A mineira Extrema, na divisa com São Paulo, abriga a Kopenhagen e a Barry Callebaut
Com pouco mais de 27 mil habitantes e 90% do PIB proveniente da produção industrial, Extrema (MG), na divisa com São Paulo, passa por uma saborosa transformação: substitui metalúrgicas por fábricas de chocolate.
"Se eu trabalhasse numa metalúrgica, iria comer o quê? Parafusos?", brinca o engenheiro químico Flávio Venturini, 34, da Kopenhagen. "Aqui é muito mais gostoso", completa.
A partir de amanhã, outras 70 pessoas começam a trabalhar no setor chocolateiro da cidade. Será inaugurada a primeira fábrica no Brasil da Barry Callebaut, a maior produtora de chocolate como matéria-prima do mundo.
A abertura da empresa belga acontece dois meses depois de a Kopenhagen finalizar a transferência de toda a sua produção para Extrema.
Em menos de dez meses, a cidade, que também abriga há 11 anos uma fábrica da Bauducco, viu dobrar o número de pessoas empregadas na indústria alimentícia.
Hoje, as fábricas instaladas têm capacidade de empregar 2.670 pessoas, o equivalente a cerca de 10% da população do município.
O maior desafio de se instalar na cidade, segundo o vice-presidente financeiro da Kopenhagen, Fernando Vichi, é a mão de obra.
"As indústrias disputam a mesma mão de obra. Você entra com alto investimento e às vezes não consegue reter funcionários." Para suprir a demanda, a cidade está "importando" funcionários dos municípios do entorno.
Moradora de Bragança Paulista, a estudante de jornalismo Fernanda Domingues, 19, está há cinco meses na fábrica da Kopenhagen. Mandou currículo assim que soube da abertura da vaga.
A justificativa para tamanha pressa segue a de quase todos os funcionários: foi atraída pelo chocolate.
ATRATIVOS
A ida de empresas para Extrema se deve à localização -pela Fernão Dias, fica a cerca de uma hora de São Paulo- e aos incentivos fiscais oferecidos pela prefeitura e pelo governo do Estado.
Outro fator favorável é o clima ameno, que facilita o manuseio do chocolate, diz Fernando Vichi.
A Kopenhagen planeja produzir 3.500 toneladas de chocolate ao ano na cidade. Já a Barry Callebaut tem expectativa maior: por ano, serão 20 mil toneladas de chocolates, que poderão ser exportados para o Mercosul.
A Barry não faz o produto final, mas fabrica chocolate para produção industrial de outras empresas e também para confeitarias e docerias.
O investimento foi de R$ 28 milhões. A produção servirá como matéria-prima mais acessível para os chocolateiros nacionais. Já os chocolates premium continuarão a ser importados da Callebaut na Bélgica.
Cheiro atrai até quem não é "chocólatra"
DA ENVIADA A EXTREMA (MG)
Moradora de Extrema, Danielle Moreira, 22, engordou dois quilos desde que começou a trabalhar na fábrica da Kopenhagen, há seis meses.
A fábrica não tem cachoeiras de chocolate como no filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates", mas o cheiro irresistível faz até quem não gostava passar a consumi-lo.
"Não comia muito, mas, depois que comecei a trabalhar aqui, passei a gostar", diz Cristina Nascimento, 27.
"A gente precisa lembrar que degustar o chocolate não é comer o chocolate. A gente prova um pouquinho", diz o engenheiro Marco Telles, do setor de qualidade.
Na Kopenhagen, a prova diária é feita por coordenadores de produção. Quando há novos itens ou detecção de problema, a prova é feita por um grupo de 15 funcionários.
Quem é contratado faz um teste de sensibilidade para detectar se consegue distinguir bem os sabores. Os selecionados são treinados.
Por vezes, o chocolate é oferecido como sobremesa no refeitório da fábrica.
Isso explica em parte o peso ganho por Danielle: ela diz que não consumia produtos da Kopenhagen por causa do preço e que passou a comê-los mais depois que entrou na fábrica. (LB)
Veículo: Folha de São Paulo