Uma batatinha salgadinha, vendida embalada em um saquinho colorido estampado com a marca Ruffles, é a campeã de vendas da PepsiCo no Brasil. E é justamente nesse tipo de saquinho de plástico e alumínio que a multinacional ancora um programa inédito de reciclagem. Em menos de dois meses, já atraiu 4 mil pessoas que a cada coleta de 200 saquinhos, recebem R$ 0,02 da PepsiCo.
"As embalagens não precisam ser apenas de salgadinhos da PepsiCo", diz o presidente da divisão de alimentos da PepsiCo para a América do Sul, Olivier Weber, que está animado com a campanha e pretende ampliá-la. Faz parte do plano estampar mensagens nas embalagens informando o consumidor que o material pode ser reutilizado e fechar acordos com cooperativas de catadores de lixo.
Uma parceira importante neste projeto é a empresa americana Terracycle, que chegou ao Brasil há oito meses a pedido da PepsiCo. Ela organiza a coleta das embalagens para a PepsiCo (ver abaixo). A Terracycle envia, então, os saquinhos para a Clodam, que emprega 30 pessoas em Diadema (SP) e produz uma resina plástica a partir dos saquinhos. Não é um processo simples.
Olivier explica que separar os materiais que compõem o saquinho de um simples salgadinho - filmes plásticos e uma folha de alumínio - era praticamente impossível. Mas a indústria de embalagens - no Brasil a PepsiCo tem entre seus maiores fornecedores a Empax, a Tecnoval e a Santa Rosa - conseguiu substituir a folha de alumínio por um spray de alumínio. Esse avanço tecnológico abriu caminho para um programa de reciclagem mais amplo.
Ricardo L. Rogério, da Clodam, diz que a resina plástica que ele produz, a partir de saquinhos de salgadinhos e de garrafas PET, servem para produzir telhas, frascos para detergentes e "displays", aquelas prateleiras usadas pelo varejo para exibir mercadorias. Rogério consegue vender um quilo de resina a partir de material reciclado entre R$ 3 e R$ 4,5. O preço varia dependendo da fluidez e das cores encomendadas. A PepsiCo quer a resina em diversas cores para fabricar as prateleiras.
Nessa fase, entra no circuito a Fábrica de Ideias, que funciona no município de Embú (SP) e emprega 250 pessoas. Seu vice-presidente e sócio, Alexandre Rey Silveira, nos anos 80 fabricava brinquedos de plástico, mas não conseguiu competir com os produtos importados e há 12 anos decidiu fabricar "displays". Silveira está usando a resina da Clodam para fazer as prateleiras para a Pepsico. "Vamos comprar neste ano 20 mil 'displays'", diz Olivier.
Desse total, 5 mil já estão sendo distribuídas no varejo paulista. O restante irá para outras regiões do país. Olivier calcula que a PepsiCo tenha 250 mil "displays" próprios espalhados pelo Brasil. Se consideradas as prateleiras de terceiros, são mais 450 mil.
O preço de uma prateleira desse tipo feita a partir de resina plástica "virgem" - aquela que não é reciclada - pode variar entre R$ 58 e R$ 90, dependendo do tamanho. "Quando usamos a resina feita com material reciclado, esse preço pode cair cerca de 10%", diz Silveira, que começou a trabalhar com material reciclado há um ano.
Por indicação da Cadbury, fabricante inglesa de guloseimas, comprada pela americana Kraft, Silveira participou em 2008 de um projeto organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Instituto Ethos sobre sustentabilidade. "Percebemos que precisávamos ser uma empresa sustentável. Nos perguntamos: e se faltar petróleo, como fazemos?", contou Silveira. Em 2009, a PepsiCo pediu que fosse desenvolvida a prateleira a partir de embalagem de salgadinhos. "Agora, 20% de nossa produção é feita com material reciclado", diz Silveira.
Veículo: Valor Econômico