Frota da AmBev vai atender terceiros

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Se fosse uma empresa à parte, o departamento de logística da AmBev seria a maior empresa privada do ramo no Brasil - no setor de transportes, perderia apenas para os Correios. Ela abastece 1 milhão de pontos de venda, mantém 60 centros de distribuição e entrega a produção de 33 fábricas espalhadas pelo país. A frota, toda terceirizada, é de 3,1 mil caminhões. Caso sua receita fosse contabilizada, chegaria a quase R$ 2 bilhões.

 

A nova ideia da AmBev é aproveitar essa estrutura, até hoje usada em regime de dedicação exclusiva, para transportar carga de terceiros. Segundo o vice-presidente de logística da AmBev, Rodrigo Figueiredo, o plano não é fazer caixa e nem concorrer com o setor privado, mas otimizar o uso da sua estrutura para reduzir custos, a partir da constatação de que existem desperdícios - leia-se, há caminhões viajando vazios.

 

A nova estratégia, batizada "compartilhamento de frota", tenta encontrar outras empresas que possam preencher os caminhões da companhia com sua carga. Um projeto piloto foi lançado em setembro do ano passado com contratos de compartilhamento com a Sadia, em uma rota entre São Paulo e Mato Grosso, e com a Sara Lee, produtora de café, numa rota entre Rio de Janeiro e Espírito Santo. No caso da Sadia, é a AmBev que acabou usando os caminhões da outra empresa, que voltam para o Mato Grosso levando bebidas fabricadas em São Paulo - com os caminhões refrigerados desligados.

 

O plano é fazer o compartilhamento apenas utilizando a frota que atende os trajetos entre as fábricas e os centros de distribuição. No trajeto até os pontos de venda, com muitas viagens e prazos apertados, uma estratégia semelhante seria bem mais difícil. Ainda assim, é um projeto grande: por mês, a empresa calcula em 30 mil viagens de abastecimento dos centros distribuidores. Como parte dessa carga não é retornável - latas e garrafas PET - quase metade dos caminhões voltam vazios.

 

De cerca de 8 mil viagens feitas mensalmente com caminhões vazios, a meta da AmBev é ocupar até 6 mil com cargas de terceiros, o que ajudaria a reduzir custos - o frete, a rigor, cairia pela metade, pois a empresa pagaria apenas uma "perna" da viagem. Ao longo dos últimos seis meses de projeto piloto, a empresa calcula que foram 360 viagens mensais feitas sob o regime de compartilhamento. Com a estratégia, a previsão é de uma economia até o fim do ano de R$ 7 milhões.

 

De acordo com Rodrigo Figueiredo, há novos contratos sendo prospectados - sem revelar nomes, diz que está perto de fechar três novos compartilhamentos com grandes empresas do ramo alimentício -, e se confirmados, devem triplicar o volume de carga atualmente movimentado sob o regime.

 

Segundo o executivo, a ideia não é propriamente nova no mercado, mas a sua execução depende de boas ferramentas de gestão. "Não é algo fácil, é preciso saber todas as rotas, todas as cargas", diz. Ainda que o transporte de produtos de terceiros não gere caixa, acaba fazendo bem às contas da empresa. "É como morar em uma república: ao invés de morar sozinho, a gente reparte", diz o executivo.

 

A estratégia, calcula a empresa, tem potencial de reduzir em 20% o consumo de combustível da empresa - até agora, no projeto piloto, foram 700 mil litros de diesel a menos. Mas tem restrições. Segundo o vice presidente de logística, o compartilhamento tende a ficar restrito à área de alimentos. "Não temos como transportar cimento."

 

Outra medida tomada pela empresa para cortar custos foi melhorar a eficácia de uso da frota atual. A AmBev aumentou as vendas em 10% no ano passado, mas manteve a frota do mesmo tamanho. Isso, diz Figueiredo, só é possível com um controle rígido da movimentação dos veículos. E ainda há outras fronteiras, para economizar: cerca de 1% da carga distribuída aos pontos de venda volta para o distribuidor. Apesar do percentual relativamente pequeno, ampliada a escala de milhares de caminhões, é relevante. A saída é tentar alterar horários de entrega para estabelecimentos específicos, que não podem receber a carga em horário de maior movimento.


Veículo: Valor Econômico


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