O Walmart, maior rede varejista do mundo, começou a recolocar nas prateleiras alguns produtos que havia removido no ano passado, após perceber que os consumidores recorreram a concorrentes em busca de uma variedade maior de mercadorias.
A companhia reuniu-se com fornecedores para a discutir a reintegração de alguns produtos e tentar evitar que os clientes se dirijam a outras lojas, afirmou Leon Nicholas, diretor da empresa de consultoria Kantar Retail, que falou com alguns desses fabricantes sobre o assunto. O Walmart, cuja sede fica em Bentonville, Arkansas, informou que faz avaliações periódicas sobre o sortimento de itens.
A varejista voltará a oferecer determinados produtos de saúde e beleza, cereais, brinquedos para animais de estimação e artigos de limpeza, afirmou Nicholas. Em fevereiro, a varejista havia anunciado declínio nas vendas de suas lojas nos Estados Unidos e uma "ligeira diminuição" no movimento de clientes no trimestre encerrado em janeiro.
"O Walmart fez um corte profundo demais e, agora, estão voltando a recorrer aos fabricantes", disse Michel Kantor, executivo-chefe do Promotion Optimization Institute, que treina varejistas e produtores, incluindo alguns fornecedores do Walmart, para trabalhar de forma conjunta em marketing e vendas.
Em 2009, o Walmart reduziu o número de variedades de mercadorias, conhecido como unidades de manutenção de estoques (SKUs, na sigla em inglês), em categorias como roupas de cama e produtos para limpeza de roupa. As lojas nos EUA reduziram os estoques em 7,6%, enquanto as vendas subiram 1,1%. A margem bruta, que é a proporção da receita em relação ao custo das mercadorias vendidas, subiu 73 pontos-base.
"Em alguns casos, estamos recolocando SKUs; é algo evolucionário e contínuo", disse Linda Blakey, porta-voz do Walmart. "Com base nas respostas de clientes, podemos recolocar determinado item nas prateleiras. No fim das contas, queremos ter o que eles querem, a um bom preço." A decisão de recolocar alguns artigos não tem relação com a queda de movimento de pessoas verificado no quarto trimestre fiscal, afirmou.
Dan Schafer, porta-voz da Coca-Cola; Dave DeCecco, porta-voz da PepsiCo; e Chrissy Stengel, porta-voz da Del Monte Foods, fabricante da Meow Mix e Milk-Bone, não quiseram comentar as informações. Tom Forsythe, porta-voz da General Mills, fabricante da marca de cereal Cheerios, disse que não tinha comentários de imediato sobre o assunto.
Nancy Powella, pastora em Tucker, Geórgia, começou a ir ao Walmart com menos frequência após não ter encontrado algumas mercadorias. Desde o fim de 2009, ela reduziu as idas ao Walmart a uma vez a cada duas ou três semanas, afirmou. Antes, costumava ir duas a três vezes por semana.
Nancy, de 61 anos, afirmou ter se dirigido ao concorrente Lowe´s na semana passada para conseguir o produto de limpeza Mr. Clean Magic Eraser, da Procter & Gamble, depois de não tê-lo encontrado no Walmart. Ela começou a comprar fio dental e antisséptico bucal no Walgreen. "Por favor, tragam o velho Walmart de volta", disse. "Eu adorava o amontoado de opções. Sempre pensei que teriam o que eu quisesse. Se eu quisesse uma loja na moda eu iria ao Target."
Recolocar itens é uma forma de dar aos compradores a sensação de variedade que eles querem, disse Nicholas, da Kantar Retail. "Mostra que eles são uma companhia aberta a promover modificações", disse Nicholas.
As vendas nas lojas com mais de um ano de funcionamento do Walmart nos EUA caíram 1,6% no quarto trimestre fiscal. As previsões eram de queda menor, de até 1%. A diminuição no movimento de consumidores nas lojas foi reflexo de algumas interrupções provocadas pela remodelação das lojas, segundo afirmou o diretor de finanças do Walmart, Tom Schoewe, em fevereiro.
O vice-presidente e chefe das lojas do Walmart nos EUA, Eduardo Castro-Wright, vem encabeçando os esforços de remodelação e redução dos excessos de opção nas lojas americanas, com a ideia de manter os clientes que a rede ganhou durante a recessão ao oferecer descontos em alimentos e bens eletrônicos de consumo.
Os fornecedores intensificam os esforços para contratar representantes comerciais que consigam colocar seus produtos de volta nas prateleiras das lojas, segundo Cameron Smith, da empresa de recrutamento de executivos Cameron Smith e Associates. Ele não quis identificar esses fabricantes.
"Eles estão me ligando e dizendo: 'Precisamos contratar alguém que tenha experiência nesta categoria e conheça este comprador - parece que voltamos aos negócios'", disse Smith, que trabalha em Rogers, Arkansas.
O Walmart vem comunicando aos fornecedores que cortou demais em algumas áreas e que quer voltar a receber alguns itens, disse Smith. A varejista percebeu que alguns consumidores visitaram outras lojas e não vão mais ao Walmart para conseguir tudo o que querem comprar, acrescentou.
"Estou tomando conhecimento disso por meio de fornecedores, que chegaram a ficar com apenas uma SKU na loja", disse Smith, que ajuda os fornecedores a contratar gerentes de conta e outros representantes que entram em contato com o Walmart. "Agora, eles voltaram a ter lugar na mesa."
Veículo: Valor Econômico