 

"Está faltando tomate no mundo", diz ele, enquanto saboreia pedaços de costela frita. "No final de agosto visitei cinco produtores nos Estados Unidos, entre eles a Morning Star e a Rio Bravo, mas com as complicações climáticas deste ano, ninguém tem o produto para oferecer", afirma Tadiotti, que comanda um grupo de três empresas alimentícias - duas fábricas e uma processadora -, responsáveis por um faturamento que deve atingir R$ 500 milhões em 2008. A preocupação tem razão de ser, já que a Predilecta produz a marca própria de grandes varejistas, como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour, e mesmo da maior concorrente, a Unilever, dona da Knorr Cica. 

 

Mas para esse ex-professor universitário de Química, que começou seu empreendimento vendendo blocos de sete quilos de goiabada no Mercado Central de São Paulo, há mais boas do que más notícias no horizonte. 

 

Ex-professor de Química, Tadiotti construiu, em menos de 20 anos, um grupo com receita estimada de R$ 500 milhões
 


Depois de trabalhar por 14 anos na suíça Hero, passando pela matriz e por Brasil, Holanda e Itália, Tadiotti abriu a Predilecta em 1991, com três sócios e US$ 20 mil. No ano passado, a principal empresa do grupo, Predilecta, faturou R$ 240 milhões, cifra que deve saltar 25% este ano, para R$ 300 milhões, impulsionada pela expansão do mercado de alimentação fora do lar (food service). 

 

Hoje, além de ser fornecedora de grandes varejistas, atende desde multinacionais, como a Coca-Cola (com a polpa do suco de goiaba da linha Minute Maid), até grandes fabricantes locais, como Bauducco (goiabada que recheia as barrinhas), passando por redes de alimentação, a exemplo do Habib's (catchup) e da Casa do Pão de Queijo (recheio de doce de leite). Além disso, tem a sua própria marca, Predilecta, que chega ao consumidor por 10% menos que a marca líder. A Stella D'Oro, outra marca do grupo, também disputa o consumidor popular no interior de São Paulo e no Rio de Janeiro. 

 

No exterior, a Predilecta chega a 11 países, fornecendo a marca própria de varejistas e distribuidores, especialmente nos EUA, Porto Rico e Portugal. Cerca de 12% da receita da empresa vem de fora. 

 

As vendas da Predilecta dividem-se entre atomatados (40%), goiabada (40%) e o restante vem se diversificando cada vez mais: polpa de frutas, condimentos, coberturas, conservas, geléias, marrom glacê, doce de leite, achocolatado e pescados (neste último caso, produzido por terceiros). Até o final desse mês, Tadiotti reforça a aposta no food service, com o lançamento do molho pronto para cachorro quente. Também está saindo do forno uma mostarda premium, que sairá em bisnaga para não elevar demais o custo. Outra novidade é o creme de avelã com chocolate, que chegará ao mercado em novembro para concorrer com a Nutella, da Ferrero. 

 

"Temos que lançar produtos de maior valor agregado para compensar a margem do nosso carro-chefe, os atomatados, que rendem apenas 3% de lucro", afirma Tadiotti. Ainda assim, não há muito o que "chorar": as vendas de molho de tomate vão de vento em popa, segundo a Nielsen: o mercado cresceu quase 15% tanto em volume quanto em valor no ano passado, chegando a R$ 622 milhões. A Predilecta está entre as seis primeiras marcas, ao lado de Knorr Cica, Quero, Brasfrigo, Coniexpress e Fugini. 

 

A processadora de alimentos de Morrinhos, em Goiás, foi adquirida há dois anos e recebeu investimentos de R$ 10 milhões no ano passado para expansão da produção. Ela fornece o tomate para as fábricas paulistas. Este ano, na Stella D'Oro, em Itápolis (SP), e na Predilecta serão investidos mais R$ 8 muilhões, para ampliar a capacidade de produção e modernizar o parque já instalado. "Na Stella D'Oro trabalhamos com 70% da capacidade instalada e a planta vai passar a produzir, este ano, para a Predilecta, que já está com 90% da sua capacidade (de 60 mil toneladas/ano) ocupada", diz Tadiotti, que mantém os funcionários em três turnos. 

 

O empresário, que fundou a Predilecta com outros três sócios, afirma que pensa na abertura de capital da companhia dentro de dois anos, quando o faturamento tiver mais "sustança". Um dos antigos associados, Auro Ninelli, marido de sua sobrinha, não está mais no negócio - abriu a própria empresa, a concorrente Fugini. Tadiotti não toca no nome do parente, mas ao que tudo indica as relações estão cortadas. "Não falo sobre esse assunto", limita-se a dizer. Mas continua firme com os sócios Otacílio Ribeiro, ex-Hero, e José Reinaldo Trevisanelli, um ex-construtor que conheceu quando encomendou o galpão da Predilecta. "Eu o convenci a investir capital de giro no negócio, se quisesse receber pela encomenda". 

 


Veículo: Valor Econômico


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