Brasil alerta Argentina que poderá usar "política de reciprocidade"

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O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, disse ontem que o Brasil poderá adotar medidas de retaliação contra a Argentina - como adiantou o Valor - caso seja confirmado que o bloqueio de caminhões na fronteira entre os dois países extrapola as questões burocráticas.

 

Ele ressaltou que até o momento duas autoridades argentinas - a presidenta Cristina Kirchner e a ministra da Produção, Débora Giorgi - deram garantias de que os contratos firmados com o Brasil serão cumpridos. Mas Barral alertou: "Adotamos a política da reciprocidade. E temos um mecanismo de controle de importações."

 

Para evitar que o Brasil decida retaliar a Argentina por meio do adiamento na liberação de licenças não automáticas na importação de produtos argentinos, o governo do presidente Lula quer que Cristina Kirchner faça uma declaração oficial reiterando que sua administração não impôs barreiras à entrada de alimentos brasileiros em seu território.

 

O secretário afirmou que a declaração oficial é necessária para que sejam esclarecidos os rumores sobre o bloqueio. Barral confirmou que tem recebidos reclamações de caminhoneiros brasileiros que estão sendo parados na fronteira com a Argentina - até o momento, oito veículos não receberam a autorização para entrar no país vizinho. "Não chega a ser uma situação anormal, já que pela região passam 500 caminhões brasileiros diariamente. Estamos averiguando se existe algum problema a mais ou se estamos diante apenas de problemas de documentação, como vistos ou notas fiscais", completou o secretário.

 

Ele também confirmou que importadores argentinos têm cancelado pedidos feitos à indústria alimentícia brasileira e avisado que poderão ter dificuldades para vender seus produtos em território portenho.

 

Barral minimizou as pressões feitas pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, que seria um dos responsáveis por convencer os importadores a deixar de comprar produtos do Brasil e de outros fornecedores. "Não é porque o sub do sub tem uma ideia mirabolante que vamos adotar medidas sem uma avaliação mais profunda", provocou.

 

O secretário brasileiro acrescentou ainda que o comércio entre os dois países aumentou 50% no ano passado e que as exportações brasileiras para a Argentina representam um quarto das importações - deixando a entender que o rompimento comercial seria mais prejudicial para eles do que para o Brasil. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior as exportações brasileiras de alimentos para compradores argentinos somam US$ 2 bilhões, enquanto as importações da Argentina atinge US$ 500 milhões.

 

Barral também admitiu que a crise econômica europeia poderá afetar as relações do Mercosul com a União Europeia. Embora reconheça que "malgrado a crise, as exportações de alimentos para o continente europeu ainda não tenham sofrido abalos", Barral lembra que a aversão ao risco costuma fazer com que os países se tornem mais conservadores nas suas relações comerciais. "Por outro lado, existem analistas que defendem que o comércio com o Mercosul permitirá à União Europeia sair mais rapidamente da crise financeira internacional. A Câmara de Comércio Espanhol (Issex), por exemplo, defende a manutenção das relações comerciais com o Brasil."

 

Para ele, uma das vantagens do país é que metade das exportações para a Europa é de alimentos que precisam ser comprados mesmo em períodos de crise. Mas que em momentos como esse, há riscos para o financiamento por meio da redução do crédito internacional. "Temos que ver qual será a relação estabelecida entre a ambição agrícola e a ambição industrial dos europeus."

 

Ele considera, contudo, que esse momento é praticamente a última chance que Mercosul e União Europeia têm para direcionar o poder comercial para o Atlântico Sul no futuro. "Do contrário, todo esse equilíbrio vai se concentrar no Pacífico", ponderou.

 

Veículo: Valor Econômico


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