Para ganhar mercado, o grupo vai reforçar a presença da tradicional marca no País e fazer novas aquisições. Globoaves e Minerva já estão na mira
Quando o grupo Marfrig, gigante do setor de carnes com faturamento de R$ 7 bilhões, pagou US$ 900 milhões pela Seara, em setembro de 2009, não deixou claro o que faria com a marca dona de dívidas de R$ 400 milhões. Como é de seu estilo, calou-se. Passados seis meses, a sua estratégia começa a ser delineada.
Foco no Brasil: o Marfrig quer vender mais itens industrializados da Seara no País e destinar 50% da fabricação para o mercado local
O Marfrig pretende conquistar o mercado em duas frentes: concentrando suas vendas no Brasil e comprando novas empresas. Recentemente, o grupo iniciou um processo de due diligence no frigorífico Globoaves para comprar duas plantas de abate de frango caipira e pato e, dessa forma, levar para casa as marcas Nhô Bento e Germânia. Outra tacada da empresa, comandada pelo empresário Marcos Molina, é a possível aquisição do Minerva, frigorífico de Barretos com vendas anuais de R$ 2,6 bilhões.
Os rumores ganharam força, na última segunda-feira 15, e fizeram as ações das duas empresas subir. Enquanto os papéis do Marfrig saltavam pouco mais de 1%, os do Minerva marcavam uma alta de 8%. A maior beneficiada com o movimento do Marfrig é a Seara, marca com maior potencial do grupo (leia quadro). Espaço para ganhar mercado, aliás, não falta.
Nos últimos dez anos, a marca, até então da americana Cargill, cresceu apenas 245%, enquanto, no mesmo período, a rival Sadia anotou um salto de mais de 4.000%. Apesar de Marfrig e Minerva negarem que estejam conversando, o negócio faz todo sentido. Uma nova empresa formada por Marfrig e Minerva criaria um grupo com 14% do potencial de abate de carnes e aves no Brasil.
A líder JBS tem 19%. “Com essa nova aquisição, a Marfrig se aproximaria de maneira considerável da capacidade do JBS”, diz Lígia Pimentel, da Scot Consultoria. Mas ainda há muito o que fazer. Enquanto Marfrig e Seara possuem, juntas, 7,8% do segmento de congelados de carne no Brasil, a líder Sadia conta com uma fatia de 39%. Os executivos do frigorífico sabem que para fazer frente aos concorrentes é necessário reforçar a Seara. Por isso, nos últimos meses, a empresa passou a rever o modelo de negócios da marca.
Até o final de 2009, a divisão de aves e suínos da Seara exportava mais de 75% de sua produção, com foco em produtos in natura. O Marfrig quer mudar essa proporção e vender 50% no mercado interno e a outra metade no Exterior. É quase o mesmo que suas rivais – a Perdigão, por exemplo, que exporta 43% do que produz. Além disso, pretende aumentar as vendas de itens industrializados como salsicha, linguiça e presunto.
Outra meta do grupo também seria ampliar a distribuição de produtos da Seara para regiões onde a marca atua discretamente, como Norte e Nordeste. Para isso, há um plano de fortalecer uma parceria com redes atacadistas para ampliar a venda em restaurantes e açougues. “São aquisições e alianças que complementam nosso planejamento estratégico e solidificam a base das nossas divisões para uma nova fase de crescimento nos próximos anos”, disse Marcos Molina, no último balanço financeiro do grupo.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro