As frondosas oliveiras da Marquês de Valdueza espalham-se por 200 hectares da fazenda Perales, no município de Almendralejo, no oeste espanhol. Dali, o dono das terras cultivadas por seus antepassados desde 1624, Alonso Álvarez de Toledo, tira 1,2 mil toneladas da matéria-prima de um azeite de oliva "verde".
Misturadas, as quatro variedade de azeitonas produzem um azeite finíssimo, disputado em 28 países por adotar um novo modelo de extração a partir de oliveiras centenárias. O processo, que despreza azeitonas maduras ou perfuradas por insetos, resulta em um aromático azeite capaz de atender aos mais exigentes paladares. De baixíssima acidez, no máximo 0,2%, a empresa usa apenas frutos verdes e faz uma rápida filtragem para evitar oxidação e manter o sabor intenso.
O "blend" multivarietal se encarrega de manter o padrão de qualidade oferecido por um "terroir" único, onde a acidez do solo é compensada pela argila e o calcário. "Essa azeitona verde dá o fator diferencial em nosso azeite. É difícil encontrar algo parecido por aí", afirma o diretor da empresa, o americana John Cancilla.
Nas terras do marquês, primo distante de Alvar Núñez Cabeza de Vaca, o descobridor das Cataratas do Iguaçu (PR), utiliza-se o sistema mecanizado de colheita, onde são máquinas italianas de última geração que "chacoalham" as oliveiras. Como se fosse um "pente", poupa os galhos mais frágeis e eleva a produção em 25%. A colheita do dia é processada até a meia-noite para evitar fermentação. "Aqui, tiramos um suco de sabores da azeitona, não o azeite", gaba-se o gerente agrícola Juan Lozano.
Do início de maio, quando aparecem as primeiras flores, até a colheita de outubro, as delicadas oliveiras são irrigadas por gotejamento. A fazenda de 750 hectares tem 65 mil oliveiras que, após 20 anos de cuidados e carinhos, chegam a render 14 toneladas de azeitonas por hectares. "Assim, com extremo cuidado, elas vão até os 100 anos com boa produção", afirma Lozano.
Os solos ácidos e semiargilosos da Extremadura abrigam o plantio de 700 variedades de oliveiras - a Itália, por exemplo, tem apenas 43. Em baixa declividade, e sem uso de arados, produzem um azeite que dura até sete anos. O processo de armazenagem utiliza o nitrogênio para preservar as mesmas qualidades iniciais. "Mas só embalamos a pedido para não oxigenar", diz John Cancilla.
Em 2009, a Espanha exportou quase € 1 bilhão em azeites. Mas o país é ainda o segundo no ranking de vendas ao Brasil. Por isso, tem reforçado sua estratégia de marketing para vender mais produto de qualidade ao redor do mundo, onde espera desbancar portugueses e italianos. "Nós vendemos aos italianos e eles revendem ao mundo nosso produto", reclama Cancilla. E o Brasil é um dos alvos preferenciais. (MZ
Veículo: Valor Econômico